"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

sábado, 30 de junho de 2007

Série "Meditando Com": Xamanismo

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Adquiri esta série, de poster+cd faz um certo tempo, nas bancas...
São bem interessantes, pois abordavam várias tradições
religiosas...
Este aqui, sobre Xamanismo, contém um depoimento muito emocionante de como foi a
gravação do material com os nossos irmãos guaranis.

Neide


O material que a equipe usou nesta compilação foi extraído destes 3 cds:




Faixa 1 6:34
Meditação para receber Ajuda da Roda da Medicina
Voz Mirna Grzich
Texto: Gláucia Stolf
Música: O retorno da Grande Tribo Galáctica
Daniel Namkhay
Álbum Filhos do Vento

Faixa 2 03:18
Nhaneramoi’i Karai Poty
Todas as aldeias guaranis
Álbum: Ñande Reki Arandu


“Um projeto realizado pelas Associações Indígenas Tembiguai, Aldeia Morro da Saudade, Aldeia Rio Silveira, Bracuí-Acibra, e pela Comunidade Solidária, interlocução São Paulo. A cultura guarani, que abrangia toda a Mata Atlântica, hoje quase toda dizimada, sempre teve um cântico. E o cântico das crianças é sempre ouvido primeiro pelo Criador, pois elas são a própria pureza. Os mais velhos guaranis ensinavam as crianças a cantar e explicavam qual a importância, o significado daquele cântico.
Eis um disco emocionante, que representa um trabalho incrível de aglutinação de centenas de crianças, de diversas aldeias guaranis, que desenvolveram esse projeto de resgate das suas raízes e cultura. Através dessa gravação, os Guaranis vão contando sua tradição. “A gente tinha contato antes da gravação, mas era diferente”, dizem alguns participantes. “Através do cd, de repente, uniram-se quatro aldeias. A força foi tão grande que se viu, naquele dia, o espírito guarani.” Através dessa reunião das quatro aldeias para a realização do cd, elas se fortaleceram. As crianças, os músicos e os organizadores jamais vão esquecer aquele momento especial.
Para nós, privilegiados ouvintes, a música das crianças guaranis, com menos de dez anos de idade, vindas de quatro grandes comunidades da quase extinta mata atlântica, que se encontraram para esse projeto cultura guarani, é emocionante, vai direto ao coração. “

Eis a tradução dessa música:

Altar na casa de reza
Vamos nos fortalecer karai poty
Porta voz da nossa tradição
Mbaraka na casa de reza
Porta voz da nossa tradição
Vamos nos fortalecer, karai poty
Cânticos na casa de reza
Vamos nos fortalecer, karai poty
Porta voz da nossa tradição

Faixa 3 06:04
Carry the gift
R. Carlos Nakai e William Eaton
Álbum: Carry the Gift
Canyon Records


Faixa 4 13:05
A nova tribo
Daniel Namkhay
Álbum: Filhos do Vento

Cd
Capas
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“O Xamanismo acredita num mundo abaixo desta realidade, e noutro mundo acima desta realidade, considerada comum, ordinária. De certa forma, se assemelha aos mitos das religiões ocidentais, com suas camadas de céu, terra, inferno. O mundo xamânico de bons espíritos, espíritos guardiões e espíritos malignos, pode muito bem ser comparado à liturgia ocidental dos arcanjos, anjos da guarda, santos patronos e o diabo. Será que algum sacerdote, dos tempos do faraó a Lutero, com habilidade de interceder no mundo espiritual, agiu diferentemente de como age um xamã?
A grande divergência entre as religiões ocidentais e o Xamanism ocorre em relação aos conceitos – os ocidentais consideram que somente os seres humanos possuem alma, espírito, e que a humanidade é o intérprete solitário nas realidades ordinárias e extraordinárias. Para o Xamanismo, toda existência é integrada, em altíssimo nível. Literalmente, tudo o que existe tem alma. Não há divisão entre orgânico e inorgânico. Não há estrutura hierárquica em termos de consciência, com o ser humano confortavelmente no topo e as pedras no final. Todas as realidades existem simultaneamente,no tempo. Todas as formas de existência estão aqui para serem reconhecidas e respeitadas e, em troca, reconhecer e respeitar o observador.
Para alcançar a passagem para as realidades alteradas, o xamã precisa auferir os benefícios dos guias e aliados, quase sempre na forma de espíritos de animais.”

