"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Divulgação - Kraftwerk The Mix

Link: Ser da Noite
Texto retirado de Beatrix
Montagem:
Neide



“...E o Kraftwerk deu as caras em 1991 após um longo exílio com o disco The Mix. The Mix surpreendeu por ser um disco de remixes. Estaria o Kraftwerk dando um passo para trás em uma carreira pontuada pela ousadia e pelo olhar no futuro? Não para Ralf Hütter.
“Estávamos trabalhando nas faixas para a execução ao vivo, gerando sons digitais e sampleando nossas velhas fitas. Por isso, não são remixes, mas regravações completamente novas." Ralf explicou também que deixaram alguns clássicos de fora para usarem apenas faixas que combinavam. "Tivemos que sacrificar algumas faixas em nome de uma unidade."
Ele alegou que não colocaram nenhuma faixa dos três primeiros discos porque não tocavam mais esse material desde os anos de Autobahn.
Uma das primeiras diferenças presentes no novo trabalho era a ausência dos percussionistas Karl Bartos e Wolfgang Flür. Bartos havia deixado o Kraftwerk em 1987 criticando os métodos de Ralf e Florian, o que aumentava os boatos de que os dois exerciam uma tirania interna. Flür acabou saindo do Kraftwerk em 1990, antes de cinco concertos programados para a Itália. Nesses concertos, Wolfgang acabou sendo substituído por Fritz Hilpert. Sobre a mudança, Ralf explicou: "agora temos um engenheiro eletrônico ao invés dos dois antigos percussionistas e temos mais eletrônica, mais programação e mais engenharia de som."
Flür deu sua própria versão sobre sua saída da banda: "o Kraftwerk era um grupo que se concentrava apenas em si mesmo. No início dos anos 80, quase ninguém podia avançar neste universo. Existia uma lei interna que pregava a imobilidade e isso matou nossa inspiração. Karl e eu queríamos participar mais da criação musical. Deveríamos ter efetuado mais intercâmbios com outros músicos. Além disso, Ralf e Florian passam mais tempo preocupados com ciclismo do que com a música.
Wolfgang explica que o desgaste já vinha há vários anos: "o auge de toda a tensão foi durante a excursão de Computer World. Naquela viagem pudemos notar nossos limites pela primeira vez. Após a partida de Emil Schult, que era uma espécie de pai para o grupo (acompanhava Kraftwerk nas viagens desde 1975), um elemento chave ficou faltando. E com o controle cada vez mais autoritário de Ralf e Florian eu não vi outra alternativa, a não ser deixar o Kraftwerk."
Na excursão de The Mix, o Kraftwerk excursionou e tocou com Hilpert e com o português Fernando Abrantes, que depois foi trocado por Henning Schmitz, embora o robô de Abrantes continuasse aparecendo nas turnês. Sobre isso, Ralf disse: "é muito mais fácil trocar um membro do que um robô!"
Hütter, aliás, explicou que ele nunca se viu como um ser humano e sim como um autômato: "em alemãp, os sobrenomes são frequentemente de profissões, como Müller (mecânico) e Bauer (fazendeiro). Eu não me sinto como Sr. Hütter, ou mais precisamente como Sr. Kraftwerk. Eu me sinto como um robô."




Hütter afirmou que nunca ligou muito para o aspecto humano dentro do grupo, apenas para o aspecto profissional: "alguns dizem que produzimos pouco, mas a verdade é que trabalhamos duro todos os dias. Nós digitalizamos completamente nossas músicas antigas, elas estão todas salvas em disco rígido. É o nosso arquivo sonoro. Ele nos fará permanecer. Além dos mais, acho bela a solidão. O silêncio é importante para o ser humano, porque somos constantemente incomodados pelo ruído da música. É por isso que exijo dias de silêncio total."
Esse tipo de pensamento fez com que alguns rotulassem o grupo de fascistas e de estabelecerem uma verdade extremamente cruel com o mundo: "é bobagem essa coisa de nos chamarem de fascistas. Apenas temos uma maneira de trabalhar, que pode ser dura para outras pessoas. Mas o nosso tipo de som exige uma postura totalmente diferente. E o fato de nos confraternizarmos pouco com nossos fãs é mentira. Gostamos de conversar com as pessoas", afirmou Ralf.
Mas Ralf disse que apesar de todas as críticas, o grupo sempre esteve interessado pelos problemas cotidianos: "a tecnologia hoje está mais próxima do que sempre sonhamos. As limitações estão diminuindo e nossa música é cada vez mais espalhada pelo planeta. Eu adoro sair para dançar e ouvir essas novas bandas usando idéias que tivemos. Ao mesmo tempo, tento reduzir os estímulos externos. Não ouço música, faço música no estúdio e quando saio de casa gosto de ouvir os sons que o ambiente oferece."
A excursão de The Mix coincidiu com o começo da reunificação alemã após o final da União Soviética e Ralf disse que ficou frustrado com a falta de estímulo das pessoas após o ocorrido: "eu não sei porque está tudo tão modorrento, já que era para estar acontecendo uma avalanche de idéias, seja na música, na literatura ou no cinema. Mas nada aconteceu."
Uma das coisas que mais preocupavam o líder do Kraftwerk era a massificação humana: "não há muita personalidade hoje e não acho que o mundo seguirá um grande líder como aconteceu antes. Agora o movimento se dá através de uma ditadura de massas, do controle remoto. Não vejo sentido em eleições porque votar não significa estar escolhendo algo de qualidade."


A excursão promocional de The Mix levou anos para terminar e algumas apresentações ficaram na história, como a de junho de 1992, em Manchester, em um concerto contra as armas nucleares. Após o sucesso retumbante e a aclamação geral, o grupo voltou a hibernar longamente.”


The Mix (1991)
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1. Robots, The
2. Computerlove
3. Pocket Calculator
4. Dentaku
5. Autobahn
6. Radioactivity
7. Trans Europe Express
8. Abzug
9. Metal On Metal
10. Homecomputer
11. Music Non Stop

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Ralf Hütter: Praga,1991

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