Após cursar biblioteconomia (na Escola de Sociologia e Política de São Paulo) e letras vernáculas (na USP), ainda nos anos 70 participou, entre os chamados "poetas marginais", da resistência cultural à ditadura militar, época em que, residindo temporariamente no Rio, editou o fanzine poético-panfletário JORNAL DOBRABIL (trocadilho com o JORNAL DO BRASIL e com o formato dobrável do folheto satírico) e começou a colaborar em diversos órgãos da imprensa alternativa, como LAMPIÃO
(tablóide gay) e PASQUIM (tablóide humorístico), além de periódicos literários como o SUPLEMENTO DA TRIBUNA e as revistas ESCRITA, INÉDITOS e FICÇÃO.
Durante a década de 80 e o início dos 90 continuou militando no periodismo contracultural, desde a HQ (gibis CHICLETE COM BANANA, TRALHA, MIL PERIGOS) até a música (revistas SOMTRÊS, TOP ROCK), além de colaborar na grande imprensa (crítica literária no JORNAL DA TARDE, ensaios na STATUS e na AROUND), e publicou vários volumes de poesia e prosa. Na década de 90, com a perda da visão, abandonou a criação de cunho gráfico (poesia concreta, quadrinhos) para dedicar-se à letra de música e à produção fonográfica, associado ao selo independente Rotten Records.
Com o advento da internet e da computação sonora, voltou, na virada do século, a produzir poesia escrita e textos virtuais, seja em livros, seja em seu sítio pessoal
ou em diversas revistas eletrônicas (A ARTE DA PALAVRA, BLOCOS ON LINE, FRAUDE, VELOTROL) e impressas (CAROS AMIGOS, OUTRACOISA).
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Clique no selo para acessar a Rotten
Jamais deixou, entretanto, de explorar temas polêmicos, transgressivos ou politicamente incorretos (violência, repugnância, humilhação, discriminação) que lhe alimentam a reputação de "poeta maldito" e lhe inscrevem o nome na linhagem dos autores fesceninos e submundanos, como Bocage, Aretino, Apollinaire ou Genet.
Em colaboração com o professor Jorge Schwartz (da USP) traduziu a obra inaugural de Jorge Luis Borges, trabalho que lhes valeu um prêmio Jabuti em 1999. Nesse terreno bilíngüe GM tem-se dedicado a outros autores latino-americanos, como Salvador Novo e Severo Sarduy, e tem sido traduzido por colegas argentinos, mexicanos e chilenos. Segundo Pedro Ulysses Campos, "A poesia de Glauco Mattoso pode ser dividida, cronologica e formalmente, em duas fases distintas: a primeiraseria chamada de FASE VISUAL, enquanto o poeta praticava um experimentalismo paródico de diversas tendências contemporâneas, desde o modernismo até o underground, passando, principalmente, pelo concretismo, o que privilegiava o aspecto gráfico do poema;
Em colaboração com o professor Jorge Schwartz (da USP) traduziu a obra inaugural de Jorge Luis Borges, trabalho que lhes valeu um prêmio Jabuti em 1999. Nesse terreno bilíngüe GM tem-se dedicado a outros autores latino-americanos, como Salvador Novo e Severo Sarduy, e tem sido traduzido por colegas argentinos, mexicanos e chilenos. Segundo Pedro Ulysses Campos, "A poesia de Glauco Mattoso pode ser dividida, cronologica e formalmente, em duas fases distintas: a primeiraseria chamada de FASE VISUAL, enquanto o poeta praticava um experimentalismo paródico de diversas tendências contemporâneas, desde o modernismo até o underground, passando, principalmente, pelo concretismo, o que privilegiava o aspecto gráfico do poema;
a segunda fase seria chamada de FASE CEGA, quando o autor, já privado da visão, abandona os
Outros capítulos, desenhados posteriormente, apareceram no gibi porto-alegrense MEGA QUADRINHO: as HQs "Foi um Rio que pisou na minha língua" e "O meio é a massagem", em 1989. A HQ "Foi um rio que pisou na minha língua" apareceria também no fanzine TRENDIE, encartado no jornal curitibano CORREIO DE NOTÍCIAS, e a HQ "O meio é a massagem" apareceria num dos gibis do próprio Marcatti, LODO. Um outro capítulo, "O dia da caça", apareceu no gibi TRALHA, também editado (1989) por Marcatti em colaboração com Lourenço Mutarelli e com o próprio Mattoso, e que não passou do segundo número, embora tivesse distribuição em bancas.
OBRIGADA GLAUCO, POR ESSE TRABALHO DE IMENSA QUALIDADE!
