"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Calígula, de Tinto Brass - Original Soundtrack by Bruno Nicolai

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Dedicado aos que me acompanham...
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“A excêntrica obra cinematográfica dos anos 70 me inspira. Primeiramente, por lidarmos com grandes nomes, muitas mentes em efervescência e divergências bastantes para criar um erro em película. Em primeiro lugar, temos Gore Vidal, roteirista e pesquisador da história Italiana, que nos proporcionou textos como o aclamado e premiado Ben-Hur. À procura de financiamento para seu filme, ele cai nas mãos de ninguém menos do que Bob Guccione, fundador e editor da revista Penthouse e, na época, um dos homens mais ricos dos EUA. Um artista frustrado em sua juventude, Guccione logo acerta as contas e decide investir todo o necessário para que o filme seja feito, estipulando um gasto em torno de 17 milhões de dólares, tirados do próprio bolso. Com algumas cláusulas, no entanto. O filme deveria ser extremamente fiel à Roma da época, em seus diversos aspectos; o filme deveria ser uma superprodução e contar com astros, cenógrafos e figurinistas do maior calibre; levar às telas, como forma de atrair o público ao consumo de sua revista, as próprias modelos da Penthouse.
Como cláusula última, Bob Guccione decidirá quem irá dirigir a obra. E ele aponta o dedo para Giovanni Brass, mais conhecido como Tinto Brass. Tinto Brass foi autor de filmes avant garde como "Nerosubianco" e "L'Urlo", porém, foi mais aclamado pelo sexploitaition chamado "Salon Kitty" - filme que levou à escolha de Guccione. Hoje, Tinto Brass é um dos grandes nomes do cinema erótico europeu.


Uma célebre frase resume sua personalidade perante a indústria cinematográfica: "I put two balls and a big cock between the legs of the Italian cinema!". 3 líderes com diferentes visões.
Unindo-se a eles, o poder das atuações de Peter O'Toole, John Gielgud, Helen Mirren (na época, uma brilhante atriz do teatro Shakespeareano Inglês) e Malcom McDowell – o preferido de Kubrick, com seu olhar de psicopata, talvez no melhor papel que já lhe foi oferecido, de um filme que pretendia muito mais do que conseguiu. O filme foi consumido primeiro pelas divergências ideológicas de quem liderava o projeto, depois pela censura, pela crítica narcisista e pelo próprio meio hollywoodiano que o tinha desde o início como uma ovelha negra a ser rejeitada (sem dúvida, pela participação de Bob Guccione na produção - a América fascista mostra mais uma vez sua cara e aponta as bruxas da vez. Isso sem contar a direção de um Italiano, algo que fere também o ego cinematográfico dos EUA, visto que a Itália foi sua grande inimiga nas produções de Westerns, o que os Italianos, inclusive, faziam melhor). O filme terminou rejeitado por Vidal, rejeitado por Tinto, rejeitado pelos atores que participaram. McDowell até hoje afirma ter remorso. John Gielgud, mais despojado, rí quando fala, após o fim das filmagens, que ele terminou sua participação em seu "primeiro filme pornográfico". O único que ainda o acolheu foi o pornógrafo Guccione, que hoje ainda tenta abrir os olhos do povo para a beleza do mesmo. Sem êxito, no entanto.

Conflitos ideológicos...

Bob Guccione e Giancarlo Lui

Clique na imagem para ver as pinturas de Guccione
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De um lado, Gore Vidal deseja mostrar o filme com brilhantina demais, fugindo à imagem decadente que convém à Roma da época, e tentando criar um épico "politicamente correto" onde Calígula será dramatizado como um suposto "vilão maluco e excêntrico". Não excêntrico o bastante, claro. Excêntrico dentro dos limites da normalidade de nossa sociedade. Logo, de outro lado, se posicionam os artistas do feeling, Tinto Brass e Malcom McDowell, que, juntos visualizam o Calígula inteligente, quase um anarquista que quer testar até o limite o seu poder como imperador, quase um mártir que põe sua vida em risco, destruindo as burocracias e as organizações de dentro para fora, permitindo todas as liberdades e satirizando o Senado para mostrar uma ideologia, mesmo que seus atos o levem a morte. O desapego à vida, resultado do processo que se constrói desde seu nascimento até sua maturidade, vem à tona de uma forma cáustica e cruel, sadomasoquista e irresponsável, deixando rastros de perversão e morte até o seu fim desejado. Para tanto, Tinto Brass propõe imagens surrealistas, cenários bizarros e todos os aspectos fora da realidade histórica - a exemplo da gigante máquina que corta cabeças, e dos diversos aparatos sexuais no palácio de Tibério (Peter O'Toole), os freaks deformados, anões, hermafroditas.


