"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

domingo, 24 de outubro de 2010

Pioneiros da Animação - L’Idée/ A Idéia, por Berthold Bartosch (1932)

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Berthold Bartosch nasceu em 29 de dezembro de 1893 na Boémia, atual República checa. Em 1920 mudou-se para Berlin, onde conheceria mais tarde a animadora de silhouetas Lotte Reiniger, trabalhando juntos no seu conhecido filme ‘Die Abenteur der Prince Achmed’ (“As Aventuras do Príncipe Achmed” (1923-1926)). Houve colaboração também nos trabalhos “O ornamento do coração afetuoso” (1919), “A Batalha de Skagerrak” e “Dr. Dolittle” (1928).
Em 1930, começou o trabalho no filme que viria a ser ‘L’Idée’, adaptado de um livro ‘woodcuts’ publicado anos antes por Frans Masereel. Bastante famosos nos anos 20 na Alemanha, consta que o famoso filme de Walter Ruttman ‘Berlin: Sinfonia de uma cidade’ foi totalmente retirado de um desses livros, chamado ‘A cidade’. Masereel trabalhou com Bartosch no inicio, mas depois de descobrir o tedioso trabalho que é a animação acabou por desistir e assim Bartosch trabalhou sozinho durante 2 longos anos, tendo como bancada as placas de vidro que usava para animar. 45.000 imagens foram animadas com sabão e iluminadas por lâmpadas de 100 watts.



Gravura do livro de Masereel, que inspirou a animação

Bartosch foi das primeiras pessoas a mostrar que a animação podia ser poética. A ‘L’Idée’ seguiu-se o trabalho ‘Nuit dans le mont chauve’ de Alexandre Alexeïeff e Claire Parker (1934), os dois grandes marcos da animação enquanto forma de elaborada expressão artística. Este é o unico filme que sobrevive de Bartosch. Mais tarde faria ‘Cosmos’, um filme de 109 minutos que foi totalmente destruido pela Gestapo. Sem dúvida um dos grandes e mais negligenciados gênios da animação.
De 1935 a 1939 Bartosch trabalhou em um filme pacifista, "St. Francis" ou "Pesadelos e Sonhos". Quando os nazistas invadiram Paris, ele depositou o filme na Cinemateca Francesa. O filme foi destruído durante a ocupação nazista, e sobreviveram apenas poucas imagens.
Em 1948, trabalhou durante um ano para a UNESCO em Paris sob direção de George Dunning, um animador britânico conhecido por seu trabalho no filme de animação Yellow Submarine (filme), de 1968. Falece em 13 de novembro de 1968.

O filme


Em “L’Idée’ (A Ideia), a mulher nua que nos é apresentada não é mais uma exploração do corpo feminino, e sim a representação física de uma “Ideia”, a personificação da ‘verdade nua’, aquela frente à qual trememos mesmo estando tão habituados a todo o género de violência. O filme demonstra como a ideia, no sentido filosófico da palavra, nasce de um jovem idealista e como ele a tenta espalhar, como é rejeitada e ostracizada pela sociedade e obrigada a ‘vestir-se’, como ao
mesmo tempo protege os sonhadores e idealistas e, finalmente, como é aceita e espalhada pelo mundo através de todos os meios de comunicação fazendo tremer os mais poderosos! Sem o ver, é difícil acreditar na densidade poética deste filme, no seu elaborado e esmerado trabalho artístico.
Os personagens e cenários foram desenhados em várias camadas de tipos diferentes de papel, do mais transparente até um tipo de cartão grosso. Efeitos especiais como halos, fumaça e neblina foram feitos com espuma espalhada em chapa de vidro e iluminados por trás. O filme foi baseado em um livro de recortes em madeira de Frans Masereel. A Idéia foi realizado com trilha sonora do compositor Arthur Honegger incluindo um Ondes Martenot, o qual acredita-se ser o primeiro de um instrumento musical eletrônico na história do cinema. Neste trabalho Honegger realiza uma sobreposição das etéreas tonalidades do Martenot com sonoridades jazzísticas mais urbanas.

