"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Van Gogh – Cartas a Théo III

Continuando...

“Sua estadia se prolonga. Nas duas peças que o sacristão da igreja católica lhe aluga, ele instala um ateliê. E este incansável trabalhador não se concederá nenhuma trégua. Amontoam-se retratos e paisagens. Um amor ainda, um noivado, rompido pelos pais da moça... o tempo escoa. Em 27 de março de 1885, o pastor Van Gogh (seu pai) morre subitamente, retornando de um passeio, á porta de sua casa.
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Óleo – Old Tower in the Fields (julho de 1884)

Óleo – Autumn Landscape at Dusk (outubro-novembro 1885)

Óleo - Flying Fox (outubro-novembro 1885)
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Em novembro Vincent volta à estrada. Vai para Antuérpia: acabou-se a Holanda. Em Antuérpia, uma dupla revelação: a arte de Rubens e a arte japonesa, através das estampas.
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A seguir, dois exemplos da força da Arte de Rubens...
as figuras literalmente passam a impressão que vão desprender-se da tela e vir ao nosso encontro, tamanha a perfeição.
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Rubens - Cimon and Pero (Óleo 1630)
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A Morte de Sêneca (1615)
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Voltando ao nosso Van Gogh...
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Óleo – Japonaiserie (setembro-outubro 1887)
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A partir de agora, as estampas se precipitarão. Em março de 1886, ele está em Paris. Reencontra Théo.
Théo é o diretor da casa Goupil, na rua Montmartre. Acolhe o primogênito como uma criança. Ambos morarão juntos, no pequeno apartamento de Théo, rua de Laval, hoje rua Jean Massé.
Vincent permanecerá por dois anos em Paris, de março de 1886 a fevereiro de 1888. Naturalmente, a preciosa correspondência se interrompe. Para recomeçar imediatamente após a separação dos dois irmãos.
E o que faz Vincent em Paris? Primeiro acha que tem que se instruir. Vai humildemente para a escola, entra no ateliê de Cormon. Demonstra uma aplicação quase comovente. Passa seu tempo nos museus, especialmente no Louvre, faz cópias de Delacroix de Millet. Mas logo abandona o ateliê Cormon – sentindo que lá ele não tem o que aprender – e começa a trabalhar ao ar livre, à maneira dos impressionistas que ele tanto admira. Parte pelas manhãs, uma tela às costas, a caixa de cores nas mãos. Instala-se onde melhor lhe aprouver, antes de mais nada o mais próximo possível de seu objeto. Montmartre o seduz muito, suas ladeiras tortuosas, suas tavernas, seus moinhos – tudo o encanta. Ele pinta todos os aspectos desta imensa “aldeia”. A seguir, amplia suas investigações, vai até os limites da cidade, atinge o subúrbio. No verão, ele passa seus dias à beira do Sena, em Saint-Cloud ou Neuilly.
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Óleo – Montmartre: Quarry, the Mills (Paris,outono 1886)
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Óleo – Skull (Paris, 1887-1888)

Óleo – The Seine Bridge at Asnières (Paris, Summer 1887)
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Às vezes vai ao encontro de seu irmão no escritório dele; mas a esta casa acadêmica ele prefere a lojinha do “pai” Tanguy, este admirador de Cézanne, de Renoir. Freqüentam-na Signac, Seuret, Gauguin uma dos mais influentes – Gauguin, de quem Vincent torna-se muito amigo. As noites, ele as passa em companhia de seus novos amigos, muitas vezes no cabaré do Tambourin, dirigido por uma antiga modelo de Gérôme, la Segattori (Agostina Segattori sentada no Café Tamborin, Rijksmuseum Vincent Van Gogh, Amsterdam). Logo uma grande intimidade liga Vincent a Segattori, intimidade que se romperá certa noite, não sem violência

Agostina Segattori sentada no Café Tamborin (Paris, fevereiro-março 1887)
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Contudo a luz e a cor tinham seduzido Vincent. Atormenta-o o desejo de mais luz e de uma cor mais brilhante. Além disso, nada mais tinha a aprender em Paris. Decide-se então, talvez a conselho de Toulouse Lautrec, a ir para o sul (mais tarde em 1887, Vincent teria novo encontro com Toulouse Lautrec, que o retrataria num almoço em Montmartre). “É no Midi”, declara um dia a Émile Bernard (1868-1941, parisiense, pintor impressionista amigo que fez a aproximação de Vincent com Gauguin e Lautrec), “que é preciso instalar o ateliê do futuro”. No dia seguinte ele parte para Arles.
No próprio dia da chegada – provavelmente em 20 de fevereiro – ele escreve a Théo. A partir de então as cartas recomeçam, e seguem-se quase que diariamente. Nestas cartas, escritas em francês – Vincent considera-se já há muitos meses um francês - , ele diz tudo. Como nas cartas anteriores, escritas em holandês, seu texto continua duro, ruim. Este grande pintor jamais teve o dom da palavra . Em seu estilo entrecortado e reticente, ele fala de suas idas e vindas, de seu método de trabalho, das características da região, do grande sol, dos hábitos das pessoas, de suas leituras, de sua casa, e finalmente de seu sonho de fundar com os amigos um ateliê comum. Nelas também seguimos o despertar de uma crescente exaltação, sob a ação de um sol ardente. Ele desenha e pinta sem parar e, tarde da noite, escreve. Nos poucos meses que se seguem – de março a dezembro de 1888 – constrói uma obra artística prodigiosa, e um verdadeiro testamento literário: pois, mesmo sem escrever bem, Van Gogh impregna suas cartas de tamanho vigor e energia que elas terminam por tornar-se um documento tão admirável quanto os diários de Kafka ou Dostoievski.”

Continua...

Puxa, não sei por quê comecei a lembrar de 1987, quando um amigo em comum (meu e de minha irmã) apareceu com uma fita cassete em estado cientificamente questionável, todo eufórico nos dizendo: “vocês precisam ouvir esta banda!!”
Levamos a tal fita pra casa e ficamos bem impressionadas com o que ouvimos...
Era de uma banda chamada Celtic Frost, com um disco de nome To Mega Therion...
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