"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

sexta-feira, 15 de junho de 2007

Homenagem a Syd Barrett - Crazy Diamond Box

''
Texto adaptado a partir do original de Altair dos Santos,
que encontrei aqui
''
Johnny querido amigo este post é um presente para você...
Se um dia, por algum desses motivos loucos da vida perdermos o contato,
vamos lembrar sempre da nossa amizade através destas belas imagens do nosso Syd Barrett.

Um eterno abraço de sua amiga e pupila Neide!!


Roger Keith Barrett nasceu no dia 6 de Janeiro de 1946 em Cambridge/Inglaterra. Na infância estudou na escola Cambridge High School, especializada em educar garotos, e foi aí onde adquiriu o apelido 'Syd' e conheceu George Roger Waters e Dave Gilmour. Não se sabe ao certo, pela falta de dados, mas com certeza Syd era de uma família bem abastada, e com a perda do pai empobreceu, levando sua mãe a alugar quartos para garotas universitárias no intuito de aumentar a renda familiar. A perda do pai talvez tenha sido o fator da inclinação de Syd para a rebeldia.
Segundo um relato de Syd, ele resume sua infância: "Supõe-se que todo mundo foi feliz na infância; não sei porquê, eu nunca fui" .


Seu primeiro instrumento adquirido aos 11 anos foi o ukelete (banjo ou o cavaquinho para os brasileiros), e logo depois ganhou um violão dos pais - " O primeiro que eu tive foi um violão acústico Hoffner #12, toquei nele durante 1 ano. Era um violão barato, e aprendi a tocar com livros e com os amigos..." [...] "Aos quinze anos dei um passo adiante ao me tornar um orgulhoso possuidor de uma guitarra elétrica. Com um pequeno amplificador que eu mesmo fabriquei entrei para meu primeiro grupo, 'Geoff Mott and the Mottoes' e nos apresentamos no Futurama II. Tocávamos em festinhas, algumas músicas eram originais, mas tocávamos principalmente músicas instrumentais do 'The Shadows' e alguma canções americanas ...Geoff Mott era um grande vocalista ... Será que alguém sabe o que aconteceu com ele ?" [...] "Por alguns anos, desde que eu tinha 16, não estive em nenhum grupo em particular, durante este tempo comprei uma guitarra de 12 cordas e um baixo Hofner, o qual comecei a tocar mais tarde em outro grupo local, 'The Hollering Blues'".
Quando adolescente, Syd se aventurou em viajar pela França se sustentando com os trocos que ganhava tocando folk-rock. De volta a Londres, Syd ingressa na Camberwell School of Art (Londres), e volta a ter contato com o amigo Roger Waters, que havia montado uma banda chamada Sigma 6 — Nicholas Mason (bateria), Richard William Wright (teclados) e Clive Metcalfe (baixo).
''




Quando Syd Barrett se juntou aos amigos Roger Waters, Rick Wright e Nick Mason, para fazer um som em 1965, era a explosão do movimento hippie — sexo, drogas e rock 'n roll. Parte deste movimento vinha do outro lado do Atlântico, mais precisamente em São Francisco/EUA, furor que as bandas Byrds e Jefferson Airplane causavam com seu 'sound technicolor' diferente. Waters, Mason e Wright já vinham tocando há um ano juntos, e havia indecisão quanto ao nome e o som, que variava em rhythm 'n blues. Syd de cara sugeriu o nome Pink Floyd, dizendo que 'lhe viera em uma visão', mas na realidade era o nome de dois bluesmen — Pink Anderson e Floyd Council.


1967

In Amsterdan

Syd era um tipo excêntrico e já havia tido contato com drogas... Mal sabiam eles que este estilo junkie de Syd marcaria para o resto da vida a imagem do Pink Floyd. Syd acabou se tornando o guru da banda, era um gênio e tinha idéias diferentes, segmentos da contracultura, próprio para o momento. Não foi difícil perceber o quão era ingênuo e tradicional o experimentalismo que os americanos executavam na estética psicodélica. Nesta formação, fizeram diversos shows e se envolviam em causas políticas, fizeram o debut de gala no show que aconteceu no London Free School at All Saint's Church Hall, e executaram diante uma platéia ativista os novos sons que emergiam do underground. Esta apresentação virou notícia no International Times
''

