"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Nise da Silveira e a Luta Antimanicomial

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Devo dizer que minha dívida e de muitas outras pessoas por aí com a iniciativa da Dra. Nise, que influenciou e revolucionou muitíssimo o tratamento psiquiátrico no Brasil, é enorme pois pelo menos metade de minha família e muitos de meus amigos já passaram por internações desta área.
Se não fosse por pessoas como ela, talvez o índice de tratamentos por eletrochoques continuaria o mesmo até os dias de hoje. Posso dizer com toda a certeza, observando a gigantesca melhora de muitos parentes, que a canalização para a Arte realmente cura.
Definitivamente, podemos dizer que este tipo de trabalho é um autêntico e verdadeiro orgulho nacional, merecendo sempre a nossa divulgação. Infelizmente, a maior parte dos psiquiatras que eu já tive contato (várias pessoas de meu convívio freqüentam o atendimento público, mas já vi coisas parecidas no particular também) mal olham na sua cara, simplesmente vão te prescrevendo dúzias de psicotrópicos e a consulta finaliza por aí...você sai com a impressão que está sendo usado como cobaia por um pacto maquiavélico com a indústria farmacêutica, no qual eles devem pensar o seguinte: “Ah, vamos aumentar a dose pra tanto pra ver se fulano entorta ou não, dependendo de sua reação este medicamento continua ou sai de circulação...se morrer fazer o quê, mande os pêsames à família...”

A Arte sempre será a melhor das poções para todos os nossos males.

Neide
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"É melhor ser um lobo magro mas solto, que um cachorro gordo na coleira"

Nise da Silveira


NISE DE SILVEIRA - A PSIQUIATRA QUE INTRIGOU JUNG


Nise da Silveira nasceu em 1906 em Maceió, Alagoas. Formada pela faculdade de medicina da Bahia em 1926, dedicou-se à psiquiatria sem nunca aceitar as formas agressivas de tratamento da época, tais como a internação, os eletrochoques, a insulinoterapia e a lobotomia.


Presa como comunista, é afastada do Serviço Público de 1936 a 1944. Anistiada, cria em 1946 a Seção de Terapêutica Ocupacional no Centro Psiquiátrico Nacional de Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, posteriormente conhecido como Centro Psiquiátrico Pedro II (CPPII).
Em 1952, funda o Museu de Imagens do Inconsciente, um centro de estudo e de pesquisa que reúne obras produzidas nos ateliês de pintura e modelagem. Por meio deste trabalho, introduz a psicologia junguiana no Brasil. Alguns anos mais tarde, em 1956, mobilizando um grupo de pessoas motivadas pelas mesmas idéias, Nise realiza mais um projeto revolucionário para a época: a criação da Casa das Palmeiras, uma clínica destinada ao tratamento de egressos de instituições psiquiátricas, onde atividades expressivas são realizadas livremente, em regime de externato
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Nise da Silveira e Jung '

É responsável pela formação do Grupo de Estudos C.G. Jung, do qual foi presidente desde 1968. Suas pesquisas deram origem, ao longo dos anos, a exposições, filmes, documentários, audiovisuais, simpósios, publicações, conferências e cursos sobre terapêutica ocupacional, com destaque para a importância das imagens do esquizofrênico. Foi também pioneira na pesquisa das relações afetivas entre pacientes e animais, aos quais chamava de co-terapeutas.
Como reconhecimento da importância de sua obra, Nise da Silveira recebeu condecorações, títulos e prêmios em diferentes áreas do conhecimento: saúde, educação, arte e literatura. Foi membro fundador da Sociedade Internacional de Psicopatologia da Expressão, com sede em Paris, França. Seu trabalho e seus princípios inspiraram a criação de Museus, Centros Culturais e Instituições Psiquiátricas no Brasil e no exterior.
Nise faleceu em 30 de outubro de 1999, na cidade do Rio de Janeiro.
No ano de 2000, o Centro Psiquiátrico Pedro II é municipalizado e em homenagem à fundadora do Museu passa a chamar-se Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Siveira.


