"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Mestres dos Quadrinhos Eróticos – Serpieri I


Começarei uma série com alguns dos principais autores de quadrinhos eróticos (em minha modesta opinião, já que sou apreciadora, não especialista).
Na realidade, tentei iniciá-la há alguns meses lá no Lágrima Psicodélica,
com a ajuda do meu queridíssimo amigo Johnny F., mas me surgiram outras e outras e mais outras idéias durante o
percurso e interrompi a série...
Irei renovar a hospedagem das edições da Druuna em francês, só peço que tenham um pouco de paciência, pois o farei aos poucos...
Neide

Textos retirados daqui, um ótimo trabalho de análise feito por um
irmão nosso brasileiro!!
Altamente recomendado à todos!!
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“Tentação a Italiana”
Autor: Gonçalo Junior
Editora: Opera Graphica, 2005

A Segunda Guerra Mundial não tinha acabado ainda, quando Paolo Eleuteri Serpieri veio à luz em 29 de fevereiro de 1944, na milenar cidade de Veneza. Como todo italiano de sua época, ele cresceu entre seus escombros, muita pobreza e desemprego, durante o esforço para reconstrução do país, vastamente destruído pelos bombardeios inimigos. Veneza, a cidade do amor, como ficou conhecida, com seus muitos canais de mais de uma centena de pequenas ilhas, felizmente, fora poupada dos ataques bélicos. Mas nenhum italiano deixou de ser afetado de alguma forma pelas conseqüências do grave confronto.
“Our Pilgrimage honours those who died in the Allied landings in Italy and the advance towards Rome between September 1943 and June 1944”.

O trauma da guerra e, principalmente, da derrota, deve ter contribuído para a formação da personalidade do menino retraído e observador que se refugiou na arte.. Desde pequeno, Serpieri se interessou pela história de sua cidade, suas pinturas, seus monumentos – alguns deles, majestosos ícones da cultura ocidental, como a Catedral de San Marco e o Teatro La Fenice. Nem mesmo aprendeu a ler e a escrever e passava tardes a reproduzir desenhos de todos os gêneros. Nessas primeiras experiências, deixava fluir a imaginação e se transportava para as mais distantes e incríveis paisagens, com seus povos exóticos e cheios de aventura.
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Pompeii
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Catedral San Marco
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Teatro La Fenice

Quando ainda era bem jovem, sua família se mudou para Roma, uma cidade ainda mais rica e antiga, com construções de grande importância para a história da civilização ocidental. Seu estilo era intrigante, sedutor e de grande imponência. Na capital italiana, Serpieri estudou no Liceu Artístico, onde se aperfeiçoou na arte figurativa e agregou a técnica a seu enorme talento natural. Tornou-se pintor, ilustrador e escultor tão elogiado que, com pouco mais de 20 anos, esse fã do pintor Renato Guttuso (1911-1987) foi convidado pela escola a permanecer como professor de anatomia. Sua principal característica era a perfeição de seus traços e as noções de desenho do corpo humano.

"Renato Guttuso", by Mario Schifano (1976, tecnica mista)

A seguir, algumas pinturas de Guttuso:
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Nudo di donna, 1980
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Van Gogh porta il suo orecchio tagliato al bordello di Arles, 1978
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Studio per il Gineceo, 1985
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E assim ele trabalhou até meados da década de 1970. Nesta época, Serpieri se dedicava às Artes Plásticas. Então os quadrinhos finalmente entraram em sua vida. O professor tinha maisde 30 anos de idade, em 1975, quando publicou suas primeiras aventuras na famosa revista italiana “Lanciostory”. A colaboração nasceu de um convite do editor e seu amigo Michele Mercurio.




Em seguida, para a editora Larousse, desenhou episódios da “Historie du Far West” – publicada no Brasil pela Brasil-América (EBAL) na década de 1970 (“Epopéia”) e pela Record nos anos de 1990. E começou a participar com quadrinhos de faroeste da “Skorpio” (publicado pela carioca Vecchi a partir de 1979) (“História do Oeste”), outro importante gibi editado pelo grupo Bonelli, responsável na época pelas revistas “Tex”, “Zagor” e “Ken Parker”, entre outras.'
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Desenhar índios americanos com suas vestimentas típicas se tornou uma obsessão para Serpieri nesse período. Afinal, a Itália vivia o auge do “movimento” conhecido como “bang-bang spaghetti”, que tomara conta dos quadrinhos e do cinema nas últimas três décadas. Entre seus personagens estava uma versão do general Custer, que ganhou vida na “Skorpio” em 1979.