Quando conheceram Joe Boyd no fim de '66 ganharam um incentivador, pois Boyd providencia para que aqueles rapazes gravassem uma demo tape. Nesta demo, há praticamente o 1º disco do Pink Floyd. Porém, quando esta fita foi apresentada a EMI, de cara ela descartou "Interstellar overdrive", e resolveu investir nas canções: "Arnold Layne" e "Candy and a currant bun", lançando-as no primeiro compacto da banda. A letra de "Arnold Layne", escrita por Syd fala sobre um rapaz que rouba do varal peças íntimas de mulheres. E em "Candy and a currant bun" conta a lenda que o título real era "Let's roll another one" (vamos enrolar mais um). O compacto com gravações retiradas de uma demo tape que a banda havia feito através de Boyd, chegou ao Top 30 na Inglaterra, lucro total pra EMI. No segundo compacto já no estúdio Sound Techniques, gravaram as canções "See Emily play" e "Scarecrow". "Arnold Layne" e "See Emily play", ambos sucessos de Syd. Roger Waters comenta as canções: — "nos recusávamos de tocar tais canções ao vivo. O formato de 3 minutos não encaixava em nossas performances [...] o público ficava furioso e nos jogavam garrafas". Tudo parte da contracultura exercida pelos rapazes do Pink Floyd.
O antipuritanismo do Pink Floyd prosseguiu nas canções de Barrett, que foi responsável por 10 composições das 11 que há no álbum "The piper at the gates of dawn" (EMI, 1967), primeiro disco do Pink Floyd. Dono de um estilo único, criou um conceito psicodélico musical cercado de muito LSD e rock 'n roll. Barrett tinha um estilo sintético de compor, com ótimas letras em colagens abstratas, e explorando os temas mais alternativos — estética que ele mesmo definia como arte de laboratório. E foi esta genialidade que fez com que o disco "The piper at the gates of dawn" destacasse diante o disco "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band" dos Beatles que também era lançado no mercado no mesmo ano. Ambos os discos foram gravados nos estúdios do lendário Abbey Road (Londres/UK), o Pink Floyd no estúdio 1 (que era de uso exclusivo para gravar orquestras), e o Beatles no estúdio 2 (o único estúdio que continha uma mesa de 8 canais). Conta a lenda que Syd e John Lennon fumavam baseados escondidos nos banheiros do Abbey Road, e depois passavam horas trocando idéias musicais.
''


Como os Beatles haviam parado de tocar ao vivo, o Pink Floyd resolveu atravessar o Atlântico e promover o disco em território americano, uma via crucis que era comum na Inglaterra. Ademais, Syd já havia aprontado em terras inglesas, como em sua aparição no programa "Top of the pops" da BBC, indo com um aspecto sujo e completamente 'fora do ar'. A viagem poderia ser uma boa para anuviar a memória de todos, mas não foi bem assim... tecnicamente... quando eles foram a São Francisco em '67, Ken Kesey e o Grateful Dead estavam encrencados com o tribunal de justiça que alegavam apologia a drogas; A polícia americana que até então fazia vista grossa ao uso de drogas, passou a fechar o cerco contra os usuários, e por fim, a liberdade sonora estabelecida pelo Pink Floyd era muita para a sociedade protestante americana; Ademais, Syd gerou surpresas em cada local que passaram nos Estados Unidos. Citemos a história clássica do programa "Pat Boone", onde ele responde as perguntas somente com um 'olhar no infinito', e que por sua vez estavam maquiados para disfarçar as olheiras da 'trip'. Roger Waters conta o fato do momento em que tocaram em playback a canção "Apples & oranges": — "era muito fácil pra ele... era só dublar, mas ele não mexia um músculo. Paravam tudo e repetiam. Ele sabia perfeitamente o que estava acontecendo, mas estava se fazendo de louco. Fizemos 4 ou 5 takes assim e no final acabei fazendo a mímica". É claro que sabia, estava escrito nos olhos e no sorriso discreto no canto da boca. Para um indivíduo que era provido de contracultura (se negavam a tocar canções de 3 minutos em shows), fazer um playback num programinha de televisão para promoção, devia ser humilhante para Syd. O resto da banda não curtiu muito as atitudes de Syd, em solo americano. Achavam que era uma má-fase devido ao grande uso de drogas lisérgicas por parte de Syd .



