"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

terça-feira, 22 de julho de 2008

Yakuza – A banda, tattoos e outras histórias…

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Mais uma dica do meu camarada Sara_Evil que apreciei bastante, essa banda faz um experimentalismo muito bom e doido do jeito que eu gosto, misturando jazz, doom, efeitos orientais, etc . O link pro álbum “Samsara” eu peguei emprestado do post dele lá no Lágrima Psicodélica.
No “Transmutations” eu adorei a viciante, atmosférica e soturna “The Blinding”...valeu, Sara!
Bem, como já estava com planos de postar algo sobre as tatoos da Yakuza não é de hoje resolvi unir tudo na mesma montagem.
Frisando: a banda não tem nada a ver com a organização, eu apenas estou aproveitando o mesmo nome pra intercalar os assuntos no mesmo post, que fique claro.
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Yakuza, a banda...
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Samsara (2006)
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“Uma capa com simbologia hinduísta/budista e uma introdução com saxofone e ritmos tribais que desembocam no trepidar dissonante dos power chords, permitem antever que o som contido neste disco será tudo menos previsível.
Os Yakuza fazem uma fusão bem experimentalista de Metal, Prog, Hardcore, Jazz e sonoridades orientais. As influências Jazz são aqui injectadas através do uso subtil do saxofone, por vezes escondido por detrás das guitarras outras vezes como fio condutor. O saxofone tem sido explorado recentemente nos trabalhos de Ephel Duath e de Kayo Dot, mas de uma forma diferente. Em Samsara, o uso constante de Delay atribui-lhe uma aura mais psicadélica. Também temos o exemplo dos Candiria que vão beber a todo o lado, mas provocam derivações para o Jazz bem mais abruptas, com uma cisão muito mais vincada do que neste disco.
O registo vocal é muito abrangente mas, apesar de ser quase sempre ajustado às diferentes sonoridades, há alguns timbres bem dispensáveis. De referir a contribuição vocal de Troy Sanders dos Mastodon na última faixa, "Back to the Mountain". A duração das músicas é bastante variável, mas é nos temas mais longos com 7 e 9 minutos como "Exterminator", "Glory Hole" e "Back to the Mountain" que têm tempo para explorar toda a palete de sonoridades e conseguir fazer a diferença.
Um disco difícil de classificar com uma sonoridade aventurosa muito própria e extremamente bem conseguida.”
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Banda (mesma formação para ambos os álbuns)
- James Staffel / drums, percussion, keyboards
- Matt McClelland / guitars, vocals
- John E. Bohmer / bass
- Bruce Lamont / saxophones, clarinet, vocals, effects

Músicos Convidados (apenas para o Samsara)
- Sanford Parker / effects (6)
- Jim Baker / piano (9)
- Troy Sanders / vocals (10)
- Fred Lonberg-Holm / cello

Faixas
1. Cancer Of Industry (3:02)
2. Plecostomus (3:37)
3. Monkeytail (5:23)
4. Transmission Ends... Signal Lost (1:37)
5. Dishonor (5:19)
6. 20 Bucks (5:01)
7. Exterminator (7:25)
8. Just Say Know (2:57)
9. Glory Hole (6:57)
10. Back To The Mountain (9:02)

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Transmutations (2007)