A fotografia acompanha o clima, sem dúvida com sua inspiração em Mário Bava, e em tudo um ar de semelhança com Jodorowsky. McDowell interpreta com furor. Consegimos ver, do início ao fim, o processo de desenvolvimento do personagem perfeitamente, seus medos e sua fúria em relação ao sistema do qual ele mesmo tinha se eleito líder. O despudor marca o filme e mesmo o trabalho de câmera. É como se o banquete de libertinagens lançasse sua energia sobre as lentes e convidasse o telespectador não apenas a assistir, mas a sentir aquele prazer e a viver a mesma loucura. Saciar-se de vida, sem respeito, sem limites, uma ode ao prazer extremo e sem grilhões. Isso era o que Calígula desejava loucamente; Isso é o que o filme deveria se propor a fazer. Assim, Tinto Brass, com o apoio de McDowell, desrespeitaram o texto original de Vidal. Ofendido, este abandonou o barco. Bob Guccione ficou preocupado ao ver os rumos que tudo estava tomando. Para ele, Tinto Brass era um comunista e estava inserindo demais o discurso político, enquanto que tudo que Guccione queria com o filme era elevar a pornografia ao nível da arte. Por isso o apoio de grandes nomes; por isso a escolha de Brass. Somente pelo que ele tinha a oferecer na direção de cenas eróticas.


Guccione acreditava em uma mudança na indústria cinematográfica, onde, a partir de então, ele pretendia que não mais houvesse censura ao sexo; onde pudessem ser realizados filmes (a exemplo de O Império dos Sentidos de Nagisa Oshima) que contivessem sua história, seu drama, sua comédia, seu romance, sua aventura, e, pior que não, seu sexo. Não o sexo implícito com velas e pétalas de rosa; não a cena que indica o que vai acontecer e depois corta para o dia seguinte. É como castrar a humanidade, colocar o sexo como algo alheio ao espectador, ou algo que não pode ser mostrado por algum valor qualquer que nem sabemos ao certo qual é. Violência, pode. Sexo não. Guccione, no entanto, falhou.
Às escondidas, juntamente com seu amigo Giancarlo Lui, visitavam os cenários com as garotas da Penthouse, e filmavam cenas explícitas que pretendiam inserir depois, na ilha de edição. Uma das piores brigas que ele teve com Tinto Brass foi, não só a respeito do discurso político, mas também quanto ao surrealismo, às bizarrices escatológicas, às aberrações e principalmente à violência. Quem diria, o rei do pornô abomina a violência(!). Ainda por cima, Tinto Brass se negava a cumprir o contrato, dizendo que não filmaria (na cena da piscina do templo de Isis) as garotas da Penthouse, escolhidas a dedo. Brass acabou filmando a cena como previa o contrato, mas após perceber algo de errado na ilha de edição e descobrir as cenas explícitas que pretendiam inserir, abandonou o projeto.


Penthouse Magazine May 1980
Volume 11 Issue # 9 Number 129

Table of Contents

COVER
Mirella Dangelo in Caligula, Photo by Eddie Adams

4 HOUSECALL
Introduction
8 FORUM
Correspondence
36 FEEDBACK
Opinion
42 CALL ME MADAM
Counsel by Xaviera Hollander
51 VIEW FROM THE TOP
Comment by Robert S. Wieder
52 SCENES
Marilyn Stasio
54 FILMS
Roger Greenspun
56 WORDS
Nick Tosches
57 SOUNDS
Robert Palmer
60 POISONED WATER
Article by Michael H. Brown
68 CALIGULA
Pictorial
90 JIMMY MAROON
Fiction by Gino Sky
95 MONIKA
Pet of the Month, Photos by Pat Hill
112 BOB GUCCIONE
Interview by Ernest Volkman
120 TEDDY KENNEDY'S PERSONAL WAR AGAINST THE BILL OF RIGHTS
Essay by Nat Hentoff
122 VENI VIDI VENI
Satire by Bill Lee
128 TALES OF THE MOSSAD. PART III
Article by Craig S. Karpel
132 CHARLEY LAU: NEW SULTAN OF SWAT
Profile by Peter Kaminsky
136 THE MAKING OF CALIGULA
Pictorial
159 FEMALE RAPISTS
Humor by George Robert Steele
163 ARE YOU POWER MAD?
Quiz by Frank Donegan
170 ITALIAN FASHION SUPREMACY
Fashion by Ed Emmerling
178 GRAND PRIX: RACING SUMMIT
Service by Gordon Kirby
180 GAS ATTACK
Article by Wade Hoyt
192 OH, WICKED WANDA!
Satire by Frederic Mullally/Ron Embleton





Desse misto, nasce um dos filmes mais polêmicos em muito tempo. Daqueles que muita gente pega na locadora dizendo "oh, ví um nome grego bonitinho e deve ser um filme histórico, vou assistir", sem saber nem quem era Caligula, e após assistir os primeiros minutos, larga de assistir e devolve, só porque em uma bela cena no campo vemos Caligula e sua irmã Drusilla, com poucas vestes, se divertindo sem pudor, e a câmera não deixa de filmar a vulva de Teresa ann Savoy. Que terrível!! Aquilo é uma vulva!! aquilo é um pênis!! aquilo é um ânus!!... ...E, talvez, essas sejam as pessoas que mais necessitam assistir o filme, do início ao fim, e saborear todo o discurso inserido nele, todas as sensações e todas as verdades. Diante da morte, um guarda que lhe fecha o caminho pergunta "A Senha! " e, Calígula, com o olhar irradiante e sua fúria louca, maldizente, egoísta e suicída, responde sorridente: "Escroto!", em seguida obtendo o seu golpe mortal.