Mirna A. Grzich


“Os mensageiros animais, enviados pelo Poder Invisível, já não servem mais, como nos tempos primitivos, para ensinar e guiar a humanidade. Ursos, leões, elefantes, cabritos e gazelas estão nas jaulas dos nossos zoológicos. O homem não é mais o recém-chegado a um mundo de planícies e florestas inexploradas, e nossos vizinhos mais próximos não são as bestas selvagens, mas outros seres humanos, lutando por bens e espaço, num planeta que gira sem cessar ao redor da bola de fogo de uma estrela. Nem em corpo nem em alma habitamos o mundo daquelas raças caçadoras do milênio paleolítico, a cujas vidas e caminhos de vida, no entanto, devemos a própria forma dos nossos corpos e a estrutura das nossas mentes. Lembranças de suas mensagens animais devem estar adormecidas, de algum modo, em nós, pois ameaçam despertar e se agitam quando nos aventuramos em regiões inexploradas. Elas despertam com o terror do trovão. E voltam a despertar, com uma sensação de reconhecimento, quando entramos numa daquelas grandes cavernas pintadas. Qualquer que tenha sido a escuridão interior em que os xamãs daquelas cavernas mergulharam, em seus transes, algo semelhante deve estar adormecido em nós, e nos visita à noite, no sono.”

Joseph Campbell, O Caminho dos Poderes Animais




"Mitos e Estações no Céu Tupi-Guarani”
Com astronomia própria, índios brasileiros definiam o tempo de colheita, a contagem de dias, meses e anos, a duração das marés, a chegada das chuvas. Desenhavam no céu histórias de mitos, lendas e seus códigos morais, fazendo do firmamento esteio de seu cotidiano.
Por Germano Afonso


Clique aqui e acesse este lindo texto!!

James Brown – The Payback

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Da melhor fase do Godfather, aproveitem...


The Payback (1974)

1 Payback (8:39)
2 Doing the Best I Can (6:00)
3 Take Some...Leave Some (8:45)
4 Shoot Your Shot (7:49)
5 Forever Suffering (4:45)
6 Time Is Running Out Fast (12:35)
7 Stone to the Bone (10:14)
8 Mind Power (12:05)

Download

Ellis & Branford Marsalis – Loved Ones


Uma pequena reunião da jazz family Marsalis (Branford, sax, filho; Ellis, piano, pai).
Branford é o mais novo entre os irmãos músicos, sendo que um dos mais conhecidos (não está neste álbum) é Winton Marsalis.
Logo abaixo segue sua biografia retirada do site oficial, Marsalis já tocou com figuras como Miles Davis (em Decoy), Greateful Dead, Herbie Hancock (em seu grupo V.S.O.P.), entre vários outros que não são citados neste texto (se não me engano, ele gravou o Bring On the Night com o Sting)...
Mais uma vez, meus agradecimentos ao amigo Marcelo Ariel
por ter cedido o álbum.

Obrigada, Marcelo!