“Não se trata da gangue japonesa mais famosa do mundo lançando um disco. Não se trata também de uma banda do Japão. Essa Yakuza é uma banda americana, de Chicago, que foi fundada em 1999. Até o momento, possuem 3 álbuns; Transmutations é o terceiro. Conheci a banda quando o meu "patrão" no blog Hornsup.net me deu a tarefa de resenhar esse disco.
Nunca tinha ouvido falar sobre, portanto escutei o disco com atenção e depois fui ler a respeito da história desses rapazes. Nas primeiras vezes, confesso que não gostei. Hoje, após analisar com calma a proposta, acho esse disco muito bom. Misturando doom metal, death metal, jazz (de saxofone), progressões assustadoras e influências de música oriental, Yakuza é uma banda bem original e que merece ser apreciada com a cabeça aberta. É surpreendente ouvir a música começando bem lenta, com vocais no ritmo árabe, surgindo um saxofone, quando, não de repente, a progressão aparece acelerando a música e apresentando vocais guturais ou macabros. As músicas, no geral, possuem de 6 a 7 minutos. Algumas poucas outras têm duração bem curta, mas não é por isso que deixam de ser progressivas ou trabalhadas. Se fosse resumir, diria que é um trabalho bem assustador! Totalmente fora dos padrões que estamos acostumados a ouvir, geralmente fundindo de um a dois estilos. Aqui os caras misturam a água com o óleo e o drink fica gostoso. Ok, a linguagem figurada pode ter sido idiota, mas dá para perceber claramente o que eu quis dizer, não?
É tanto estilo de música que dá até para dizer que é uma banda "experimental". Escute com muita atenção, garanto que você encontrará até toques de atmospheric sludge.
Destaques para a macabra "Meat Curtains", a linda "Raus", a pedrada "Praying For Asteroids" e também para a chapante "The Blinding", sem querer desmerecer o restante do disco que possui muitas outras músicas excepcionais em quase uma hora de duração total.”
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Faixas:
01 - Meat Curtains (6:50)
02 - Egocide (7:41)
03 - Congestive Art-Failure (3:37)
04 - Praying For Asteroids (2:56)
05 - Raus (6:47)
06 - Steal The Fire (2:15)
07 - The Blinding (6:09)
08 - Existence Into Oblivion (4:46)
09 - Perception Management (7:21)
10 - Black Market Liver (5:05)
11 - Zombies (6:53)

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Yakuza – A Arte das tatuagens

Séculos atrás, nos dias do Shogun, as autoridades japonesas marcavam os criminosos com tatuagens para distingui-los do restante da população. Essas tatuagens, altamente visíveis, normalmente levavam a forma de um anel preto ao redor do braço; conforme a sentença, assim iam aumentando os anéis (isto é, subentende-se que os mais “periculosos” estariam com os braços totalmente demarcados). Aconteceu então, o previsível: estes homens marcados e excluídos da sociedade gradativamente foram aderindo a grupos, eventualmente formando organizações, até chegar ao que é conhecido como “Yakuza” (ou gokudō). Assim, o resultado foi a junção dos membros em (hoje tradicionais) grupos de crime organizado japonês; também vistos como gangues, clãs ou mafias de japoneses.
Usadas orgulhosamente como símbolos de status e dedicação, as tatuagens da Yakuza evoluíram em magníficas obras-primas corporais e multicores...

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Essas tatuagens geralmente levavam anos para serem terminadas. Eram feitas no metódo do Tebori ou Irezumi, que significa "inserção de tinta." Geralmente eram baseadas nas figuras do teatro kabuki, sendo um dos designs mais utilizados o do Benten Kozo. Kozo era um criminoso que se disfarçava como mulher e quando foi capturado, ao tirarem sua roupa, perceberam que se tratava de um homem muito tatuado. O termo "Yakuza" provém de um cartão de jogo japonês, Oicho – Kabu.

Sobre o método Tebori

As tatuagens tradicionais japonesas são um emaranhado espetacular de um rico projeto.
É uma arte que amadureceu até a perfeição, se originando de pinturas em blocos de madeira do antigo período Edo (1804-1868).