Destaques...

para a trilha sonora original composta por Bruno Nicolai e Renzo Rosselini, e as não-originais compostas por Aram Khachaturyan e Sergei Prokofiev, muito bem selecionadas e realizadas; Para a direção de arte de Danilo Donati; Para a ideologia anárquica no discurso do filme, nas cenas mais explícitamente dirigidas/criadas por Tinto Brass; Para os diálogos inteligentes criados por Franco Rosselini, ao longo de todo o filme; na edição de Nino Baragli / Enzo Micarelli na sequência da orgia no bordel-navio do império; Nas atuações de McDowell, O'Toole e Gielgud, perfeitas; Na maquiagem do decadente Tiberius, realizada por Giuseppe Banchelli; Na sequência surreal da máquina decepadora de cabeças, principalmente no aparato criado por Donati... uma incrível inspiração para o cinema de horror fantástico!

Curiosidade

Joe D'amato, empolgado com a produção, decidiu realizar também um filme doentio com o libertino personagem, intitulado Caligola: La storia mai raccontata (Caligula II: The Untold Story), também conhecido como Emperor Caligula, e, mais tarde, Caligola: Follia del potere, também conhecido como Caligula: The Deviant Emperor. “

A resenha acima foi escrita por Saul Mendez para o Gore Bahia em 05/03/2007



































Ficha Técnica

Diretores:Tinto Brass, Bob Guccione
Direção de Arte: Danilo Donati
Produção: Bob Guccione, Franco Rossellini
Escrito/adaptado por: Gore Vidal (roteiro anterior);
Malcolm McDowell, assolino D'Amico, Tinto Brass, Ted Whitehead
Genero: Adulto/ História
Duração: 155 minutos
País: Itália/EUA
Lançamento: 14 de agosto de 1979, na Itália; 01 de fevereiro de 1980 nos EUA
Distribuição: Produzioni Atlas Consorziate (Italy), Independent Artists (USA)
Música: Sergei Prokofiev, Aram Khachaturyan
Bruno Nicolai (sob o pseudônimo de "Paul Clemente")
Maquiagem: Giuseppe Banchelli
Direção de Fotografia: Silvano Ippoliti
Montagem: Nino Baragli

Elenco

Malcolm McDowell ... Caligula
Teresa Ann Savoy ... Drusilla
Guido Mannari ... Macro
John Gielgud ... Nerva
Peter O'Toole ... Tiberius
Giancarlo Badessi ... Claudius
Bruno Brive ... Gemellus
Adriana Asti ... Ennia
Leopoldo Trieste ... Charicles
Paolo Bonacelli ... Chaerea
John Steiner ... Longinus
Mirella D'Angelo ... Livia (as Mirella Dangelo)
Helen Mirren ... Caesonia
Rick Parets ... Mnester (as Richard Parets)
Paula Mitchell ... Subura Singer


Lançamento da trilha sonora: 1980

01. Wood Sequence 04:18
02. Caligula & Ennia 01:51
03. Caligula's Dance 01:20
04. Drusilla's Bedroom 00:56
05. Isis Pool 04:13
06. Livia/Proculus Wedding 03:38
07. Caesonia's Dance 01:27
08. Drusilla's Death - Main Theme 05:45
09. Orgy On Ship 01:52
10. Orgy On Ship - Part II 02:28
11. Battle Of Britain 01:26
12. Play/Stadium 02:47
13. Caligula's Death 04:41
14. We Are One (Caligula Love Theme) Performed by Lydia 03:08
15. We Are One (Caligula Love Theme) Dance Version, Performed by Lydia 04:26

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Sobre o compositor: Bruno Nicolai


Bruno Nicolai (Roma, 20 de maio de 1926 - Roma, 16 de agosto de 1991) foi um compositor, maestro, editor musical e organizador da vida musical ítalo-romana. Estudou piano com Aldo Mantia, além de órgão e composição com Goffredo Petrassi, no Conservatorio di Santa Cecilia, em Roma. Conhece então Ennio Morricone, que também estudava com Petrassi, tendo início uma amizade de vários anos e parceria em diversos trabalhos para o cinema. Compôs para teatro, TV e cinema (sendo autor de mais de oitenta trilhas) realizando também muita música de câmara e sinfonia, trabalho no qual por vezes utilizou a técnica dodecafônica. Mais um compositor que em sua história ganha popularidade através das trilhas para os famosos “spaghetti westerns”, apesar de ter escrito música para diversos tipos de filmes.Foi professor de harmonia e composição no Conservatório de Música de Siena e diretor do selo romano "Edi-pan". Juntamente com o pianista Daniele Lombardi também fundou e dirigiu a revista "La Musica", direcionada principalmente à música contemporânea. Nicolai dirigiu numerosas trilhas sonoras, como as de Carlo Rustichelli, Luis Enríquez Bacalov e Nino Rota, sem deixarmos de citar, é claro, seus trabalhos com Morricone. Faleceu em 91, deixando esposa e 3 filhas. (Bruno Nicolai Page).