Bartosch provavelmente terá morrido a murmurar ‘pode-se fazer tudo com sabão’…
(por Jorge Amaro)
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Formato avi, 271 mega

. “OS HOMENS VIVEM E MORREM POR UMA IDEÍA
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MAS A IDÉIA É IMORTAL
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PODE-SE PERSEGUIR, JULGAR, PROIBIR, CONDENAR A MORTE
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MAS A IDEÍA CONTINUARÁ VIVENDO NO ESPÍRITO DOS HOMENS
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ELA SE ENCONTRA ALI ONDE A MISÉRIA E A LUTA ESTÃO LADO A LADO
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ELA SURGE TANTO AQUI AGORA, COMO ALÉM,
ELA PERSEGUE SEU CAMINHO ATRAVÉS DOS SÉCULOS

A INJUSTIÇA TREME ANTE ELA

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GUIA OS OPRIMIDOS PARA UM MUNDO MELHOR
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AQUELE QUE É PENETRADO POR ELA NUNCA MAIS SE SENTE ISOLADO
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POIS ACIMA DE TUDO ESTÁ
A IDÉIA "


Saint Steven - Over The Hills / The Bastich (1969)

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Este trabalho de 1969, foi concebido e gravado no contexto de agitação social e política da época, o pavor e o poético se fundem em seu lirismo. Há nas canções o confronto entre inocência e forças negras, coisas que todos enfrentamos em nós mesmos.
Na capa frontal “St. Steven”, ou Steven Cataldo, guitarra vocal e idealizador do álbum, aparece abraçando sua guitarra, flutuando entre as nuvens com o sol irradiando...abaixo há um monstro marinho deslizando na borda do oceano (no que se deu este belíssimo resultado, com o trabalho do grande Gustave Doré ao fundo). Na capa traseira seu rosto está inserido num trabalho de Hieronymus Bosch (dá pra notar que ele não teve nem um pouco de bom gosto nas escolhas dos quadros....haha).
Com a guerra do Vietnã em seu auge no período, há trechos mesclados com o áudio da tv americana em off.
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Saint utiliza nas letras seus próprios personagens míticos, como "Gladacadova" e "Ay-Aye-Poe-Day" , para adicionar magia e mistério a sua narrativa. No meio de "Poor Small" a música pára e nós temos um trecho de uma das eleições presidenciais, com o som de alguma velha senhora lendo algo como registros dos estados e batendo um martelo. A música continua com os ruídos ao fundo, o que faz lembrar como escapamos de tristes realidades da vida com o poder da música.
Em “Bastich I” há uma forte introdução com coros celestiais seguidos de uma base mais ácida em que sua hipnótica guitarra faz um papel grandioso em meio a criativa psicodelia do Santo.
Embora o álbum original fosse bastante curto, com cerca de 29 minutos, o artista mesmo assim trabalhou nele como uma peça inteira, impressionando do início ao fim.

Adaptação livre de um textinho encontrado no lugar onde baixei o disco, aqui.
Gostei da descoberta, vou retomar os posts na área abrindo com este.


* Steven Cataldo guitarra, vocal
* John Turner Arranjo
* Russ Hamm Arranjo
* Stephen Pinney bateria (nas faixas bonus)
* Ian Bruce Douglas guitarra 12string (nas faixas bonus)
* Barbara Vanderloop backing vocal (nas faixas bonus)
* Kerry Frangione backing vocal (nas faixas bonus)

- Over the Hills
01. Over The Hills 0:43
02. Animal Hall 2:50
03. Gladacadova 2:11
04. Over The Hills 0:18
05. Poor Small 2:41
06. Ay-Aye Poe Day 3:22
07. Grey Skies 2:51
08. Over The Hills 1:28

- The Bastich
09. Bastich I 3:07
10. Voyage To Cleveland 2:51
11. Sun In The Flame 2:26
12. Bright Lights 2:02
13. Louisiana Home 2:51
14. Bastich II 1:06

- Bonus Tracks (Recorded in 1966: Previously Unreleased)
15. My Sunday Love (Bonustrack) 2:57
16. Where Has The Time Gone To (Bonustrack) 2:38

BAJAR

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sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Pedido - Rituaes e festas Bororo, por Major Luiz Thomaz Reis, 1917

... acho justo pedir algumas cositas, além de somente postar....uma delas é este filme aí...se algum de vcs estiver passando pelo blog e souber de um link pra baixar, por favor me avisa tá?

abraços a todos...

sexta-feira, 26 de março de 2010

Divulgação: Novo Endereço do Lágrima Psicodélica



“Tear”, by Yxia Olivares

Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida ...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago ...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim ...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!