Bem, eu tenho aqui na minha coleção As aventuras do Glaucomix...só peço um pouco de paciência, pois estou planejando scannear. É claro, se alguém quiser colaborar e deixar um link pra esse trabalho nos comentários, será muito bem-vindo!
processos artesanais, tais como o concretismo dactilográfico, e passa a compor sonetos e glosas, onde o rigor da
métrica, da rima e do ritmo funciona como alicerce mnemônico para uma releitura dos velhos temas mattosianos (a fealdade, a sujidade, a maldade, o vício, o trauma, o estigma), reaproveitando técnicas barrocas e concretistas (paronomásia, aliteração, eufonia e cacofonia dos ecos verbais) de mistura com o calão e o coloquialismo que sempre caracterizaram o estilo híbrido do autor.
métrica, da rima e do ritmo funciona como alicerce mnemônico para uma releitura dos velhos temas mattosianos (a fealdade, a sujidade, a maldade, o vício, o trauma, o estigma), reaproveitando técnicas barrocas e concretistas (paronomásia, aliteração, eufonia e cacofonia dos ecos verbais) de mistura com o calão e o coloquialismo que sempre caracterizaram o estilo híbrido do autor.
A fase visual vai da década de 70 até o final dos anos 80; a fase cega abre-se em 1999, com a publicação dos primeiros livros de sonetos."
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Glauco Mattoso publica em 1986, pela editora Expressão, a primeira edição do romance autobiográfico MANUAL DO PODÓLATRA AMADOR: AVENTURAS & LEITURAS DE UM TARADO POR PÉS. Prefaciado por Leo Gilson Ribeiro e posfaciado por Néstor Perlongher, o livro foi adaptado para quadrinhos em 1990, sob o título AVENTURAS DE GLAUCOMIX, O PODÓLATRA. Em ambos os títulos o termo "podólatra" (forma mais correta, onde "podo" vem do grego) estava grafado "pedólatra" (forma híbrida onde "pedo" vem do latim "pedis" e pode gerar confusão com o grego "paidos", como em "pedofilia") — tendo GM optado pela preferível grafia na reedição da obra, em 2006, pelo selo All Books da Casa do Psicólogo, dentro da coleção "Além da Letra", dirigida por Sérgio Telles. Nesta segunda edição o prefácio é assinado por David William Foster e o volume ganha um capítulo adicional, além de várias inserções que complementam e atualizam o conjunto do conteúdo.
Eis o texto que serviu de base para a divulgação na mídia da reedição do MANUAL:
[RELANÇADO PELA CASA DO PSICÓLOGO O MAIS ESCANCARADO, ESCATOLÓGICO E ESCANDALOSO LIVRO DE GLAUCO MATTOSO
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Apesar do título, o "Manual" não é um livro de auto-ajuda, ainda que satirize os tratados didáticos de erotismo. Alguns consideram esta obra a mais importante na extensa bibliografia deste paulistano que, aos 55 anos, vem a ser o autor mais "maldito" entre os escritores cegos — justamente por se tratar de sua autobiografia sexual e literária, na qual GM recapitula os bizarros episódios que justificam sua reputação de "cúmulo da esquisitice" (ou da estética "queer", como se diz nos States), juntando diversos rótulos estigmatizados na pessoa de um deficiente físico politicamente incorreto: homossexualidade, sadomasoquismo, fetichismo e outras taras e manias. Mas será que GM é mesmo esse bicho-papão das letras nacionais, ou terá ele seu lado bem-comportado e palatável? Afinal, quem é essa curiosa figura?
Antes de perder totalmente a visão, nos anos 1990, GM ganhou destaque entre os "poetas marginais" da década de 1970 e entre os ficcionistas pós-modernos da década de 1980. Na fase setentista, sua principal obra foi um fanzine anarco-poético intitulado "Jornal Dobrabil" (que parodiava o "Jornal do Brasil"), reunido em livro em 1981 e reeditado pela Iluminuras vinte anos depois. Na fase oitentista, seu título mais polêmico é justamente este "Manual", que saiu em 1986 e que — também após duas décadas — reaparece, ampliado e atualizado, na presente edição pelo selo All Books da Casa do Psicólogo.
Antes de perder totalmente a visão, nos anos 1990, GM ganhou destaque entre os "poetas marginais" da década de 1970 e entre os ficcionistas pós-modernos da década de 1980. Na fase setentista, sua principal obra foi um fanzine anarco-poético intitulado "Jornal Dobrabil" (que parodiava o "Jornal do Brasil"), reunido em livro em 1981 e reeditado pela Iluminuras vinte anos depois. Na fase oitentista, seu título mais polêmico é justamente este "Manual", que saiu em 1986 e que — também após duas décadas — reaparece, ampliado e atualizado, na presente edição pelo selo All Books da Casa do Psicólogo.