Aspectos Históricos

Busto de Calígula, coleção privada

“O poder corrompe; e o poder absoluto corrompe absolutamente”. Essa frase famosa, cunhada pelo pensador inglês John Dalberg no final do século 18, aplica-se a qualquer momento da História, mas provavelmente nunca foi tão verdadeira quanto na primeira fase do Império Romano. Durante a Dinastia júlio-claudiana, que durou de 27 a.C. (antes de Cristo) a 68 d.C. (depois de Cristo) e abarcou cinco imperadores, o poder concentrou-se quase que completamente nas mãos do príncipe, também chamado de césar. Os primeiros imperadores governavam um território que ia do norte africano às ilhas britânicas, e do rio Eufrates, no Oriente Médio, ao Oceano Atlântico que banha a costa de Portugal. Eram os comandantes de numerosas legiões de soldados bem treinados e governavam sem oposição política. Riquezas na forma de metais, mármore e alimentos vindos dos quatro cantos do império afluíam para os depósitos de Roma e a cobrança de impostos garantia ao imperador uma fortuna fabulosa.
Um poder tão superlativo só poderia gerar tentações sem limites, algo que de fato aconteceu, segundo os relatos de romanos como Tácito e Suetônio, ambos historiadores que viveram no século 1. Luxo, caprichos, prazeres sexuais, vícios e crueldades se mesclam de forma tão intensa nos relatos sobre a vida desses imperadores que alguns deles, como Calígula e Nero, entraram na imaginação popular como exemplos de crueldade e devassidão. Os cinco primeiros imperadores correspondem à primeira dinastia da história romana, a júlio-claudiana – assim conhecida porque descendiam de duas tradicionais famílias romanas, a Júlia e a Cláudia. Pela ordem cronológica foram: Augusto, Tibério, Calígula, Cláudio e o mais famoso de todos, Nero – conhecido por ter incendiado Roma e perseguido os cristãos. Esses cinco primeiros césares governaram desde o ano 27 a.C. (quando Augusto se tornou o primeiro imperador romano) até o ano 68 d.C., quando Nero se matou para não ser trucidado pelo povo enfurecido.
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Os detalhes mais sórdidos da vida dos imperadores júlio-claudianos podem ser coletados na obra “Os Doze Césares”, de Suetônio, que relata a vida dos doze primeiros imperadores de Roma. O historiador, que viveu entre 69 e 141, nasceu no ano seguinte à morte de Nero. Não foi, portanto, uma testemunha ocular dos acontecimentos, mas esteve temporalmente perto o suficiente para coletar documentos e testemunhos. Suetônio preocupa-se menos com o encadeamento dos fatos históricos e mais com a figura humana dos imperadores. Ele não poupa descrições dos defeitos físicos, de sua beleza ou feiúra e, principalmente, dos vícios.
A tensão que levaria Roma a ser conhecida como a cidade da perdição já existia na época de Augusto (governou de 27 a.C a 14 d.C.). Mas foi com seu sucessor, Tibério (14 a 37 d.C.), um enteado que Augusto adotou como filho, quem daria início à escalada de atrocidades e vícios.
A natureza cruel e impiedosa de Tibério revelou-se desde a infância. Quando ainda era jovem, um de seus professores definiu-a como feita de “lama amassada com sangue”. Viciado no jogo e na bebida, recebeu o apelido jocoso de “Bebério” quando comandava as legiões romanas nas fronteiras do império. Após tornar-se imperador, passava até dois dias bebendo e banqueteando-se sem parar, enquanto era servido por mulheres nuas. Criou um novo cargo público: a “intendência dos prazeres”, cuja função era inventar diversões novas e mais intensas para o deleite da corte imperial.

Estátuas de Tiberius, à esquerda, e Claudius, sentado, Líbia.
Abaixo, moeda com a marca de Tiberio


“O pano de fundo do governo de Tibério foi a consolidação da ‘pax romana’, que permitia pela primeira vez, depois de séculos de guerras com os vizinhos, que as energias vitais de Roma fossem canalizadas para satisfazer as necessidades do povo”, diz o historiador Andrea Giardina, da Universidade de La Sapienza de Roma e um dos maiores especialistas sobre o Império Romano.
Durante as primeiras décadas do governo de Tibério, as cidades receberam termas para o banho público.
Mens sana in corpore sano - e, poder-se-ia acrescentar, límpido (Mente são em corpo são - e limpo). Para os antigos romanos, o banho era um assunto sério e a higiene da população, uma questão de Estado. Tanto assim que seus engenheiros - os formidáveis engenheiros romanos, cujas obras, aquedutos, estradas e pontes ainda estão em uso em várias partes do mundo que um dia integraram um dos maiores impérios da Antiguidade - desenvolveram toda uma ciência a captação, transporte, manutenção, tratamento e distribuição de água. Onde estiveram, os romanos construíram termas e, assim como aprenderam dos gregos, ensinaram aos habitantes locais as artes do banho. Pois, para os romanos, ir às termas era bem mais do que se banhar em águas quentes, mornas ou frias. Para o cidadão comum, ir às termas, num ambiente em que se apresentavam oradores e poetas, onde se encontravam conhecidos e se sabiam as últimas notícias, era usufruir de prazeres imperiais. Naturalmente, as termas também eram freqüentadas com a intenção de se jogar dados, jogo muito popular na época, e fazer muito sexo.