"Lágrimas Ocultas" por Florbela Espanca, in "Livro de Mágoas"

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Divulgação: Festival Lágrima

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Clique no banner pra ampliar e ver melhor o trabalho gráfico do Geraldo
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O Johnny F do Lágrima Psicodélica solicitou a divulgação de um festival que a turma tá organizando por lá, da rádio:
http://lagrimapsicodelica.blogspot.com/2010/01/radio-wulp-apresenta-1-festival-virtual.html
Cliquem no link pra saber tudo direitinho, aproveitem pra curtir bastante os posts e tal. Lá é constantemente atualizado.

Bom...então , como diriam os parceiros do Alex..."Right-Right..."

tá feito... :)

Nota: este banner aí de cima foi desenvolvido pelo Geraldo , alguem que já divulguei os trampos há algum tempo.
Quem não viu o post dá uma conferida aqui: http://enochhaym.blogspot.com/2007/06/2_27.html

Ele é muitocompetente, se vc ficou interessado o mail novo é: gvenerosojr@hotmail.com

é só entrar em contato...right-right?

inté...

domingo, 9 de agosto de 2009

Inclassificável

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“Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo. Gênero não me pega mais. Além do mais, a vida é curta demais para eu ler todo o grosso dicionário a fim de por acaso descobrir a palavra salvadora. Entender é sempre limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada. Porque no fundo a gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro.” (Clarice Lispector)

domingo, 28 de junho de 2009

David Bowie – Ziggy Stardust tour (Hiroshima, Japão, 14/04/1973)

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“Antes de 1972, David Bowie havia conseguido um reconhecimento maior apenas no ano de 1969, com a música ‘Space Oddity’. Porém, seu 5° álbum, ‘The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars’, o projetou à uma posição de grande notoriedade e controvérsia. Claro que esta mudança não foi alcançada de uma hora para outra, e sim através do resultado de todo um processo de criação (música + imagem). Com a Inglaterra descobrindo na época as fibras sintéticas e a televisão colorida, mas sem perder a influência do passado, Ziggy Stardust era o retrato da época (artificial, alienígena e polissexual).
O fato de ser um álbum conceito não era uma novidade, e nem a idéia de uma banda ficcional (os Beatles fizeram o disco ‘Sgt Pepper ...’ cinco anos
antes, e The Turtles já tinham lançado o disco ‘Battle of the Bands’, em que tocam cada música como se fosse uma banda diferente). A questão era a mistura do personagem com o intérprete e isso acontecia pela primeira vez na história da música; não dava para saber onde acabava Ziggy e começava Bowie.
Ziggy foi construído como um arquétipo de ‘Rock Star’, auto-destrutivo e pronto para ser endeusado. A aparência andrógina de Bowie já havia surgido em seu disco “Hunky Dory”, e uma das primeiras mudanças que fez foi cortar o cabelo e tingi-lo de laranja, o que o diferenciava dos outros cantores da época, todos cabeludos. O figurino inicial, de Freddie Burretti, partiu de uma inspiração no figurino do filme ‘Laranja Mecânica’ (A Clockwork Orange, 1971), mas mudando a cor, acrescentando brilho, estampas floridas, e dois cílios postiços ao invés de um só. Uma leitura ‘dadaista’ segundo Bowie. O figurino desta fase era basicamente composto de macacões coloridos de lã e materiais diversos.
Os modelos das roupas então foram evoluindo. Peças eram desenvolvidas para turnês pelos Estados Unidos, Europa, para apresentações na TV...neste período o artista teve a colaboração de Natasha Korniloff. Bowie que se apresentava já de forma teatral, levou o personagem para o palco e para as ruas. Com a ajuda de seu empresário, Tony Defries e com as declarações de Angie, sua esposa na época, foi então construindo construindo a personalidade controversa de Ziggy. Não era apenas a música que importava, a sua vida fora dos palcos também contava. E o figurino era parte importante da construção deste personagem, reforçando o caráter exótico e ‘espacial’.
Para um concerto em 1972 Bowie comprou uma roupa de Kansai Yamamoto em uma loja (roupa que foi depois refeita por Natasha Korniloff), sendo este o primeiro contato com o trabalho do estilista, que viria a desenvolver os figurinos para a turnê de 1973. Era uma mistura de ficção científica e teatro Kabuki, com looks andróginos e extravagantes.