Visando a melhora pessoal de Syd, o Pink Floyd resolve o afastar da banda, colocando-o, segundo Rick Wright "na mesma posição de Brian Wilson [...] ficaria em casa somente compondo". Mas não foi bem isso o que aconteceu... Para substituir Syd nos shows foi chamado Dave Gilmour. Ora, Syd de tão viajandão, tocava nos shows uma única nota o tempo inteiro. Como quinteto apareceram somente uma vez no programa "Top gear" da rádio BBC. Após isso, sem Syd, concluíram a agenda de shows do disco "The piper at the gates of dawn" com David na guitarra, começando a gravar o segundo disco — "A sacerful of secrets".
Syd comparecia nas gravações, mas não deixavam ele tocar. E no final das contas, saiu somente "Jugband blues" e "Remember a day" com a sua participação . Oficialmente, no dia 2 de março de 1968, Syd estava fora da banda. A 'imagem' de Syd vinculada ao Pink Floyd estava incomodando a EMI na época, e quanto mais afastado ele se mantivesse, melhor seria. Como 'consolo' ao afastamento do Pink Floyd, a gravadora adjunta a Waters e Gilmour (como produtores), concede a Syd o 'direito' de gravar seu 1° disco solo.
Por dois anos, Barrett teve que se encaixar na agenda do Pink Floyd (que investia nas trilhas "More" , "Zabriskie point" e o ao vivo "Ummagumma") para poder gravar seu disco. Algumas gravações aconteceram entre maio e junho de '68 e as outras entre abril a julho de '69. Todas as gravações foram feitas no estúdio 3 do Abbey Road, que continha uma mesa de 4 canais e um ambiente pequeno (sofá e cadeira), era próprio para gravar guias de voz e violão. E no final das contas, Malcolm Jones assina metade da produção do disco que sai em janeiro de 1970. As canções de trabalho eram "Octopus" e "Golden hair" que haviam saído em compacto em dezembro de '69.


MODIFICANDO A VISÃO''

Somente em janeiro de 1970 (Harvest/EMI) "The madcap laughs" chega às lojas. Inicialmente, os créditos da produção estão nos nomes Gilmour/Waters (6 faixas), mas como já dito, Malcom Jones trabalha em 5 faixas, e o próprio Syd Barrett também trabalha na produção do disco. Pode parecer um trabalho ingênuo ou inocente na visão de um crítico ou um músico profissional, mas são 13 canções embebidas em ácido, com letras, melodias e harmonias em formatos originais. Uma aula de psicodelia. Da primeira canção ("Terrapin") a última ("Late nigth") faz deste, um dos melhores discos autorais de todos os tempos.
''
Madcap Laughs Sessions
''





No mesmo ano, sai o disco "Barrett", que é todo produzido por Dave Gilmour (compensando o anterior). Como se percebe, foi mais agilizado que o outro disco. Nos meses de fevereiro, junho e julho de '70, as gravações aconteceram quase que num 'click' só. A canção "Gigolo aunt" aparece com até 15 takes gravados. Este disco tem uma aura amistosa, relaxada. Até mesmo as conversas de Gilmour e Barrett (pelo p.a. - nos bônus, tem outtakes das mesmas canções]) são de bom tom.
''

“Barrett” Sessions
''



Depois disso (por uns dez anos), Barrett se torna o messias do rock, sendo o personagem 'vivo' que obtém os mais cabeludos 'causos' do rock. Eis alguns: 1) após a saída de Barrett do Pink Floyd, o escritório da banda recebia constantemente telefonemas de várias pessoas (em diversos lugares distantes) que ao mesmo tempo, afirmavam ter visto Barrett; 2) que Barrett apareceu nas gravações do disco "Dark side of the moon" do Pink Floyd com uma guitarra sem cordas; 3) ainda no "Dark side...", surgiu outra 'estória' dizendo que Syd aparecera no estúdio nu, e com todos os pêlos do corpo raspados, e ainda pulava o tempo todo escovando os dentes; 4) que ao se recolher na casa de sua mãe, na sala haviam diversas televisões empilhadas, uma sobre a outra e ao lado da outra, e que Syd assistia uma em cada canal, ao mesmo tempo; 5) quando jovem, Syd fez parte de uma seita religiosa secreta; 6) que em uma apresentação do Pink Floyd (ainda com Syd na formação), quando foram aos Estados Unidos, Syd aplicou uma mistura de creme no cabelo, e sob os holofotes fortes, o creme começou a escorrer sob o rosto de Syd, quando todos pensaram que Syd estava derretendo; 7) que ao iniciarem as gravações do "Madcap...", sob a produção de Peter Jenner, Barrett tinha surtos e quebrava todo o estúdio (segundo Jenner, ele não aceitava o motivo de seu afastamento da banda), motivo o qual Malcom Jones assume a produção.
Syd foi pra um lugar onde poucos estiveram e voltaram. Em uma declaração à revista Rolling Stone (em '71), Syd se declara "perfeitamente inteiro".
''
Opel Sessions
''