Ellis & Branford Marsalis – Loved Ones (1995)
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1 Delilah (Delilah's Theme) (5:27)
2 Maria (6:09)
3 Lulu's Back in Town (4:58)
4 Miss Otis Regrets (4:43)
5 Angelica (6:02)
6 Stella by Starlight (7:01)
7 Louise (4:16)
8 Bess, You Is My Woman Now (8:04)
9 Liza (All the Clouds'll Roll Away) (2:37)
10 Nancy (With the Laughing Face) (2:12)
11 Laura (6:21)
12 Alice in Wonderland (6:22)
13 Sweet Lorraine (4:22)
14 Dear Dolores (6:44)
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'“World-renowned saxophonist Branford Marsalis, born in 1960, has always been a man of numerous musical interests. The three-time Grammy winner has continued to exercise and expand his skills as an instrumentalist, a composer, and the head of Marsalis Music, the label he founded in 2002 that has allowed him to produce both his own projects and those of the jazz world’s most promising new and established artists.
The New Orleans native was born into one of the city’s most distinguished musical families, which includes patriarch/pianist/educator Ellis and Branford’s siblings Wynton, Delfeayo and Jason. Branford gained initial acclaim through his work with Art Blakey’s Jazz Messengers and his brother Wynton’s quintet in the early 1980s before forming his own ensemble. He has also performed and recorded with a who’s-who of jazz giants including Miles Davis, Dizzy Gillespie, Herbie Hancock and Sonny Rollins.
Known for his innovative spirit and broad musical scope, Branford is equally at home on the stages of the world’s greatest clubs and concert halls, where he has performed jazz with his Quartet, one of the leading small ensembles of the past two decades; classical music as a guest soloist with numerous chamber and symphony orchestras; and his own unique musical approach to contemporary popular music with his band Buckshot LeFonque. His nearly two dozen recordings in these various styles have received numerous accolades, with his most recent CD, the Grammy-nominated Braggtown, acknowledged as his quartet’s greatest recorded achievement to date. Marsalis’ previous disc, Eternal, also received a Grammy nomination as well as virtually universal inclusion in lists and polls for the best jazz recording of 2004. Marsalis’ playing on the DVD Coltrane's `A Love Supreme' Live in Amsterdam also received a Grammy nomination for best instrumental jazz solo, while the disc received awards for music and video excellence from the DVD Association.
Marsalis is also dedicated to changing the future of jazz in the classroom. He has shared his knowledge at such universities as Michigan State, San Francisco State, Stanford and North Carolina Central, with his full quartet participating in an innovative extended residency at the latter campus. Beyond these efforts, he is also bringing a new approach to jazz education to jazz students and jazz listeners in colleges and high schools through Marsalis Jams, an interactive program in which leading jazz ensembles present concert/jam sessions in mini-residencies that have visited campuses in the Northeast, Mid-Atlantic, Southeast and Southwest.
Branford’s diverse interests are also reflected in his other activities. He spent two years touring and recording with Sting, and was the musical director of The Tonight Show with Jay Leno for two years in the 1990s. He has collaborated with the Grateful Dead and Bruce Hornsby, acted in films including Throw Mama from the Train and School Daze, provided music for Mo’ Better Blues and other films and hosted National Public Radio’s syndicated program Jazz Set.
Among the most socially conscious voices in the arts, Marsalis quickly immersed himself in relief efforts following the devastation of Hurricane Katrina. He is the honorary chair of the New Orleans Habitat for Humanity effort to rebuild the city, and together with his friend Harry Connick, Jr. conceived the Habitat Musicians' Village currently under construction in the city's historic Ninth Ward.
Whether on the stage, in the recording studio, in the classroom or in the community, Branford Marsalis represents a commitment to musical excellence and a determination to keep music at the forefront”

Retirado de BranfordMarsalis.com

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Jethro Tull - Stockholm 1969


Baixado do 8daysinapril, há tempos...
(ótimo blog!)'

A qualidade está muito boa (pelo menos é o que eu acho)!
Altamente recomendado!!
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'(Clique na imagem para ampliar)


01. My Sunday feeling 05:47
02. Martin’s Tune 10:45
03. To be sad ia a mad way to be 04:48
04. Back to the family 04:09
05. Dharma for one 09:08
06. Nothing is easy 14:20
07. A song for Jeffrey 03:32

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Genesis - Rare Tapes 1


Esta compilação eu baixei do blog MusicTravellers, faz um tempinho…
pelo que sei o link original já foi deletado, portando renovei a hospedagem...
Como é de hábito explicar, várias faixas não estão com o áudio muito bom, indicado para quem é fã ou não tem grandes exigências técnicas, como eu...sabe, isto me lembra aquelas gravações que a gente fazia há alguns anos atrás, com poucos recursos mas muita alma e envolvimento com a música...
um período em que as pessoas não eram tão indiferentes...