Retirado de Aleitamento. org



“A meta de todo tratamento psiquiátrico não pode mais continuar sendo a remoção de sintomas, porém a recuperação do indivíduo para a comunidade.
Um aspecto muito valorizado no sentido da reabilitação, é levar o doente a compreender a utilidade que terá para ele a prática das atividades expressivas com as quais se familiarizou durante o tratamento ocupacional, mesmo depois da alta.
Os trabalhos rotineiros (domésticos, industriais, burocráticos), são canais demasiado estreitos para dar escoamento às possíveis reativações do inconsciente, freqüentes naqueles que passaram pela experiência psicótica.
Por isso dar forma à situação psíquica sob o impacto de emoções, pintar sonhos e fantasias, será medida preventiva indicada contra recaídas na condição psicótica. Nosso ateliê de pintura está sempre aberto aos egressos e constantemente verificamos quanto lhes são proveitosas as manhãs que aí passam.
Nem sempre o objetivo do tratamento será necessariamente “aprender a levar uma vida convencional dentro dos padrões de ajustamento usados pela média dos chamados cidadãos sadios na nossa cultura” (Frieda Fromm-Reichmann). A oportunidade que o indivíduo teve quando doente, de descobrir as atividades expressivas e criadoras de ordinário tão pouco acessíveis à maioria, poderá abrir-lhe novas perspectivas de aceitação social através da expressão artística ou simplesmente (o que será muito) muni-lo de um meio ao qual poderá recorrer sozinho, para manter seu equilíbrio psíquico.
Um dos caminhos menos difíceis que encontrei para o acesso ao mundo interno do esquizofrênico foi dar-lhe a oportunidade de desenhar, pintar ou modelar com toda liberdade. Nas imagens assim configuradas teremos auto-retratos da situação psíquica, imagens muitas vezes fragmentadas, extravagantes, mas que ficam aprisionadas no papel, tela ou barro. Poderemos sempre voltar a estudá-las.
Foi observando-os e às imagens que configuravam, que aprendi a respeitá-los como pessoas, e desaprendi muito do que havia aprendido na psiquiatria tradicional. Minha escola foi nesses ateliês. “

20 anos de Terapêutica Ocupacional em Engenho de Dentro
Revista Brasileira de Saúde Mental, volume X - 1966
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Museu de Imagens do Inconsciente

História
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Emygdio de Barros



O Museu de Imagens do Inconsciente teve origem nos ateliês de pintura e de modelagem da Seção de Terapêutica Ocupacional, organizada por Nise da Silveira em 1946, no Centro Psiquiátrico Pedro II. Aconteceu que a produção desses ateliês foi tão abundante e revelou-se de tão grande interesse científico e utilidade no tratamento psiquiátrico que pintura e modelagem assumiram posição peculiar.


Daí nasceu a idéia de organizar-se um Museu que reunisse as obras criadas nesses setores de atividade, a fim de oferecer ao pesquisador condições para o estudo de imagens e símbolos e para o acompanhamento da evolução de casos clínicos através da produção plástica espontânea.
Em 20 de maio de 1952 foi inaugurado o Museu de Imagens do Inconsciente, numa pequena sala. Em 28 de setembro de 1956 passou a ocupar mais amplas instalações inauguradas com a presença dos ilustres psiquiatras Henry Ey, Paris; Lopez Íbor, Madrid; e Ramom Sarró (Barcelona) que se encontravam no Rio a convite da Universidade do Brasil. Já naquela data, segundo o professor Lopez Íbor, o Museu de Imagens do Inconsciente “reunia uma coleção artística psicopatológica única no mundo”.
O Museu não cessou de crescer. Diretamente vinculado aos ateliês de pintura e de modelagem, recebe cada dia novos documentos plásticos. Seu acervo reúne atualmente cerca de 300 mil documentos entre telas, pinturas, desenhos e modelagens.
O Museu é um centro vivo de estudo e pesquisa sobre as imagens do inconsciente, aberto aos estudiosos de todas as escolas psiquiátricas.
No dia 7 de junho de 1978 Ronald Laing deixou escrito que o trabalho aqui realizado “representa uma contribuição de grande importância para o estudo científico do processo psicótico”.
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Método