“Ele tem um rosto incomum, não acha? Ele não é homem nem mulher, se é que você me entende. Isso combinou comigo como designer porque a maioria das minhas roupas são para ambos os sexos. Eu amo a música dele e, obviamente, ela influenciou minhas criações. E ainda há essa aura de fantasia que o rodeia. Ele tem talento!” (Kansai Yamamoto sobre David Bowie, junho de 1973)

“As roupas dele [Yamamoto] são fora do normal. Hoje, ele é um artista internacionalmente reconhecido, mas ele era extremamente experimental para a época. E eu precisava conhecê-lo”. (Bowie)

As criações experimentais de Yamamoto também eram vistas com estranhamento, até no Japão, apesar do visual andrógino sempre ter sido algo intrínseco aos japoneses. Aquela piadinha imbecil de que ‘japonês é tudo igual’ está atrelada a esta idéia de androginia. O biotipo dos nipônicos é mesmo muito homogêneo - mesma cor de cabelo, estatura, tom da pele - e, sendo assim, as diferenças entre homens e mulheres são sutis. “As pessoas [no Japão] costumam elogiar dizendo que aquele homem 'é tão bonito quanto uma mulher'", disse uma japa pesquisadora em entrevista à Folha de São Paulo.

Evento em Museu de Toquio, 2008
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Nascido em 1944, Kansai Yamamoto destacou-se por unir moda ao showbiz. Entre os designers de quem foi aprendiz estão Junko Koshino e Hisashi Hosono. Kansai produziu sua primeira coleção no Japão em 1967, mas tornou-se internacionalmente conhecido a partir de 1971, quando realizou seu primeiro desfile em Londres, tornando-se o primeiro estilista japonês a apresentar uma coleção na capital inglesa. Seu estilo extravagante e pop chamou a atenção de astros da música, como Elthon John, David Bowie e Stevie Wonder, com quem o estilista desenvolveu uma longa amizade e para quem produziu figurinos para shows. Um dos trabalhos mais conhecidos de Kansai foi o figurino para os shows Ziggy Stardust de Bowie, que popularizou a estética andrógina. Se destacou muito através de seu trabalho de vanguarda nos kimonos, por exemplo, reavivando o interesse por esta peça clássica japonesa.
O colorido estilo de Kansai rendeu-lhe grande popularidade nos anos 70 no meio do entretenimento. Em 1974 abriu lojas de sua própria grife, a Boutique Kansai, em Paris, Milão, Nova York e Madrid. Embora tenha prioritariamente se dedicado à moda jovem nos anos 70 e 80, aos poucos Kansai desenvolveu crescente interesse pela produção de eventos. O formato convencional dos desfiles de moda lhe parecia pequeno demais, e além de desenhar figurinos ele passou a fazer design de iluminação e cenários . Em 1993 Kansai realizou sua última coleção e hoje é um mega-produtor de shows e eventos, mas sua visão alegre, ousada e criativa de moda, que marcou astros do rock e do pop nos anos 70, ainda inspira gerações de jovens estilistas. Em 2005 Kansai tornou-se consultor do governo japonês na área de turismo, e é presença constante na mídia japonesa.

Bowie e Kasamoto, em 1973.
Mais abaixo, exemplos em sequência dos figurinos criados pelo estilista


Sobre as influências e origens de Ziggy Stardust

“A peça Island tinha um elenco extraordinário – Cherry Vanilla, Patti Smith, Wayne County – e era encenada em Fire Island. Era episódica e não tinha realmente um enredo, todo mundo era morto no fim porque o governo decidia explodir Fire Island com navios de guerra. Andy Warhol adorou. Ele achou genial, então disse pra Tony Ingrassia, o diretor: “Andei gravando umas fitas..”
É claro que Andy Warhol gravou fitas de tudo. Estava sempre lá com seu gravadorzinho, gravando cada ligação telefônica, cada palavra que era dita pra ele. Então Andy tinha caixas e caixas de fita cassete e disse pra Tony Ingrassia: Isto provavelmente daria uma boa peça.” Tony disse: “Mas o que eu devo fazer com elas?” Andy deu as caixas pra ele e disse: “Oh, estou certo de que você vai descobrir alguma coisa boa aí.”
Tony descobriu mesmo. Escutou as fitas, achou trechos interessantes de conversa, principalmente de conversas telefônicas, e construiu a peça chamada Pork. A peça consistia de um ator interpretando Andy Warhol, sentado numa cadeira de rodas, num hospital vazio, branco e estéril, com todos os outros personagens espalhados em volta, falando em telefones brancos. A personagem Pork era pra ser Brigid Polk. A personagem Vulva era Viva, e ela falava no telefone com Andy e dizia coisas como: “Andy, vc já pensou a respeito de bosta de macaco, como vc acha que é bosta de macaco? Alguém já viu bosta de macaco? Acho que os funcionários do zôo devem ver bosta de macaco, eu nunca vi bosta de macaco, e que tal bosta de vaca, bosta de vaca não é...?” (Leee Childers)

“Basicamente Pork era alguém fazendo o papel de Brigid Polk – injetando speed o tempo todo e tagarelando. Todos os outros na peça giravam em volta dela, falando sobre seus fetiches e suas perversões. Jane Callalots, que também estava em “Heaven Grand in Amber Orbit”, interpretava Paul Morrissey. Ela empurrava o personagem de Andy Warhol, interpretado por Tony Zanetta, numa cadeira de rodas. Ele sentava lá e fazia: “Um, hum, aaah.” (Jayne County)

“Esta era a peça, basicamente. Fui o assistente de direção das duas montagens – ela ficou 6 semanas em cartaz em Nova York, depois 6 semanas em Londres. Mas foi em Londres que a produção gerou uma imensa, gigantesca e escandalosa sensação. Nós éramos uns garotos, não sabíamos nada sobre os tablóides de Londres.Geri Miller foi fazer uma sessão de fotos em frente à casa da Rainha-Mãe, mostrou os peitos e foi presa. Foi a capa de todos os tablóides: “ATRIZ PORNÔ DE PORK MOSTRA OS PEITOS NA FRENTE DA CASA DA RAINHA-MÃE!” E a citavam entre aspas: “QUAL É O PROBLEMA COM PEITOS, A RAINHA TEM.”

Momento da peça

Na real, fomos o maior acontecimento da mídia e nem percebemos, mas Cherry Vanilla decidiu que devíamos nos passar por jornalistas de rock&roll de Nova York. Cherry foi a única que percebeu que a gente podia fazer umas picaretagens por lá. Ela ligou pra um editor da revista”Circus”, e ele disse pra ela: “Ok, use meu nome em qualquer coisa que vc queira cometer, mas, se o telefone tocar, não sei de nada.”
Então, nos passamos por jornalistas de rock&roll da revista “Circus” – Cherry era a repórter, eu era o fotógrafo, e a coisa funcionou como magia. A gente entrou no backstage em tudo que foi lugar. A gente pegava o “New Musical Express” toda semana e olhava quem estava tocando, pra poder ir. Fomos ver todo mundo – Marc Bolan, Rod Stewart...
Então vi um anúncio minúsculo, tipo num tijolinho, que dizia: “David Bowie no Country Club”. Eu tinha lido um artigo de John Mendelsson sobre ele, por isso eu disse: “Ouvi falar de David Bowie. Ele usa vestidos.” Todo mundo disse: “Oh, isso é legal. Vamos vê-lo”. Daí a gente ligou e entrou na lista de convidados – eu, Cherry e Wayne County. Era um clube minúsculo, e não havia mais do que trinta pessoas na platéia. E minha primeira impressão de David Bowie foi: “Oh, querido, que decepcionante. Que chato.” Ele estava com calças de boca-de-sino amarelas e um chapelão.” (Leee Childers)