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Depois da perda da visão, graças ao computador falante, GM voltou a produzir intensamente, tendo completado mais de mil sonetos, dezenas de contos e um novo romance, totalizando vinte volumes só neste início de século. Sua obra já é reconhecida no exterior, servindo como objeto de estudo para acadêmicos latino-americanos, estadunidenses e europeus. Mas tudo começou com o "Jornal Dobrabil" e com este "Manual", como comenta o autor na entrevista abaixo.
P - Por que a coincidência de reeditar o "Dobrabil" em 2001 e o "Manual" em 2006, ambos depois de vinte anos? Foi planejado?
GM - Aconteceu naturalmente, como se fosse mais uma das bruxarias que envolvem minha vida. Vinte anos já significam uma nova geração, e o público de hoje vivia me cobrando o relançamento dessas obras esgotadas e quase lendárias. Meus contemporâneos lembram do impacto que o "Manual"
provocou na mídia, da "Folha da Tarde" recebendo cartas de leitores indignados por causa duma entrevista que dei, ou da Hebe Camargo enojada ao comentar o livro em seu programa, ou dos cronistas de futebol ironizando, como o Sylvio Luiz, a cara de pau dum sujeito que confessa
ter atração por pé de homem... E a geração atual sem entender por que um livro teria provocado tamanho incômodo na crítica e na mídia. O Sérgio Telles, muito perspicaz, detectou esse permanente interesse que o "Manual" desperta, e resolveu publicar a segunda edição que eu tinha pronta na gaveta.
P - Mas esta edição não é exatamente igual à primeira, é?
GM - Não. Acrescentei mais um capítulo para contar o que aconteceu na última década. Também enxertei fatos e dados que foram omitidos na primeira edição, coisas que agora já dá pra revelar. O "Dobrabil" foi reeditado igualzinho, perfeito fac-símile, mas o "Manual" está bem mais recheado de carne, pimenta e... queijo. (risos) Vai surpreender até a quem já conhecia o texto antigo.
P - A que você atribui a repercussão do livro como documento literário e não apenas como um texto de sacanagem?
GM - Ele tem uma estrutura híbrida e fragmentária que atende aos estudiosos da pós-modernidade e da intertextualidade: mistura prosa com poesia, teorização com memorialismo, pornografia com sentimentalismo.
Tem uma linguagem ora erudita, ora vulgar, ora castiça, ora informal. Mas acho que o que mais impressiona os leitores é a franqueza quase angelical com que eu exponho minhas fraquezas e frustrações e delas me gabo.
P - Você diria que o livro é cem por cento verídico?
GM - Eu diria que é cem por cento verossímil, porque a literatura não é feita só de fatos e pessoas, mas também de fantasias e personagens. Por mais louco que pareça, porém, o livro se mantém fiel a fatos concretos e pessoas reais. São, como diz o subtítulo, "Aventuras e leituras de um tarado por pés", mas são aventuras possíveis e leituras inesquecíveis. Fraquezas transformadas em franquezas. Traumas transformados em tramas. Chagas transformadas em sagas.]
Depois da perda da visão, graças ao computador falante, GM voltou a produzir intensamente, tendo completado mais de mil sonetos, dezenas de contos e um novo romance, totalizando vinte volumes só neste início de século. Sua obra já é reconhecida no exterior, servindo como objeto de estudo para acadêmicos latino-americanos, estadunidenses e europeus. Mas tudo começou com o "Jornal Dobrabil" e com este "Manual", como comenta o autor na entrevista abaixo.
P - Por que a coincidência de reeditar o "Dobrabil" em 2001 e o "Manual" em 2006, ambos depois de vinte anos? Foi planejado?
GM - Aconteceu naturalmente, como se fosse mais uma das bruxarias que envolvem minha vida. Vinte anos já significam uma nova geração, e o público de hoje vivia me cobrando o relançamento dessas obras esgotadas e quase lendárias. Meus contemporâneos lembram do impacto que o "Manual"
provocou na mídia, da "Folha da Tarde" recebendo cartas de leitores indignados por causa duma entrevista que dei, ou da Hebe Camargo enojada ao comentar o livro em seu programa, ou dos cronistas de futebol ironizando, como o Sylvio Luiz, a cara de pau dum sujeito que confessa
ter atração por pé de homem... E a geração atual sem entender por que um livro teria provocado tamanho incômodo na crítica e na mídia. O Sérgio Telles, muito perspicaz, detectou esse permanente interesse que o "Manual" desperta, e resolveu publicar a segunda edição que eu tinha pronta na gaveta.
P - Mas esta edição não é exatamente igual à primeira, é?