Em '71, Syd se apresentou no Kings College (Cambridge/UK), com os músicos Eddie (guitarra), Jack Monch (baixo) e Twink (bateria). O show foi um sucesso (num certo ponto de vista), e a empolgação foi tanta que formaram o banda "Stars", que não deu certo pois Syd boicotou os demais shows marcados. E foi nesse período que ele começou a se afastar do cenário musical, voltando a viver na casa de sua mãe e dedicando-se mais à pintura e jardinagem.

Rolling Stone Sessions 1971
''



1974
''

1975, durante gravações de Wish You Were Here
''

Na década de '80, "See Emily play" (compacto do Pink Floyd), volta às paradas. Quando em '88 é lançado o disco "Opel" de Syd Barrett, que contém os outtakes das gravações dos dois primeiros discos. De lá pra cá, Syd recebeu algumas homenagens, como a compilação do disco "Beyond the wildwood - a tribute to Syd Barrett", lançado pela Dutch Eats Ind (Alemanha), retirado do programa de John Peel. Surgiram também fanzines especializados na obra de Syd (isso já na época do disco "Madcap"), entre eles o "Terrapin", e recentemente o "Anderson Council". E vários livros especializados na vida de Barrett foram lançados, que de certa forma servem mais para tabular e comparar dados, pois os mitos sobre a 'lenda Barrett' são tantos, que acabam se vinculando ao personagem.
Falece em julho de 2006, serenamente, segundo algumas fontes...
''
1982
''

90's
''

2002
''

2007
''


Syd Barrett - Crazy Diamond Box Set''
''
Disc: 1

1. Terrapin
2. No Good Trying
3. Love You
4. No Man's Land
5. Dark Globe
6. Here I Go
7. Octopus
8. Golden Hair
9. Long Gone
10. She Took A Long Cold Look
11. Feel
12. If It's In You
13. Late Night
14. Octopus (Takes 1 & 2)
15. It's No Good Trying (Take 5)
16. Love You (Take 1)
17. Love You (Take 3)
18. She Took A Long Cold Look At Me (Take 4)
19. Golden Hair (Take 5)
''
''
Disc: 2

1. Baby Lemonade
2. Love Song
3. Dominoes
4. It Is Obvious
5. Rats
6. Maisie
7. Gigolo Aunt
8. Waving My Arms In The Air
9. I Never Lied To You
10. Wined And Dined
11. Wolfpack
12. Effervescing Elephant
13. Baby Lemonade (Take 1)
14. Waving My Arms In The Air (Take 1)
15. I Never Lied To You (Take 1)
16. Love Song (Take 1)
17. Dominoes (Take 1)
18. Dominoes (Take 2)
19. It's Obvious (Take 2)


''
Disc: 3

1. Opel
2. Clowns & Jugglers
3. Rats
4. Golden Hair
5. Dolly Rocker
6. Word Song
7. Wined And Dined
8. Swan Lee (Silas Lang)
9. Birdie Hop
10. Let's Split
11. Lanky (Part 1)
12. Wouldn't You Miss Me (Dark Globe)
13. Milky Way
14. Golden Hair
15. Gigolo Aunt (Take 9)
16. It Is Obvious (Take 3)
17. It Is Obvious (Take 5)
18. Clowns & Jugglers (Take 1)
19. Late Night (Take 2)
20. Effervescing Elephant (Take 2)


''
Syd Barrett, gênio de talento incompreensível, acrescentou ao rock uma linguagem única. O fato dele ter começado a tocar ukelete quando pequeno, adicionou seu diferencial a partir dali, pois já, desde cedo, teve conhecimento de afinações de cordas diferentes do violão. A autenticidade está nesta raiz, nos sons estranhos que ele adicionava às canções do Pink Floyd... O fato de Syd se afastar do cenário é compreensível depois de tantas decepções, quando ele volta às raízes — a pintura (lembrando que ele fez faculdade de artes). Sua obra, tanto plástica como sonora, ainda incompreensível pelo mundo, faz deste gênio um herói de um tempo.
''
Syd’s painting 1963



Nenhum comentário: