"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

domingo, 9 de setembro de 2007

Ney Matogrosso – 2 compactos

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No curto período em que permaneceu na gravadora Continental, Raimundo Fagner chegou a gravar um compacto simples com Ney Matogrosso com duas músicas inéditas: Postal de Amor (Fagner/Fausto Nilo/Ricardo Bezerra) e Ponta do Lápis (Rodger Rogério/Clodo).
O compacto saiu em novembro de 1975 (No. 101.101.176) também produzido por Carlos Alberto Sion.
Em 1975 o caminho de Ney Matogrosso estava atrelado ao de Raimundo Fagner. E o melhor exemplo foi a magnífica apresentação da dupla em Belo Horizonte para a divulgação do compacto lançado pela Continental. A gravadora aproveitou a oportunidade e distribuiu para a imprensa um release sobre ''O Canto Épico Latino-Americano de Fagner e Ney Matogrosso'':
''Apesar de nunca ter ocupado lugar de destaque nas paradas de sucesso, a moderna música popular do Continente, trouxe felizes influências aos pesquisadores musicais e cantores do Brasil. A aparição de Astor Piazzola e sua sofisticação portenha, foi um fenômeno significativo e de forma alguma isolada das fontes de criação que se fertilizaram nos últimos tempos em muitos países vizinhos ao nosso. Violeta Parra, Intillimani, Quilapayun, Mercedes Sosa, Daniel Viglieti, Victo Jara, fazem parte da galeria desses heróis tão desconhecidos e, que cantaram as dores e paixões de muitos latino-americanos.
Ney Matogrosso partiu para a Itália há algum tempo para interpretar algumas das mais belas canções feitas por Piazzola de parceria com o jovem poeta brasileiro Geraldinho Carneiro. O resultado da experiência foi um rufar de ritmos conhecidos mas um pouco distantes do nosso dia-a-dia musical, enquanto a voz de Ney em As Ilhas soltava um grito sangrado de solidão. Também foi esse um dos tons do primeiro elepê solo de Ney.
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01. As Ilhas 04:24
02. 1964 (II) 03:30
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“Logo após deixar o Secos & Molhados, em 1974, Ney Matogrosso marcha para a Itália para gravar esse compacto bastante singular. Com composições e arranjos de Astor Piazzolla, o disco ainda conta com o próprio no bandolion. Um disco essencialmente de tango "a la Piazzolla", este compacto veio encartado como bônus no primeiro LP solo de Ney, apesar da nítida diferença entre os estilos.”
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EP 7´, acompanha o LP homônimo 1974
Arranjos e direção - Astor Piazzolla
Gravado no estudio MONDIAL SOUNDA (Milão - Itália)
data: 22 e 23 de novembro de 1974

Também não foi à toa que Fagner em seu elepê 'AVE NOTURNA' deslizava pelas águas do São Francisco até declarar que tenho '25 anos de sonho e de sangue/ e de América do Sul', enfatizando alguns boleros que encontravam densidade com os arranjos meio-pops onde despontava a guitarra de Lulu dos santos do conjunto Vímana. Encontrando essas fontes e descobrindo agora o caminho juntos, Fagner e Ney matogrosso realizaram o compacto que tem Postal de Amor e Ponta do Lápis, onde a voz rasgada de Fagner se ajusta ao canto cristalino de Ney Matogrosso para interpretar canções que lembram o ar épico já exprimido também na literatura produzida nos últimos dez anos em nosso continente. Se outras tentativas já foram feitas nesse sentido, Fagner e Ney somam-se a essas tentativas reafirmando uma música que definitivamente começa a tomar conta da inspiração de alguns de nossos melhores músicos. Se a lembrança estava esquecida, eles sedimentaram agora um trabalho cujo componente nessa direção abre as fronteiras musicais e exprime algumas formas de pensar e sentir que significam a vivência, mágica ou não, dos transeuntes de latino-Americano. E entre os passantes misturam-se Ney matogrosso e Fagner, inaugurando a ruazinha principal, fazendo do passeio um encontro mais malandro, mais maroto, com os couros, talismãs, deboche, riso e solidão que se encontram em qualquer cidadezinha perdida do alto dos Andes ou do interior do Brasil.
Carregando os pesados fardos conferidos aos 'compositores jovens', expressão criada sabe lá por qual meio de comunicação (não faz diferença), Fagner e Ney Matogrosso na sua 'jovialidade musical' têm experiências que passam pela explosão dos Secos & Molhados, numa estada significativa em Paris, o convívio com os grupos de rock de São Paulo (Ney) ou participando das diabruras de jovens poetas e músicos no campo do Caxinguelê, no bairro do Horto no Rio, onde Fagner soa a camisa nas peladinhas. Esse passado recente já deu aos dois a compreensão das surpresas reservadas aos 'jovens' no mundo da música e, a expressão de Fagner em uma entrevista à revista 'Veja' de que a 'música brasileira está numa véspera, num quase' é resultado dessas andanças, dessas surpresas. Os dois estão fazendo música popular brasileira, e isso é o que importa para eles, cantando em português ou em castelhano, como na faixa Ponta do Lápis.
Arriaram mais uma vez a bagagem, estão de novo, respirando um novo ar, sentindo o gosto de outras poeiras de tantas que já ressecaram seus lábios. O novo trabalho está aí, começam a tirar notas, gemidos e ritmos das malas e sacolas, alguns transeuntes param, perguntam e começam a gostar. Outros não, seguem o 'ritmo normal das ruas'. Já se sentam, sorriem um sorriso cansado que se rejuvenesce à medida que a música começa a ser a voz mais embolante dessa esquina. Estão lá, a esquina é visível e está numa das principais encruzilhadas da cidade. 'Jovens'? Hum...''


01.Postal de Amor (Fagner/Fausto Nilo/Ricardo Bezerra) * 04:09
02.Ponta do Lápis (Rodger Rogério/Clodo) 03:28
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Jorge Omar (Violão 12 cordas)
Paulo Guimarães (flauta)
Jorge Luis de Carvalho (baixo)
Elber Beboque (bateria)
Paulo Chacal (percussão)
Roberto de Carvalho (piano, arpstring,violão 12 cordas)
Claudio Guimarães (guitarra)

Estúdio:Level (Rio de Janeiro)
dias 17, 18 e 19 de outubro de 1975

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Baixado do Vinil Velho

Um comentário:

Anônimo disse...

Neide, bela postagem. Ney canta muiiiitttooooo e nem sabia deste lance com Fagner. Legal. As fotos são muito legais. Parabéns, belo post. Beijossss.