Ruínas de Caracala, lugar que tinha capacidade para abrigar até 2600 banhistas.
As Termas de Caracala foram contruídas entre 212 e 217 durante o governo
do imperador romano Caracala e são um perfeito exemplo das grandes
termas imperiais. Grande parte de sua estruttura ainda se encontra
conservada, sem a interferência de edifícios modernos.
Seu espaço atualmente é utilizado para concertos musicais e montagens operisticas.
Abaixo, uma tentativa para reconstruir o ambiente das termas em seu período áureo, através de uma gravura de 1891.



Os espetáculos públicos, como as lutas de gladiadores e as corridas de bigas, se tornavam cada vez mais populares, e o imperador, senhor dos cofres cheios do dinheiro dos impostos cobrados das províncias, podia oferecer moradia e comida ao povo. Começava a era do “panis et circences” ou “pão e circo”, como o sarcástico poeta Juvenal bem descreveu no final do século 1.
Tibério reinava em Roma quando a Igreja foi regada com o sangue do Cristo. É dito que após ter tomado conhecimento das atas do processo feito a Jesus, o imperador propôs ao senado de o receber no número de suas divindades. Esse príncipe, de uma extrema dissimulação, conhecia perfeitamente a arte de governar os homens, e pelos seus artifícios estendeu o seu domínio sobre Roma e sobre todo o império; soube habituar os seus súditos à escravidão e recebia elogios pela sua brandura, enquanto exercia a tirania e o despotismo com a maior violência, mas sempre sob as aparências da justiça.
Participou da vida pública enquanto jovem. Mas, aos 67 anos, acometido de uma doença de pele que lhe cobria o corpo de manchas e pústulas de aspecto nojento, retirou-se para a Ilha de Capri, na baía de Nápolis. Em Roma, passaram a lhe chamar de “bode velho”, num jogo de palavras com o nome da ilha. Taciturno e arredio a conversas, cercou-se de escravos e aduladores que lhe satisfaziam os desejos sexuais mais bizarros. Ali, o velho imperador construiu palácios e se entregou a todos os tipos de vícios e luxúrias sexuais. Suetônio escreve que, nos palácios de Capri “bandos de moças e rapazes libertinos, trazidos de todas as partes, prostituíam-se em sua presença, num espetáculo destinado a reavivar seus desejos extintos”.
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Acima o hall de entrada da “Villa Jovis”, lugar na ilha de Capri onde os historiadores dizem ter sido residência de Tiberio. Abaixo, o lugar visto de outro ângulo.

A seguir, uma imagem de outro ponto da ilha nos instantes do pôr-do-Sol.
A placa na rocha foi deixada pelo poeta Pablo Neruda, que estava em exílio neste lugar belíssimo
nos anos 50.


Era, além disso, um pedófilo e, ainda segundo Suetônio, “treinara crianças de tenra idade, que ele denominava seus ‘peixinhos’, a brincar entre suas coxas enquanto nadava, para excitá-lo com carícias de língua e mordidas”. O escritor romano continua: “Diz-se mesmo que, como um seio, dava a sugar suas partes naturais a crianças já passavelmente vigorosas, mas ainda não desmamadas: era por certo a esse gênero de gozo que mais o inclinavam seu gosto e sua idade”. Segundo Tácito, quando uma criança já não lhe despertava mais desejos, mandava jogá-la do alto de um precipício para que caísse sobre pedras banhadas pelo mar. Os romanos não tinham nada contra o sexo com jovens escravos, mas, quando Tibério passou a servir-se de crianças ainda em fase de amamentação, a indignação correu o império.
Calígula viveu boa parte da juventude com seu tio-avô Tibério. Foi muito provavelmente abusado sexualmente pelo velho, com quem tinha uma relação de completa subserviência. Sobre eles dizia-se que “nunca houve escravo melhor nem senhor pior”. Desde muito jovem acompanhava as orgias e o jorro de sangue dos suplícios dos condenados promovidos nos palácios de Capri. Depois de alcançar o poder, levou seus vícios às raias da loucura. Um de seus primeiros atos foi mandar matar todas as crianças que haviam servido de escravas sexuais a Tibério.
Tibério morre então aos 78 anos, provavelmente assassinado numa conjura liderada por Calígula.
Gaius Caesar Germanicus, conhecido por Caio Calígula nasceu em Antium (Anzio), em 31 de Agosto de 12 d.C. e morreu em Roma, em 24 de Janeiro de 41 d.C. Seu apelido “botinhas”, foi dado pelos soldados das legiões comandadas pelo pai, que achavam graça vê-lo mascarado de legionário, com pequenas caligae (sandálias militares) nos pés. Calígula era o filho mais novo de Germânico e Agripina, sendo bisneto de César Augusto e sobrinho-neto de Tibério. Cresceu com a numerosa família (tinha dois irmãos e três irmãs) nos acampamentos militares da Germânia Inferior, onde o pai comandava o exército imperial.
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Página de um livro francês desconhecido, datado de 1830,
na qual Calígula é reproduzido em cena de sexo anal

