"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

sábado, 11 de agosto de 2007

John Coltrane – Prestige 7105, With Thelonious Monk

Dedicado ao amigo Marcelo Ariel, obrigada pela constante ajuda! Abraços meus e da Sophia!
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“Trane era o saxofonista mais ruidoso e mais rápido que eu já ouvi. Tocava rápido e alto, ao mesmo tempo, o que é difícil de fazer. Porque quando a maioria dos músicos toca alto, se trava. Já vi muitos saxofonistas se enrolarem tentando tocar assim. Mas Trane fazia isso e era fenomenal. Era como se estivesse possuído, quando levava aquele instrumento à boca. Era muito apaixonado – feroz – e ao mesmo tempo muito tranqüilo e delicado quando não estava tocando. Um cara puro.
Jamais compôs coisa alguma durante o tempo que esteve em meu conjunto. Tudo que fazia era começar a tocar. A gente conversava muito sobre música nos ensaios e a caminho do trabalho. Eu lhe mostrava muita coisa, e ele sempre escutava. E eu dizia:
- Trane, tome aqui estes acordes, mas não é pra tocar assim o tempo todo, não, sabe? Isso quer dizer que você tem dezoito, dezenove coisas diferentes pra tocar em dois acordes.
Ele ficava ali sentado, de olhos arregalados, absorvendo tudo. Trane era um inovador, e a gente tem de dizer a coisa certa às pessoas desse tipo. Por isso que eu mandava que ele começasse no meio, pois era assim que sua cabeça funcionava mesmo. Ele buscava desafios, e se a gente lhe desse o troço errado, ele não escutaria. Mas era o único músico que podia tocar aqueles acordes que eu lhe dava sem fazê-los soar como acordes.
Depois do trabalho, ele voltava pra seu quarto de hotel e praticava, enquanto todos os demais andavam pela rua. Praticava durante horas, depois de acabar de tocar três sets. E mais tarde, em 1960, quando lhe dei um sax soprano que conseguira com uma conhecida de Paris, uma antiquária, isso teve um efeito no seu tenor. Antes de ganhar aquele soprano, ele ainda tocava com Dexter Gordon, Eddie “Lockjaw” Davis, Sonny Stitt e Bird. Depois de ganhar o instrumento, seu estilo mudou. Depois disso, não tocava mais como ninguém a não ser ele mesmo. Descobriu que podia tocar mais suave e mais rápido no soprano que no tenor. E isso realmente o deixou ligado, pois não podia fazer no tenor o que podia no alto, porque o soprano é um instrumento direto, e como ele gostava do registro baixo, descobriu que também podia pensar e ouvir melhor com o soprano do que com o tenor. Quando tocava o soprano, depois de algum tempo, parecia mais uma voz humana, um lamento.
Depois que gravamos aqueles últimos lados pra Prestige, em outubro de 1956, levei o grupo de volta ao Café Bohemia, e foi lá que aconteceu muita coisa entre Coltrane e eu. Essas coisas já vinham se acumulando há algum tempo. Cara, era uma merda ver o que ele fazia consigo mesmo, a essa altura já se achava realmente dependente da heroína, e também bebendo muito. Chegava atrasado e cabeceava no palco. Uma noite, fiquei tão puto com ele que lhe dei um tapa na cabeça e um soco na barriga, no camarim. Thelonious Monk estava lá nessa noite; fora ao camarim dar boa-noite e viu o que eu fiz com Trane. Quando viu que Trane não reagia e apenas ficava ali sentado como um bebezão, se revoltou. Disse a Trane:
- Cara, do jeito que você toca saxofone, não tem de aceitar essa merda; pode vir tocar comigo quando quiser. E você Miles, não devia bater nele desse jeito.
Eu estava tão puto que pouco ligava pro que Monk dizia, porque, pra começar, não era da conta dele. Despedi Trane essa noite, e ele voltou pra Filadélfia, pra tentar se livrar do vício. Me senti mal mandando-o embora, mas não via que mais podia fazer nas cincunstâncias.
Por mais que eu gostasse de Trane, nós não andávamos juntos depois que deixávamos o estrado, porque tínhamos estilos diferentes. Antes, era porque ele vivia afundado na heroína, e eu acabara de sair dessa. Agora ele estava limpo e quase não saía, voltava direto pro hotel, pra praticar. Sempre levara a música a sério, e sempre praticara muito. Mas agora era quase como se estivesse numa espécie de missão. Me dizia que já fizera muita confusão, perdera muito dinheiro e não dera muita atenção à sua vida pessoal, à sua família e, acima de tudo, à sua música. Portanto, só se preocupava em tocar sua música e crescer como músico. Era só no que pensava. Não podia ser seduzido pela beleza de uma mulher, porque já fora seduzido pela beleza da música, e era fiel à sua esposa. Quanto à mim, depois que acabava a música, eu saía logo buscando a dona boa com quem ia ficar naquela noite. Cannonball Adderley (vocal) e eu conversávamos e saíamos às vezes, quando eu não estava com alguma mulher. Philly e eu ainda éramos amigos, mas ele vivia se enchendo de droga, ele, Paul e Red. Mas éramos todos amigos e todos nos dávamos muito bem juntos.”
(“Miles Davis, a Autobiografia” - pp 180, 194 e 195)



***Em 320 kbps***

1. Bakai
2. Violets For Your Furs
3. Time Was
4. Straight Street
5. While My Lady Sleeps
6. Chronic Blues

Coltrane – tenor saxophone
Johnnie splawn – trumpet
Sahib Shihab – baritone saxophone
Red Garland – piano (#1-3)
Mal Waldron – piano (#4-6)
Paul Chambers – bass
Albert Heath - drums

Recorded May 31, 1957
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***Em 320 kbps***

1 Ruby, My Dear 6:21
2 Trinkle, Tinkle 6:40
3 Off Minor (take 4) 5:15
4 Nutty 6:39
5 Epistrophy (alternate take) 3:09
6 Functional (alternate take) 9:43

Thelonius Monk – piano with on #1,2,4
John Coltrane – tenor saxophone
Wilbur Ware – bass
Shadow Wilson – drums #3,5
Ray Copeland – trumpet
Gigi Gryce – alto saxophone
John Coltrane, Coleman Hawkins – tenor saxophone
Wilbur Ware – bass
Art Blakey – drums
#6 is an unaccompanied piano solo.


Recorded April-July 1957

Parte 1


2 comentários:

leo brasil disse...

e aí neide, como tá?

então, eu não conhecia o blog ainda e encontrei a partir do "eu ovo". achei bem legal, só pérolas.

depois entra nesse site, que acho que vai ser bom pra você divulgar o blog aqui. dá pra postar links de matérias relacionadas à música. e funciona!

www.metamusica.com.br

grande abraço e sorte aí.

Neide disse...

Oi Léo, puxa nem sabia que tinha um link pra cá lá, ele é muito gente boa mesmo! Sem contar que posta altas raridades, já baixei muito material ótimo de lá.
Obrigada pela dica, depois dou uma olhadinha neste endereço que você citou. Apareça sempre, abraços!