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A técnica japonesa é chamada “tebori”, que quer dizer entalhar, gravar com as mãos.
Usam-se agulhas enroladas na ponta de uma vara de bambu para inserir tinta de
carvão vegetal na pele. A pele viva é a solicitação dessa estética na qual a técnica tebori se desenvolveu dentro do chiaroscuro (claro-escuro), colorindo e sombreando a tatuagem japonesa que conhecemos.
No período Edo mais recente (séc. XVIII) o Japão cresceu bastante, e foi nessa época que começou a surgir a tatuagem como uma forma de Arte. Utilizando imagens de aquarelas tradicionais, pedaços de madeira e figuras de livros como modelos, e como recompensa de muita paciência e dor, surgia uma belíssima tatuagem. Para entender a essência da tatuagem japonesa é preciso conhecer sua história, e também continuar preservando as tradições por trás delas.
A tatuagem tebori ou irezumi é feita em diversas sessões, muito famosa por estampar corpos inteiros da yakuza, a chamada máfia japonesa . O Tebori é totalmente artesanal , demora muito e é bem trabalhoso, poucos tatuadores fazem esse tipo de procedimento no Brasil.
É um metodo que a tecnologia ultrapassou mas que a tradição não deixa morrer. Existem tatuadores que trabalham apenas com esse tipo de tatuagem e conseguem fazer verdadeiras obras de arte na pele. Não deixam a perder em nada para as melhores maquinas do mercado.

Mas ai, se você estiver a fim de começar a tatuar com o método do tebori, não esqueça os conceitos básicos de esterilização .” (resenha do Tatuando.com, todos os links que usei para esta adaptação estão devidamente listados no fim do post)


Ao lado, foto início do século XX
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Hoje muitas facções da Yakuza continuam patriarcais em sua natureza, mas mulheres também são parte integrante da “gangland” japonesa. As esposas, amantes e namoradas dos figurões também passam pelo processo da tatuagem em praticamente toda a extensão do corpo. Às vezes estas mulheres usam tatuagens para demonstrar a afiliação delas com o estilo de vida da gangue; em outros casos é feito para mostrar lealdade e obediência ao membro da Yakuza com o qual elas são envolvidas.
Quem sabe esta não pode ter sido uma das remotas origens, ou pelo menos uma das influências, em relação ao hábito que algumas mulheres (mesmo não sendo japonesas) têm em tatuar nomes de namorados, maridos, etc.


Yakuza-members at the Sanja Festival, Asakusa, Tokyo, May 21, 2006. The Sanja Matsuri in Asakusa is one of the biggest festivals in Tokyo. Asakusa is one of the oldest parts of Tokyo, and also home to quite a few Japanese mafia (Yakuza) members, who at this festival come out to show their colours

Entre as obrigações dos membros estão:

Não esconder dinheiro da gangue;
Não se envolver pessoalmente com narcóticos;
Não procurar a lei ou a polícia;
Não violar a mulher ou os filhos de outro membro;
Não desobedecer às ordens de um superior.

Em sua essência, a Yakuza seria uma sociedade exclusivamente masculina. Não tendenciam a confiar nas mulheres porque as consideram fracas e incapazes de lutar como os homens, acreditando que elas foram feitas para serem mães e cuidarem de seus maridos; assim, deveriam se limitar a não se meter nos negócios dos homens. Um outro motivo pelo qual as mulheres não são aceitas na yakuza é que não se deve falar sobre o grupo a ninguém de fora, e eles não acreditam que elas seriam fortes o suficiente para se manterem caladas caso fossem interrogadas pela polícia ou por algum inimigo.
A única mulher com maior prestígio é a esposa do chefe. Ela não é considerada um membro, mas é respeitada simplesmente por ser a esposa, não interferindo em qualquer ocasião. Quando o chefe morre e não há ninguém para substituí-lo imediatamente, é sua esposa quem assume temporariamente o comando do grupo, até outro membro assumir a posiçao.
Os clãs são organizados à semelhança de uma família, possuindo talvez a mais rígida das hierarquias do mundo dos crimes. O oyabun (pai) é o chefe, wakashu são seus filhos e kyodai são seus irmãos. Todos devem total obediência e lealdade ao oyabun, e em troca ele oferece proteção a todos de seu clã. Os membros não devem ter medo de morrer pelo oyabun, e devem concordar com tudo o que ele diz.