Depois da ascensão de Tibério ao trono imperial, a sua família foi alvo de perseguições, por ser considerada perigosa pelo imperador paranóico com a hipótese de conspirações. O seu pai morreu em circunstâncias estranhas, talvez assassinado por Tibério. Mais tarde a mãe e os dois irmãos mais velhos foram exilados e assassinados por ordem imperial. Calígula fica então sozinho com as irmãs e vai viver com a bisavó Livia Drusa. Durante a sua adolescência, assistiu às perseguições e terror impostas por Sejanus, o prefeito da guarda pretoriana que controlava Roma na ausência de Tibério em Capri. Calígula escapou no entanto aos assassinatos e entrou no favor do imperador (o qual, ao que tudo indica, foi assassinado por ele).
Caio tinha 25 anos quando se viu nomeado para o Império, devido à ação decisiva do prefeito pretoriano Marco. Este lhe obteve o juramento dos pretorianos, dos soldados e dos marinheiros da frota de Itália, e depois a investidura senatorial. Recebeu primeiro o título de ‘imperator’; e posteriormente de uma só vez todos os outros títulos, com o poder tribunício e o pontificado. Por fim, um pouco mais tarde, foi considerado Pai da Pátria.

Vejamos a seguir o que significam esses títulos:

1. Poder Tribunício: tornava-o o imperador sacrossanto e inviolável.
2. Império Proconsular: dava-lhe o comando absoluto do exército em todas as províncias.
3. Pontífice Máximo: conferia-lhe a chefia da religião romana.
4. Princeps Senatus: dava-lhe o privilégio de primeiro cidadão do Estado e o direito de governar o Senado.
5. Imperator: título reservado a generais vencedores e conferido a Otávio pelos soldados.

Bustos de Calígula, Museo Archeologico dei Campi Flegrei


Desta maneira, este jovem que só tinha a seu favor ser o único filho sobrevivente de Germânico e o principal herdeiro civil de Tibério, conseguiu de uma só vez, tal como um príncipe real, reunir todos os títulos e todos os poderes que Augusto, o primeiro imperador romano, tinha levado anos a acumular e que Tibério tinha em parte recusado. Assim e muito rapidamente, o Principado deixou de ser uma lenta consagração política de uma pessoa, para se tornar uma instituição constitucional, de fato uma instituição monárquica, cuja nomeação dependia da aprovação do exército e da investidura formal pelo Senado. As legiões das províncias aceitaram o decidido em Itália e Roma e prestaram juramento de fidelidade a Caio, que passou a realizar a cerimónia de juramento anualmente. Os primeiros meses do governo foram calmos, tendo o príncipe mostrado o desejo de governar com o Senado, chamando do exílio as vítimas de Tibério, honrando os membros da sua família - a sua avó Antônia, o seu tio Cláudio, esquecido por toda a gente, e mesmo Gemellus (nomeado co-herdeiro com Caligula por Tibério) que vestiu a toga viril e foi declarado ‘Princeps juventutis’. Não proclamou a apoteose de Tibério (divinização), mas distribuiu o legado imperial como previsto, aumentando o seu valor.
O primeiro ano do governo de Calígula foi um primor de diplomacia. Como um grande estadista, apaziguou o exército com aumentos de salários, fez concessões aos senadores e alegrou a população com espetáculos. Nesta época, mandou encerrar todos os casos de traição iniciados por Tibério.
Pouco tempo depois a avó Antônia morreu, a única pessoa que poderia ter alguma influência sobre ele, já que o tinha educado na infância. Calígula então adoece gravemente, provavelmente com uma depressão nervosa que teria atuado em seu caráter como um catalisador, mostrando a sua verdadeira natureza. Segundo Suetónio e Dion Cassio,esteve mesmo às portas da morte sendo acometido de uma terrível febre cerebral.


Com pouca saúde e várias doenças congênitas, como a epilepsia, a doença desequilibrou de uma forma irreversível este jovem dotado, inteligente e bom orador, fazendo com que os autores modernos ainda hoje discutam o significado dos seus atos. É também preciso ter em conta a sua inexperiência e a excitação do exercício do poder, para além da influência dos escravos e dos libertos orientais que conheceu na casa de Antônia, filha de Antônio: é que parece haver em Calígula uma vontade infantil de reviver o sonho do seu antepassado, a «vida inimitável» do monarca helenístico, desdenhoso da austeridade conformista de Augusto e de Tibério.
Logo após o seu restabelecimento, Caio lança-se numa política, se é que é disto pode-se chamar, extravagante e cruel que representam o essencial da biografia de Suetônio. Gemellus foi morto, já que era fácil de prever que seria a base de uma oposição futura. Em relação ao Senado mostra-se, tanto irônico como ofensivo, cruel e sádico. Os melhores servidores de Tibério, velhos e experientes membros da classe consular, assim como experientes governadores são ridicularizados, subjugados, sendo obrigados à se rebaixar aos mais reles e aterrorizantes atos. Muito são executados sumariamente, algumas vezes em pleno Senado, ou obrigados ao suicídio sob os deboches do algoz imperial. As enormes despesas em realização de Jogos, festas e outros esbanjamentos, assim como em construções inúteis levam o tesouro deixado por Tibério à exaustão. Logo, para encher os cofres novamente volta-se às condenações de ricos, tanto em Roma como na Gália, com confisco dos respectivos bens.
No início de seu governo Calígula contrariou muitas das decisões de Tibério, planejando entregar aos comícios as eleições que lhes tinham sido retiradas no ano 14, mas a ideia não vingou. Queria governar, dizia, para o povo e a classe eqüestre, rodeando-se de libertos.