01. Looking For Someone (1970-02-22) 07:12
An early classic of the band, this song was never performed live after theTrespass tour. Taken from a BBC "live in the studio" recording, this is one of the earliest live Genesis recordings in known existance. Recorded in London, UK.
02. The Light (1971-03-07) 10:25
The only known recording of this song, "The Light" would eventually develop into "Lillywhite Lilith," as well as parts of "The Colony of Slippermen" from "The Lamb Lies Down On Broadway." This song was perhaps the first Genesis song to have lyrics written by Phil Collins. Recorded at the Woluve in LaFerme, Belgium.
03. Twilight Alehouse (1972-02-26) 06:13
A early classic that was was written before Trespass (actually, a small bit can be heard on "From Genesis To Revelation") this song was never officially released until the "Selling England By The Pound" period, despite being a staple of the early live set. Recorded at the Civic Hall in Dunstable, UK.
04. Harlequin (1972-03-04) 02:49
Although not performed often, "Harlequin" was sometimes used to open Nursery Cryme tour shows (when "Happy The Man" was not). Recorded at the Technical College in Watford, UK.
05. Bye Bye Johnny (1972-04-14) 08:57
One of the rare examples of Genesis performing songs before released on an album, "Bye Bye Johnny" is acutally an early version of the "Foxtrot" song "Can-Utility And The Coastliners." Recorded at the Palasport in Pavia, Italy.
06. Happy The Man (1972-04-18) 03:45
"Happy The Man" was another often-performed song that was never released on an album. This recording is one of the better quality recordings of Nursery Cryme tour shows. Recorded at the Piper Club in Rome, Italy.
07. Going Out To Get You (1972-04-18) 04:22
Cut from "Trespass" to make room for "The Knife," "Going Out To Get You" is another song written possibly as early as the "From Genesis To Revelation" period. However, unlike "Twilight Alehouse," "Going Out To Get You" was only sparingly performed live by the band. Recorded at the Piper Club in Rome, Italy.
08. One-Handed Drum Solo (1972-06-28) 02:53
Serving the same function as Peter's now-famous stories, the One-Handed Drum Solo was a time-filler when instruments required tuning or repair. "...Phil Collins went to Russia to study under a famous spastic..." Recorded at the Town Hall in Watford, UK.
09. Can-Utility And The Coastliners (1972-08-20) 07:22
"Can-Utility" was originally in the standard Foxtrot tour setlist, but it was dropped relatively early in the tour. Recorded at the Piper 2000 Club in Via Reggio, Italy.
10. Seven Stones (1972-08-22) 05:24
During the band's early years, one of the only areas that actually liked Genesis was Italy. Because of their loyalty to the band, Genesis often rewarded the Italian fans with some rare songs; this performance of "Seven Stones" is an example of this. This recently-uncovered recording (the complete song) was recorded at the Teatro Alcione in Genova, Italy.

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Mestres dos Quadrinhos Eróticos - Serpieri III

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Clique nas figuras para ampliar
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Fellini, por Manara

“Federico Fellini, morto em 1993, viveu o suficiente para se declarar um fervoros fã de Druuna. Quando o fez publicamente, garantiu, no entanto, que não era a beleza plástica da heroína de Serpieri o que mais atraía sua atenção e, sim, os monstros disformes que compunham seu mundo bizarro. Certamente, não estava falando sério, uma vez que poucos cineastas reverenciaram tanto a mulher, suas formas e sensualidade quanto o diretor de “A Cidade das Mulheres”.
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Marcello Mastroianni, em Cittá Delle Donne
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E não restam dúvidas de que, assim como no caso de Manara, muitas de suas personagens povoaram os sonhos do desenhista de Druuna na adolescência e na juventude e reapareceram em sua imaginação no momento em que ele idealizou as formas de sua heroína. Afinal, sua famosa criação resultou da mistura de várias mulheres que alimentaram o imaginário ocidental na segunda metade do século XX. Seu rosto, seu corpo e suas histórias são uma mescla de muitas fantasias e de variadas referências da vida real e da ficção, principalmente do cinema.
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Druuna nasceu com formas bem definidas, mas, no decorrer dos anos e da abertura cada vez maior nos quadrinhos me em relação à censura, suas curvas foram ainda mais redimensionadas e as histórias se tornaram mais picantes. A cada episódio que surgia nas bancas e livrarias, ela dava a impressão de ganhar um pouquinho mais de coxas, bunda e seios. De algum modo, seu autor acompanhou o que se chama de evolução dos tempos quanto à pressão moral nas artes.

Como o período de produção e de lançamento de cada história sempre foi razoavelmente longo, em torno de dois anos, Serpieri pareceu medir os passos de sua ousadia e não deixou de seguir adiante quanto a experimentar a temática sexual em suas muitas possibilidades – assim como Crepax e Manara, tornou-se marcadamente um sadomasoquista com Druuna, numa espécie de obsessão dos artistas italianos pelo prazer a partir do sacrifício físico.