“A gente tinha ouvido dizer que o tal David Bowie era um suposto andrógino e tudo mais, mas aí ele apareceu com cabelo comprido, roupas folky, sentou num banquinho e tocou canções folk. Ficamos muito decepcionados com ele. Olhamos pra ele e dissemos: “Olha só esse velho hippie folk!”
Estávamos sentados na platéia com nossa unhas pretas e cabelos pintados. Naquela época não se conseguia nenhuma dessas cores punk brilhantes, mas Leeee Childers tinha descolado uns pincéis atômicos Magic Marker e colorido todo o cabelo dele com cores brilhantes diferentes. A certa altura David Bowie disse: “E a turma de Pork, de Andy Warhol, está aqui esta noite, levantem.”
Nós todos tivemos que levantar – Cherry se levantou, tirou seu top e sacudiu os peitos. Foi magnífico. Éramos escandalosos em qualquer lugar.”
Depois de termos voltado de Londres, David Bowie começou a entrar na sua trip de Ziggy Stardust. Concenceram ele a cortar o cabelo e pintar de laranja – aquela viagem de homem do espaço. Ângela o incentinou nisso. E Tony De Fries contratou Cherry Vanilla, Leee Childers, Tony Zanetta, Jamie DeCarlo – havia todo esse povo pirado em volta, tentando fazer David ficar com um visual legal. Mas se não fosse por Pork, de Andy Warhol, jamais teria havido uma MainMan e, por conseqüência, Ziggy Stardust. (Jayne County)
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“No dia 2 de agosto de 1971 estreava em Londres a peça Pork, de Andy Warhol, escrita e dirigida por Tony Ingrassia. O enredo da peça é basicamente sobre uma pessoa que passa o dia usando drogas injetáveis e conversando ao telefone. Todo o resto gira em torno deste personagem. Nela, Zanetta fazia o papel de Andy Warhol. O texto foi todo montado ao redor de conversações pelo telefone que Andy Warhol teve com diversas pessoas e que ele gravara. Warhol depois entregou as fitas para Ingrassia que pincelou e costurou tudo em um formato de peça.
Bowie, que estava realizando algumas apresentações no Hampstead's Country Club, viu a peça, assim como vários integrantes do elenco da peça foram assistir Bowie, ainda desconhecido na América. Ele já tinha uma imagem de andrógeno, que foi o que atraiu o pessoal do Pork para assistir o show. Mas todos ficaram desapontados vendo a interpretação da imagem de andrógeno na Inglaterra sendo um pouco diferente da de um hippie cantando folk com um violão sentado em um banquinho.
O pessoal do teatro estava com cabelos coloridos e com unhas e batom preto, coisa impensável e totalmente escandalosa. Quando Bowie anunciou a presença dos artistas na platéia e pediu para que se levantassem, Cherry Vanilla tirou sua peruca e mostrou os peitos. Foi um choque para alguns e engraçado, para outros. Quase um ano depois, David Bowie acabaria compondo com Lou Reed a canção “New York Conversation” inspirado nesta peça. Todo o elenco de Pork, incluindo Zanetta ficou amigo de David e Angela Bowie.
E vendo Porky nasceu a inspiração de criar Ziggy Stardust.
Angela sugeriu que David pintasse seu cabelo de vermelho, o arrepiasse, raspasse as sobrancelhas e usasse roupas coladas ao corpo e provocantes, assumindo um ar decadente e sexualmente ambíguo.
Bowie confessa que apesar de ter Iggy e Lou Reed em mente, a maior referência era o cantor Vince Taylor, ex-The Playboys e que viu a carreira declinar quando se juntou a um movimento religioso. Segundo ele, o nome Ziggy veio de uma alfaiataria com esse nome. "Stardust" veio de um antigo cantor country chamado Norman Carl Odom, que era conhecido como "The Legendary Stardust Cowboy".”





Fusão de informações encontradas em:


Livro “Mate-me, por favor – Uma história sem censura do punk” Vol. 01
Editora L&PM,
pp 158, 125 a 127, 164, 176, 158



01. Intro: Ode to Joy / Hang Onto Yourself
02. Ziggy Stardust
03. Changes
04. Moonage Daydream
05. John, I'm Only Dancing
06. Watch That Man
07. The Width of a Circle
08. Space Oddity
09. The Jean Genie
10. Time
11. Five Years
12. Let's Spend the Night Together
13. Starman
14. Suffragette City
15. Rock 'N' Roll Suicide

***Em 320 kbps***

Observação: O audio não está dos melhores. Se você gosta de baixar apenas material cristalino melhor nem pegar este então. Eu coloco aqui porque, como quando era novinha e tinha só um radio gravador ferrado e cassetes disponíveis (que a gente, que vivia duro, girava na roda pra todo mundo ouvir), habituei meus ouvidos a apreciar todo tipo de qualidade que esteja ao alcance. Entonces, acredito que outros também sintam assim, pela energia nostálgica da cosa e não só por estar uuuuultra perfeito...
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Alguns momentos de Bowie neste período da tour Ziggy in Japan, em abril de 73
(com exceção da imagem de Cyrinda Foxe):