O método de trabalho no Museu de Imagens do Inconsciente consiste principalmente no estudo de séries de imagens. Isoladas, parecem sempre indecifráveis. Com surpresa verificar-se-á então que nos permitem acompanhar o desdobramento de processos intrapsíquicos. Assim, são organizadas séries de imagens de um mesmo doente, o que permite ao terapeuta melhor compreender a situação psíquica do autor das imagens. Outras seleções reúnem temas de incidência freqüente em diversos casos clínicos, como mandalas, rituais, metamorfoses, animais fantásticos, etc.
O trabalho no ateliê revela que a pintura não só proporciona esclarecimentos para compreensão do processo psicótico mas constitui igualmente verdadeiro agente terapêutico. As imagens do inconsciente objetivadas na pintura tornam-se passíveis de uma certa forma de trato, ainda que não haja nítida tomada de consciência de suas significações profundas. Retendo sobre cartolinas fragmentos do drama que está vivenciando desordenamdamente, o indivíduo dá forma a suas emoções, despotencializa figuras ameaçadoras.
A pintura permite detectar, mesmo nos casos mais graves, movimentos instintivos das forças autocurativas da psique buscando diferentes caminhos. A experiência demonstra que a pintura pode ser utilizada pelo doente como um verdadeiro instrumento para reorganizar a ordem interna.

Alguns artistas ''

Fernando Diniz


Nasceu em Aratu, Bahia, em 1918. Mulato, pobre, nunca conheceu o pai.
Aos 4 anos de idade veio para o Rio de Janeiro com sua mãe que era excelente costureira. Morando em promíscuos casarões de cômodos, costumava acompanhá-la quando ia trabalhar em casas de famílias ricas e abastadas.
Desde garoto o sonho de Fernando era estudar para ser engenheiro. Inteligente, foi sempre o primeiro aluno da classe. Chegou até o 1º ano científico mas abandonou os estudos.
Em 1949 vai para o Centro Psiquiátrico Pedro II onde começa a freqüentar a Seção de Terapêutica Ocupacional.
Quando chegou ao ateliê, não levantava a cabeça e sua voz baixa mal se ouvia. Ao ser perguntado sobre a razão da beleza de suas pinturas respondia: "- Não sou eu. São as tintas". Em sua obra mescla o figurativo e o abstrato, abarcando das mais simples às mais complexas estruturas de composição.
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Adelina Gomes ''


Moça pobre, filha de camponeses, nasceu em 1916 na cidade de Campos (RJ). Fez o curso primário e aprendeu variados trabalhos manuais numa escola profissional. Era tímida e sem vaidade, obediente aos pais, especialmente apegada à mãe. Aos 18 anos apaixona-se por um homem que não é aceito por sua mãe. Tornou-se cada vez mais retraída, sendo internada em 1937, aos 21 anos.
Segundo depoimento de Almir Mavignier "agressiva e perigosa esta foi a descrição que recebemos dela e que aconselharia a não aceitá-la no ateliê. Interessado, porém, nas bonecas que ela fazia no hospital, fui buscá-la num dia chuvoso, protegendo-a com um guarda-chuva. Esta atenção, tão normal, naquelas circunstâncias deve ter contribuído para conquistar sua confiança."
Apesar de sua atitude agressiva, negativista, não houve dificuldade para que aceitasse pintar quando começou a freqüentar o ateliê de pintura da Seção de Terapêutica Ocupacional em 1946. Inicialmente dedica-se ao trabalho em barro, modelando figuras que impressionam pela sua semelhança com imagens

Arthur do Rosario

Auto-Retrato
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Como é de costume, a sociedade faz pouco caso das pessoas que, por doença, opção ou um motivo qualquer, não se enquadram em determinados padrões considerados “normais”. Esse era o caso de Arthur Bispo do Rosário, hoje considerado um gênio das artes plásticas brasileiras, com trabalhos expostos em muitas salas fora do Brasil. Essa consagração se tornou concreta apenas no final de sua vida. Por muitos anos, ele esteve internado na Colônia Juliano Moreira, o maior e mais antigo manicômio do Rio de Janeiro, sob a acusação de ser um doente mental. Quem poderia imaginar que daquele estranho mundo pudesse sair um gênio da arte?
“A arte brasileira é surpreendente. De onde menos se imagina, aparecem esses belos trabalhos. Ninguém imaginaria que de uma clinica de alienados poderiam sair trabalhos para serem expostos na Alemanha, na Holanda ou na França. A Europa toda gosta dele”, observa o jornalista e pesquisador Luís Antônio Barreto, ao ser perguntado sobre a maior herança deixada por esse fantástico personagem urbano, nascido na cidade sergipana de Japaratuba.
Essa origem, que o próprio Bispo procurava esquecer, é intensamente lembrada por Luís Antônio, que chegou a ter contato com as obras que se tornariam famosas futuramente, em uma de suas primeiras viagens à capital fluminense, onde morou e trabalhou por quatro anos. “Não me recordo bem a época, mas cheguei a ter contato com algumas obras dele. Mas naquele tempo, não as associava a uma linguagem artística. Nem sabia que ele era sergipano”, conta ele, que só conseguia vê-lo como um dos muitos personagens urbanos que se destacaram no Rio de Janeiro, como o Profeta Gentileza e o Madame Satã.