O chefe dos filhos chama-se wakagashira, e o dos irmãos shateigashira. O wakagashira é o segundo em autoridade, vindo logo após o oyabun e servindo também como um intermediário para ver se as ordens deste estão sendo cumpridas. O shateigashira é o terceiro em autoridade.
Cada filho pode formar sua própria gangue e assim por diante, resultando em diversas subfamílias. Cada um obedece o líder de sua gangue, mas é sempre o oyabun que dá a palavra final. Uma família típica tem de 20 a 200 membros, o que pode assegurar ao clã todo um número bem superior a 1000 homens. As familias em que existem membros yakuza são geralmente de raiz com nome shibatsu, yakasa, shiatsuta, tashiro, tonaco, shematse, tokesho entre outras diversas com membros na cultura japonesa.
Há dois tipos de yakuza: aqueles que pertencem a um clã/grupo e os autônomos. Os autônomos não pertencem a clã algum, por isso têm dificuldades para agir, pois os grupos não permitem que eles atuem em seus territórios. Os clãs costumam usá-los como bode expiatório ou pagá-los para realizar um serviço no qual não queiram envolver o grupo todo. Se o autônomo for realmente ambicioso e capacitado, pode até começar um grupo do zero, mas geralmente, quando não é morto, torna-se membro de algum já existente.
Suas tatuagens podiam descrever seus clãs ou os crimes que cometeram com aneis de fundo negro. Eram um sinal de força para seus membros.
A Yakuza não se importava com as origens, entravam nela jovens abandonados, jovens sem escolaridade, refugiados da Coréia, China etc. Mas quando entravam para a Yakuza tinham que ter obediência. Aqueles que não podiam pagar suas dividas ou desobedeciam as regras eram obrigados a cumprir rituais, entre eles amputar seus dedos em frente aos superiores ou mesmo cometer suicidio.
Devido a tudo isto, em muitos lugares públicos (como banheiros, saunas, etc) são afixados cartazes onde pessoas tatuadas não são bem-vindas (independente se vc é um Yakuza ou não).
Apesar que a meu ver eu duvido muito que o caboclo dono do estabelecimento tenha coragem de barrar um dos fodões de lá...rss




Cartaz proibindo entrada na sauna

Banho público

Aparentemente, a sociedade japonesa está perdendo seu preconceito contra as tatuagens, aderindo pouco a pouco a essa extraordinária Arte e se deixando tatuar mais. O pior é que esse lance (infelizmente visto em diversas circunstâncias no nosso país também), onde “tatuagem é coisa de bandido” ainda está muito entranhado. Talvez esse “pouco a pouco” ainda dure algumas boas dezenas de anos...
Gostaria de ressaltar o enorme prazer que foi para mim montar esse post, mesmo tendo um pequeno trabalhinho pra ir traduzindo, adaptando e costurando. Eu realmente tenho fascínio pela Arte das tattoos (apesar de não ter feito nenhuma ainda), nutro há vários anos a vontade de tatuar o símbolo do meu signo, Dragão, em formato grande. Mas como fica baratíssimo estou adiando...rss


Há uma parte da série sobre o Serpieri onde inseri imagens de tattoos baseadas no trabalho do Druillet, outro estilo; se vc não viu ainda dá uma chegada lá irmão, clique aqui.
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Neide

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Fusão e adaptação de informações e imagens encontradas em:

Tatoos-Gallery

Atattoo

Wikipedia (dê um pulo lá pra verificar a simbologia das famílias)
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2 comentários:

Anônimo disse...

Muito bacana seu post!

S_E

Neide disse...

Obrigada Sara, fiz com muito gosto e mais vez obrigada pela dica, valeu! Falta eu dar umas ajustadinhas numas frases que ficaram meio erradas, logo mais eu conserto...abração!!