A seguir, exemplos de moedas do período




Nota:No topo da hierarquia social romana situava-se a ordem senatorial(1), cujos membros tinham de possuir uma fortuna avaliada em mais de um milhão de sestércios. Esta classe constituia uma elite privilegiada, possuidora de grandes propriedades rurais (latifúndios), cultivadas por escravos ou por rendeiros livres.
Entre os privilégios da classe senatorial contava-se o direito a exercer as mais altas funções públicas, como por exemplo magistrado, senador, governador de províncias ou grande sacerdote (cortejo de senadores).
No nível situado imediatamente abaixo da classe senatorial encontrava-se a ordem equestre, constituída por cavaleiros(2). Tratava-se de um grupo de plebeus enriquecidos - grandes negociantes, empreiteiros de obras públicas, etc. - dispondo de fortunas superiores a 400 mil sestércios. Alguns deles eram libertos, isto é, antigos escravos a quem os seus senhores tinham concedido a liberdade.
A influéncia da ordem equestre na sociedade romana foi-se acentuando pois os imperadores, para limitar o poder da ordem senatorial, passaram a apoiar-se nos cavaleiros, nomeando-os para importantes cargos políticos e administrativos.

Exemplo de um sestércio, moeda citada no texto

(1) A ordem senatorial designava-se assim porque os seus elementos eram os únicos que podiam ser nomeados senadores, isto é, membros do senado, um dos principais orgãos do governo do Império Romano.
(2) Os cavaleiros eram indivíduos que, graças à sua riqueza ou devido a serviços relevantes prestados ao imperador, ascendiam, por nomeação imperial, a um novo grupo social, a ordem equestre. O nome deriva do facto de, nos primeiros tempos de Roma, os plebeus ricos terem a obrigação de prestar serviço militar como cavaleiros e, por isso, terem que possuir cavalo.

Nomeia-se cônsul todos os anos, tirando o ano de 38, para destacar a superioridade do princeps na Constituição. Retirou ao pro-cônsul da África o comando da 3.ª Legião, Augusta, para que todas as tropas estivessem nas mãos dos legados (comissários do Senado encarregados de fiscalizar a administração das províncias) imperiais.
É fato que praticamente não alterou o pessoal administrativo das províncias, os quais não sofreram os efeitos diretos de suas loucuras, tirando a Gália, onde residiu entre 38 e 40. Teve em Lyon uma corte magnífica, rodeado de príncipes orientais como Júlio Agripa, ou helenizados como Ptolomeu da Mauritânia, neto de Antônio e Cleópatra. A sua política externa opõem-se também aqui à de Tibério e mesmo à de Augusto, que pretendiam acabar com os vários estados clientes existentes no Oriente. Calígula entregou vários territórios, como a Trácia, a Armênia, a Itureia, Damasco, uma parte da Judéia aos herdeiros dos reis desapossados. Suas atitudes de cunho anárquico obviamente resultavam num grande furor político entre as partes envolvidas nas questões.
Mas há outro fio condutor, o qual marcou profundamente sua figura. Calígula quis, e claramente desta vez, governar como um monarca oriental, como um déspota, de acordo com o seu bel-prazer. O mais grave é que para realizar o que pretendia não necessitava modificar as bases do principado fundado por Augusto, já que os princípios de uma monarquia sem controle estavam presentes na obra do «restaurador da liberdade» (vindex libertatis). Algumas das iniciativas de Calígula foram arcaizantes (vistas como antiquadas), como as festas em honra de Jupiter Latiar ou a reconstituição do rito do Rex Nemorensis (regresso às origens, aos montes Albanos). Isto pode ter sido possivelmente inspirado pelo seu tio Cláudio, um sábio «antiquário». Os outros aspectos da política religiosa são mais lógicos; exaltação da ideologia oriental helenistica e de auto-deificação.
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Laoconte e seus filhos, exemplo da Arte no período Helenístico.
Museu do Vaticano, Roma
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Fez construir templos, sobretudo no Oriente, onde a sua estátua era colocada ao lado da divindade no naos. Inspirava-se abertamente nos faraós egípcios. Proclamou-se divino e deu-se o epíteto de “César Ótimo Máximo”.Tentou impor aos senadores a genuflexão ( o dobrar dos joelhos) como forma de saudação (proskysene), Diocleciano faria o mesmo dois séculos e meio mais tarde. Calígula manteve relações incestuosas com suas três irmãs, divinizando Drusila, a preferida, após sua morte no ano de 38, tanto em Roma como nas províncias. Rendeu-lhe culto similar ao das mulheres-irmãs feito pelos reis Ptolomeus do Egito helenístico, o que fez nascer os boatos sobre as relações incestuosas entre os dois.
Mandou edificar um templo que dedicou solenemente a si mesmo, no qual mandava imolar pavões, frangos da Numídia e todas as aves que eram raras pela sua plumagem. Aumentou o templo de Castor e Polux, onde era adorado em pessoa. Mandou esculpir sua cabeça em todas as estátuas de deuses de Roma, intitulando a si mesmo como um deus. Fez ligar o seu palácio no Palatino ao Capitólio por uma passagem imensa, afim de poder contactar Júpiter mais facilmente, segundo as suas próprias palavras. As lembranças de Antônio, a recordação da sua visita a Alexandria acompanhando o pai militar no ano 18, quando tinha 6 anos, a sua preferência pela monarquia Ptolemaica explica a sua devoção ao culto de Ísis. Por isso o autorizou oficialmente (havia sido proscrito por Tibério), construindo no Campo de Marte um Isaeum e inscrevendo o culto de Ísis no calendário romano. As províncias orientais aceitaram facilmente esta política, a qual irritava profundamente os Romanos. Mas ao querer colocar a sua estátua no templo de Jerusalém entrou em conflito com os Judeus.
Em um determinado estágio, deleitava-se ao assistir os assassinatos de amigos e parentes, bradando aos carrascos: “Fere-o de modo que se sinta morrendo.” Obrigava os pais a assistirem à execução dos filhos e estuprava mulheres diante de seus maridos. Para aumentar a arrecadação dos cofres públicos construiu um “bordel imperial” onde as esposas dos senadores e outros líderes políticos eram forçadas a se prostituir “em nome de Roma”. Para debochar ainda mais dos nobres, anunciou que faria de seu cavalo Incitatus um senador.