Bispo do Rosário era um desses tipos. Ele veio de uma das muitas famílias pobres do Vale do Cotinguiba, que naquela época, passava por um período de estagnação econômica. A alternativa encontrada pelos jovens dessas famílias era a carreira militar. “Era comum que eles procurassem a Escola de Aprendizes Marinheiros, pois sabiam que, uma vez entrando na Marinha, garantiriam ter casa e comida, mesmo que não ganhassem um bom salário”, explica Luiz Antônio. Esse período difícil fez com que Arthur deixasse Japaratuba aos 15 anos de idade. Passou por Aracaju antes de se instalar definitivamente no Rio, em 1925. Deixou a Marinha oito anos depois. A partir daí, ele foi trabalhar como empregado de uma influente família carioca, que continuou garantindo-lhe a casa e a comida em troca de serviços.
Tudo transcorria dessa forma até a véspera do Natal de 1938, quando Bispo presenciou a chegada de um luminoso cortejo de anjos e soldados celestes. Eles lhe traziam uma mensagem de Deus: “Reconstrua o universo e registre a minha passagem aqui na terra”. Sob “ordens divinas”, ele deixa a casa dos patrões e vai para uma igreja, onde se apresenta como o homem “que veio julgar os vivos e os mortos”. Ninguém acredita. O fato é que após esse episódio, o visionário começa sua peregrinação por clinicas e hospícios, até chegar à Juliano Moreira.
Os registros do manicômio afirmavam que o ex-marinheiro sofria de “esquizofrenia parenóide”. O diagnóstico frio o condenava a um polêmico tratamento muito usado na época: o eletrochoque. Mas ele conseguiu escapar da sentença e passou a impor respeito. O segredo estava no boxe, esporte que praticou desde a época da Marinha. Com a condição de “xerife”, ele fica livre para cumprir sua missão de registrar a passagem de Deus pela Terra.
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Estandarte, por Bispo do Rosário
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Um Cristo envolto numa aura luminosa, protegido por sete anjos azuis. Esta foi a visão delirante com a qual se deparou Arthur Bispo do Rosário, no dia 22 de dezembro de 1938, no quintal de sua casa, no bairro carioca de Botafago. Caminhou, errante, por dois dias pelas ruas da cidade, antes de ser internado com o diagnóstico de esquizofrenia-paranóica na Colônia Juliano Moreira, onde viveu 50 anos (1939-1989). Ali produziu uma série de obras, que fazem parte do acervo do Museu de Imagens do Inconsciente e simbolizam a possibilidade do tratamento psiquiátrico humanizado e da inclusão social.
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Conclusão
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O Museu de Imagens do Inconsciente, nas palavras de Mário Pedrosa, “é mais do que um Museu, pois se prolonga de interior a dentro até dar num ateliê onde artistas em potencial trabalham, fazem coisas, criam, vivem e convivem.
Com efeito, se foi reunindo ao acaso todo um grupo de enfermos - esquizofrênicos tirados do pátio do hospício para a seção de terapêutica ocupacional, desta para o ateliê, do ateliê para o convívio, onde passou a gerar-se o afeto e o afeto a estimular a criatividade”.
Mostrando em incontáveis documentos as vivências sofridas pelos esquizofrênicos, bem como as riquezas do seu mundo interior invisíveis para aqueles que se detêm apenas na miséria de seu aspecto externo, o trabalho realizado no Museu de Imagens do Inconsciente aponta para a necessidade de uma reformulação da atitude face a esses doentes e para uma radical mudança nos tristes lugares que são os hospitais psiquiátricos.

Jung visitando a exposição “ A Esquizofrenia em Imagens” promovida pelo
Museu de Imagens do Inconsciente em Zurique, 1957
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e conheçam a fundo este maravilhoso trabalho humano!!
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