Como logo soube dos limites de tolerância de seus editores nos muitos países mais ou menos liberais onde editou seus quadrinhos – nos mais fechados, sua publicação é ainda algo impensável -, porém, o desenhista procurou não exagerar nas tórridas cenas sexuais que Druuna costumou provocar.
Para atender ao público interessado em desenhos mais picantes, aliás, entre alguns episódios, Serpieri produziu três álbuns de esboços que chamou sugestivamente de:
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"Obsession"
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."Druuna X-1"
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Nesta edição, o autor conversou com sua personagem e lhe pediu para que fizesse sexo sem pudores com outros personagens apenas para satisfazer sua tara de voyer:





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Finalmente, no terceiro, escreveu pequenos textos que acompanharam cenas mais escancaradas e mais coloridas.
A qualidade e a impressionante uniformidade do traço que Serpieri conseguiu preservar no decorrer de quase duas décadas de produção das aventuras de Druuna o ajudaram a formatar o hiper-realismo quase fotográfico que ele buscou para os personagens de suas histórias. Foram o resultado do esforço de um artista obstinado em alcançar sempre a perfeição. “Eu sou um perfeccionista, eu não retoco meu trabalho, eu o refaço”.
No começo, ele não escrevia nunca um roteiro propriamente dito, buscava um texto concebido como um romance. “Eu desenho pouco a pouco, depois exebuto o roteiro progredindo em função das imagens”. Assim, na fase de produção, seus diálogos são durante muito tempo embrionários, desenvolvidos num processo de criação bastante particular, com predominância da imagem. “Eu vejo a história, eu volto constantemente atrás. Daí minha dificuldade de trabalhar sobre um roteiro de outra pessoa”.
Nenhuma personagem do cinema ou das histórias em quadrinhos em todos os tempos reuniu tantos atributos físicos juntos quanto Druuna. Tudo isso, à primeira vista, levou a uma leitura superficial da heroína e, não raro, preconceituosa, feitas muitas vezes a partir de princípios morais. Inclusive de um bom número de críticos, que a transformaram num clichê erótico. E dos moralistas, que sempre tiveram muito que se sentir incomodados com ela – tanto que suas histórias continuam inéditas em muitos países da Europa, Ásia e América.
Essas duas categorias de críticos reclamam,por exemplo, de uma suposta superficialidade. Ou seja, de que os motivos mais fúteis levam-na a tirar a roupa ou a andar freqüentemente pelada. Ou que ela é excessivamente promíscua. Não se deve, porém, apenas atribuir juízo de valor na decisão de Druuna em fazer sexo. Há algo mais proposital nisso.
Ela o faz porque gosta, tem direito e, como foi dito, principalmente por ser uma forma de se manter viva ante as ameaças de criaturas monstruosas e de renovar suas energias pelo prazer. Ao mesmo tempo, existe uma simbologia em seu comportamento. A heroína transmite a seus parceiros o sentido de perceberem a vibração da vida em seus corpos por meio do orgasmo, num mundo moribundo e asfixiante.
A “sexy” Druuna, com sua conduta libidinosa e de aparente submissão, rendeu severas críticas de feministas européias e a desaprovação de muitas outras nos países onde suas aventuras foram publicadas em diferentes continentes. Da parte dos homens, claro, sempre vieram fervorosos aplausos. Nesse aspecto, Serpieri não concorda que faz pornografia e que sua obra seja carente de sutilezas ao mesmo tempo em que seria agressiva à moral.

Há, na sua opinião, muitas definições para a palavra pornografia. “Afirma-se que é a reprodução de um ato obsceno. Creio que possam chamar meu trabalho de pornográfico. Não me incomodo. Mas vejo que o conceito de pornografia foi contaminado por um preconceito, por uma visão hipócrita do mundo e do sexo”. “Ora”, prossegue ele, “por que a chamada “obra erótica” esconde o ato sexual? Talvez porque o considerem uma ofensa, uma imundície. Eu, ao contrário, creio que o ato sexual é belo, natural e uma das expressões mais fantásticas da vida”.

Para ele há, na verdade, interesse moral e econômico por trás dessa discussão sobre a imagem do sexo. “A tradição determina que o prazer deva ser reprimido. Dessa forma, o homem vive sempre frustrado, minado pela culpa. Assim, é mais fácil dominá-lo. Dou a Druuna uma grande responsabilidade, que é denunciar esse sistema de falsidade”.
Para ele, seu desenho ultrapassa o (pré) conceito de pornografia e é, sem dúvida, o mais intrigante no conjunto da obra, porque inclui reflexão, que ele destaca cmo importante atividade do pensamento. “O objeto desenhado carrega os sentimentos de quem o produziu, essa é a chave do entendimento para esse fenômeno. Portanto, parece-me mais carregado de significado do que uma foto”.