...aparecendo para os fãs japoneses


“Foi muito fácil impressionar David porque a Inglaterra é muito conservadora, quer dizer, cometer sodomia era contra a lei. Você tem que entender de onde David vinha: então, quando Lou Reed falava sobre as drag queens de Nova York, pra David aquilo significava que a América era o lugar mais liberado e maravilhoso.”
Quando David disse na Melody Maker que era homossexual – depois mudou e disse que era bissexual, que era o que na real ele queria dizer – jamais teria tido culhão pra fazer isto se não estivesse andando com Iggy e Lou. Porque eles representavam esse lugar do outro lado do oceano onde as coisas estavam mudando, então fodam-se todos os hipócritas ingleses.” (Angela Bowie)
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Com Angie e o filho

Com Cyrinda

“David Bowie e sua mulher, Ângela, tinham um casamento muito aberto. Eles estavam dormindo com todo mundo de quem eram a fim. David, Ângela e eu tivemos um ménage a trois por uns cinco minutos, mas daí fiz ela ir embora porque David e eu íamos transar. Ângela estava trepando com o guarda-costas negro de Bowie, e David e eu ficávamos de quatro pra espiar pelo buraco da fechadura e vê-los trepando. Eu era uma espécie de brinquedo novo pra David na turnê Ziggy Stardust. Mas enquanto a gente estava em São Francisco David me perguntou: “Você está apaixonada por mim?”
Eu disse “Não." Não estava disposta a dizer “Sim!”. Eu ainda estava solta por aí. Não era nada boba naquela época. Não queria ter o rabo preso. Não queria me amarrar em ninguém. Além do mais, Tony DeFries queria todo mundo naquela onda Bowie. Eu não queria cortar meu cabelo daquele jeito. Ou seja, não estava impressionada com eles”. (Cyrinda Foxe)
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No palco com Mick Ronson
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“David Bowie ainda quando começava a construir sua fama em Londres, repentinamente virou uma tremenda sensação – o velho número de tocar a guitarra com os dentes, com Mick Ronson. Quando chegou a hora de trazer Bowie pra América, Tony DeFries, que era empresário dele, estava em contato com Tony Zanetta, que tinha feito o papel de Andy Warhol em Pork, e os dois tinham criado algum tipo de vínculo. Sabe lá Deus por quê.
De qualquer modo, Tony DeFries e Tony Zanetta me levaram pra jantar na Pete’s Tavern, e me parei a tagarelar, do jeito que tenho tagarelado toda minha vida: “Oh, acho que a gente devia fazer isso! Oh, isto seria genial!” No fim do jantar, Tony DeFries disse: “Bem, Z” – que era como a gente chamava Tony Zanetta – “acho que temos o nosso vice-presidente da MainMan, a companhia que empresariava David Bowie. É claro que daí botamos Cherry Vanilla de secretária e de repente éramos a sucursal americana da companhia.” (Leee Childers)

“Tony De Fries levou o pequenino e engraçadinho David Bowie à Factory de Warhol. Eu tinha que tratar de todos os negócios lá – as pessoas não resolviam nada com Andy porque Andy não sabia o que dizer, então eu tinha que resolver tudo.
Aí estou falando com DeFries, e ele diz: “A RCA me deu um monte de dinheiro pra promover esse cara na América”, e aponta pra Bowie – aquele carinha branquelo e engraçadinho sentado num canto.

Baixar Bowie in Factory, 14/09/1971

Formato: flv
Em duas partes, uma de 05:32 e outra de 06:27, num total de 25,3 mb

Tony diz: “A gente acha que ele vai estourar. Ele é grande. E a RCA me deu um monte de dinheiro, então a minha idéia pra promover Bowie é que Andy Warhol nos acompanhe na turnê norte-americana.”
Lá está Andy num canto, e aquela coisinha tímida do Bowie no outro – eles estão meio que se observando através da sala, e aqui está DeFries propondo que Andy seja pago pra ser groupie! De David Bowie!
Não pude acreditar naquilo. Eu disse: “A RCA vai pagar VOCÊ, e você vai pagar ANDY? Por que eles simplesmente não nos pagam pra promover nosso próprio álbum, como fizemos com o Velvet Underground?”
Era tudo uma estupidez – receber uma grana pra promover alguém sem fazer parte daquilo, só porque DeFries queria que David Bowie fosse o novo Velvet Underground.
Então eu disse: “Poxa, acho que não vai dar. A gente está um pouquinho ocupado demais agora.” (Paul Morrissey)
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Flyer e tickets

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