Ainda nessa fase, Serpieri fez uma série de ilustrações para o ambicioso projeto de uma edição da Bíblia em quadrinhos, também publicada pela Larousse. “Eu sou um profissional e aquilo foi um trabalho”, afirmou o desenhista muitos anos depois para justificar a experiência com temas religiosos. Ele disse ainda ter grande respeito e uma real fascinação pela figura de Jesus Cristo.

“Sua história está entre as mais belas, fortes e emocionantes da história do homem, mas eu sou totalmente agnóstico, a Bíblia é divertida, é um mundo aventureiro que eu amei recriar, mas esta história ficará como parênteses na minha vida”.
Os quadrinhos, então, tinham se tornado uma paixão para o ex-precoce professor de anatomia. E ele partiu para experimentar outros gêneros. Em 1982, deu início à produção de aventuras com toques de ficção científica, gênero que havia conquistado recentemente status nos quadrinhos da Europa, graças a artistas revolucionários como Moebius e com o lançamento de duas importantes revistas de vanguarda, a francesa “Metal Hurlant” (que ganharia versões internacionais homônimas) e “Heavy Metal” (editada nos EUA e que diferenciava da primeira apenas no título). Um de seus primeiros trabalhos no gênero foi “Force”, uma história de 7 páginas na qual um casal fragrado nu era atacado por monstros. '
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Esta Heavy Metal aqui, de 1984 tem uma história do Serpieri chamada
“Childrem of the Future”

O flerte quase simultâneo com o erotismo veio com certa discrição. Como se pôde notar em “L’Indiana Branca”, a história de Sarah, uma bela moça branca criada por índios. Em 1984, Serpieri desenhou para a revista “L’Eternauta” a aventura “La Bestia”, uma ficção científica ambientada num clima mexicano. Sua fama como quadrinhista, no entanto, não foi muito além do círculo de fãs e colecionadores italianos e franceses.
Até que, em 1985, durante uma convenção de quadrinhos na Espanha, ele comentou com amigos e colegas que estava cansado de fazer gêneros de quadrinhos que exigiam muita pesquisa e pouco retorno. Por isso, anunciou que estaria lançando em breve um grande sucesso, com o qual ganharia muito dinheiro.
Havia em suas palavras uma notável certeza no êxito de seu misterioso projeto. Para os companheiros, certamente soou mais uma brincadeira. Serpieri falava sério. Ele tinha se entregado muito tempo antes à produção do primeiro episódio de Druuna. A dedicação cega e a extrema confiança no resultado levaram o desenhista a criar expectativa em si próprio durante sua viagem à Espanha.'


No mesmo ano, a revista “L’Eternauta” publicou a introdução de “Morbus Gravis”, que saiu em forma de minissérie. As primeiras reações dos críticos, porém, foram de desconfiança. Alguns chamaram sua voluptuosa personagem, com certo desdém, de “A Barbarella que comeu muito spaguetti”. Mas o artista sabia do potencial de sua criação e deu tempo ao tempo para que todo o episódio fosse completado. Sua expectativa, enfim, confirmou-se. Serpieri ganhou o mundo.

E muito dinheiro também.
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Um comentário:

Anônimo disse...

Neide, obrigado pelas palavras carinhosas a respeito do meu trabalho. Sabe, estou tentando cavar uma oportunidade legal pra mostrar minha arte, se assim posso dizer. E vc veja como são as coisas: ainda teve um engraçadinho que deixou um comentário infeliz no post lá no Fireball. Olha, deixa eu selecionar umas imagens pra te enviar. Se vc puder me enviar um e-mail para gveneroso@hotmail.com. Muito legal este post do Serpieri. Tem muita gente boa pra ser mostrada no Portifolio-X e fico muito feliz por tê-lo encontrado. Aguarado resposta.

Gerald