A visão de Serpieri sobre erotismo e pornografia sem dúvida ajuda a comprender o tom que procurou desenvolver em Druuna. Defensor incondicional da liberdade de expressão, assim como Crepax e Manara, ele considera vulgar, por exemplo, o espírito obtuso e o moralismo em qualquer forma de arte. “A representação do sexo não tem nada de vulgar, exceto quando o sexo é mitificado ou ligado à violência”. E não tem o receio de polemizar: a pornografia como representação repetitiva dos atos sexuais em sua continuidade é, para ele, algo maçante, mas não vulgar.
O fato de não abrir mão do livre direito de criar e falar de sexo, no entanto, trouxe-lhe problemas com a censura, em alguns episódios que viraram notícia. Na França, berço dos modernos quadrinhos eróticos de vanguarda ao lado da Itália, quando sua editora, a Dargaud, foi vendida para Média Participation, seu catálogo adulto Image Passion – do qual a série de álbuns de Druuna fazia parte – foi negociado para outro editor.
Os novos donos alegaram que o conteúdo da personagem não estava de acordo com a sua ética, e sua publicação foi interrompida. Na mesma época, na Charles-Pilote, que publicava a heroína, o segundo episódio foi interrompido porque queriam censurar certas passagens de sexo. “Eu os mandei se danarem e fui embora”. Serpieri também teve problemas nos EUA. Num dos primeiros episódios publicados na “Heavy Metal”, numa cena em que aparece um pênis, a parte saiu com uma tarja porque foi associada à pornografia.
A polêmica permanente sobre a natureza das obras eróticas que cerca o trabalho de Serpieri tem feito com que, há mais de uma década, ele participe de palestras sobre sua obra pelos quatro cantos do planeta e a defenda com argumentos bem construídos e convincentes. Trata-se de um esforço para mostrar que Druuna não é apenas sexo. E só uma visão preconcebida pode defender isto. O apocalíptico mundo do futuro em que ela sobrevive com terríveis criaturas também merece atenção crítica pela riqueza temática, de referências e complexidade como uma legítima arte pós-moderna.
Fellini dizia que Serpieri era por demais pessimista quanto ao futuro.
O próprio artista confessou: ”Não tenho confiança no homem, um animal que mata seus semelhantes e que se deixa dominar pelo monstro que habita suas profundezas”. Ele disse não ter muita confiança no futuro e expressou isso a partir da observação do presente, quando o incomodava a falta de interesse na cooperação e na solidariedade entre as pessoas. “Somos uma espécie que mata seus semelhantes, há problemas ambientais que não estão sendo resolvidos, o homem devasta o meio ambiente sem piedade”. Tantos monstros estupradores e máquinas assassinas em suas histórias portanto têm um propósito específico. Seriam uma alegoria para fazer crítica ao comportamento humano e provocar reflexão no leitor.


Na sua opinião “vivemos num mundo que caminha para a decadência, penso. Os homens abdicam da razão e o monstro toma conta de tudo. Não estamos resolvendo os problemas estruturais do planeta. Druuna é como uma moça de hoje, com sentimentos e temores comuns a mulheres contemporâneas. Ela é bela e representa um contraste nesse ambiente de deterioração. Em sua beleza e candura residem os meios de uma salvação”. Serpieri lembra que, nessa linha, o pintor espanhol Francisco Goya (1746-1828) dizia que “o sono da razão vira monstro”.

Francisco Goya – Caprichos, nº 62

Francisco Goya – Caprichos, nº 71
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A deterioração das estruturas urbanas, acrescentou o artista, também está comprometendo a vida de bilhões de pessoas. “Como posso acreditar em melhorias? Entretanto, quero estar vigilante para afastar os monstros que se apoderam da mente dos homens”.
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Serpieri delegou a Druuna a missão de deixar uma mensagem para o futuro com o qual pretende alimentar alguma esperança quanto à preservação da humanidade. A heroína representaria a antítese, o triunfo da beleza, da natureza, da “carnalidade” e do prazer sobre o mundo espatifado. “Acho que dou a ela uma enorme responsabilidade”.
Nesse processo bem pessoal de criação e de identificação do próprio autor, o zelo que ele dedicou à narrativa textual não merece menor reverência que seus desenhos deslumbrantes. “Eu sou igualmente exigente com os textos: já acabei uma vintena de páginas da próxima Druuna, mas eu posso muito bem refazê-las inteiramente após ter acabado os desenhos”, disse ele há alguns anos. “Eu libero meus desejos profundos, tento ser o mais honesto possível, tento contar qualquer coisa que faça parte da minha realidade, daquilo que eu vi ou tento viver, não todos os dias, claro, mas, digamos, uma vez por semana”.
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