Salvador Dali, “Calígula” (1983)

Suetônio escreveu que “sua maneira de trajar-se e calçar-se nunca foi digna de um romano, de um cidadão ou mesmo de uma pessoa do seu sexo – ou de um ser humano.” Aparecia em público fantasiado e pintado como as estátuas de divindades gregas, com mantos cravejados de pedras preciosas e calçando sapatos de mulher. Durante os festejos que convocava para comemorar vitórias militares fantasiosas, usava a couraça de Alexandre, o Grande, arrancada de seu túmulo. Costumava dizer o seguinte: “Que me odeiem, contanto que me temam!”. Seus instintos de crueldade não poupavam nem mesmo suas amantes. Diz-se que, em momentos de intenso orgasmo com sua ardente companheira Cesônia, ameaçava “empregar as torturas para saber dela por quais artifícios se fazia amar sempre com tanto ardor.”
Logicamente seus atos atraíram reações de aversão e ódio. Depois de ter alienado as classes dirigentes, Calígula teve a imprudência de criar impostos para os artífices e os comerciantes da capital, não perdendo também uma ocasião de insultar os tribunos das cortes pretorianas, que eram o único apoio que lhe restava. Após o resultado sangrento de numerosas conspirações, foi finalmente assassinado pelo tribuno do pretório que costuma sempre ridicularizar, Cassius Chaerea. Cassius foi o executor de uma conspiração onde se encontravam senadores, um dos dois prefeitos do pretório e libertos importantes, cansados dos ilimitados gestos de loucura do imperador. Neste ato são mortos também sua mulher Milonia Caesonia e a filha bebê, Júlia Drusilla. O reinado trágico e louco de Calígula acabava em sangue, o primeiro de uma longa série. Sua memória foi apagada pelo Senado, que ordenou a destruição de tudo o que pudesse recordar o mesmo. Porém, sob muitos pontos de vista, a política de Calígula não era completamente demente nem prematura.
Seu assassinato foi um alívio tão grande que o senado e o povo de Roma festejaram quando seu tio Cláudio, considerado uma espécie de bobo da corte até então, foi alçado à posição de príncipe por falta de opção na sucessão dos júlio-claudianos, cujos descendentes masculinos haviam sido quase todos assassinados por Tibério e Calígula.

A célebre frase do primeiro imperador da dinastia julio-claudiana, Augusto, resume bem o espírito de todo este período:
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“Desempenhei bem meu papel nessa comédia que chamamos vida?
Aplausos, por favor.”

Cabeça de Augusto, periodo 27-20 d.C.


Junção e adaptação de informações colhidas nas seguintes fontes:

“Galileu História – o passado presente”, nº 09,
editora Globo - pp 21 a 27
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. Livro “Os Crimes dos Papas - Mistérios e Iniqüidades da Corte de Roma” – Maurice Lachatre, editora Madras -
página 46








2 comentários:

woody disse...

Parabéns, está bem legal! Aqui rola aquela estória do contexto que eu te falei. Faz muuuuita diferença!

Bjs,
WOODY

Neide disse...

Fico muito feliz em saber que vc gostou! Sabe Woody, enquanto eu montava lembrei muito da nossa conversa, realmente. Obrigada por tudo amigo, e principalmente, obrigada por sua presença aqui! Grande abraço!