GM - Não. Acrescentei mais um capítulo para contar o que aconteceu na última década. Também enxertei fatos e dados que foram omitidos na primeira edição, coisas que agora já dá pra revelar. O "Dobrabil" foi reeditado igualzinho, perfeito fac-símile, mas o "Manual" está bem mais recheado de carne, pimenta e... queijo. (risos) Vai surpreender até a quem já conhecia o texto antigo.
P - A que você atribui a repercussão do livro como documento literário e não apenas como um texto de sacanagem?
GM - Ele tem uma estrutura híbrida e fragmentária que atende aos estudiosos da pós-modernidade e da intertextualidade: mistura prosa com poesia, teorização com memorialismo, pornografia com sentimentalismo.
Tem uma linguagem ora erudita, ora vulgar, ora castiça, ora informal. Mas acho que o que mais impressiona os leitores é a franqueza quase angelical com que eu exponho minhas fraquezas e frustrações e delas me gabo.
P - Você diria que o livro é cem por cento verídico?
GM - Eu diria que é cem por cento verossímil, porque a literatura não é feita só de fatos e pessoas, mas também de fantasias e personagens. Por mais louco que pareça, porém, o livro se mantém fiel a fatos concretos e pessoas reais. São, como diz o subtítulo, "Aventuras e leituras de um tarado por pés", mas são aventuras possíveis e leituras inesquecíveis. Fraquezas transformadas em franquezas. Traumas transformados em tramas. Chagas transformadas em sagas.]
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O psicanalista Sérgio Telles apresenta o livro nestes termos:
Clique na foto para acessar o blog dele
[Esta é a nova edição revista e atualizada do "Manual do Podólatra Amador - Aventuras & leituras de um tarado por pés", de Glauco Mattoso.]
Ao ser lançado em 1986, o livro recebeu resenhas importantes, como as de Néstor Perlongher, Leo Gilson Ribeiro e David William Foster, e seu conteúdo transgressivo provocou um certo escândalo na mídia.
Em "Manual do Podólatra Amador", Glauco Mattoso traça o percurso de sua forma peculiar de atingir o gozo, da qual se apercebeu desde a infância - a fixação em pés masculinos e, mais especificamente, em seu odor fétido advindo do suor, da sujeira, das frieiras e micoses. É essa a mola mestra que aciona sua libido, mais forte do que o desejo propriamente homossexual. Paralelamente, como pano de fundo, descreve a evolução de um mal que o atingiu também desde os primórdios - o glaucoma congênito que terminou por deixá-lo cego na maturidade. Essa enfermidade de tal forma o marca, que o faz adotar o nome literário de Glauco Mattoso, um epigrama que o identifica imediatamente como um glaucomatoso, um portador daquela doença.
Se o glaucoma tem efeitos devastadores, como não é difícil de imaginar, por outro lado, acrescenta novos ingredientes ao gozo do narrador-personagem-autor, pois a cegueira lhe alimenta o masoquismo, possibilitando-lhe novas configurações fantasmáticas.
Diante de tantas dificuldades sofridas pelo autor, poder-se-ia esperar um texto de lamentações. Mas Glauco Mattoso não é um choramingas. Pelo contrário, o tom geral do livro é de uma ironia crua, uma comicidade que muitas vezes atinge o escracho debochado e escatológico, aproximando-se dos excessos de Bocage ou Rabelais.
Indiretamente, Mattoso defende o direito ao exercício de uma libido cuja conformação não foi por ele escolhida e que só lhe cabe vivê-la. A singularidade de seu fetiche - o amor pela disodia, nome castiço que esconde a vulgaridade desagradável do "chulé" - talvez o faça sentir com mais intensidade o peso da solidão e da segregação.
Apartado do comum dos homens em função de um desejo que o arrebata para os confins da experiência sexual, de lá, de suas bordas, de seus limites, destes territórios mais distantes e desconhecidos, Mattoso encontra seu caminho de volta através da escrita, enviando- qual diligente expedicionário - percucientes relatórios deste mundo remoto ignorado pela maioria.
Mattoso lembra Robert Stoller, psicanalista norte-americano morto precocemente num acidente automobilístico, ao acompanhar de perto os freqüentadores de clubes sado-masoquistas e os atores e técnicos das equipes produtoras de filmes pornográficos, resgatando naqueles sujeitos a humanidade e a dignidade, muitas vezes negadas pelos preconceitos e hipocrisias.
Como bem aponta David William Foster, o desejo que acomete Mattoso não é um mero desejo homossexual, o que - se fosse o caso - o deixaria ao abrigo das comunidades gays. Seu gozo é mais transgressivo, mais indomado, mais selvagem. Distancia-se por completo do empenho de normatização apresentado ultimamente por muitos homossexuais, que lutam, por exemplo, pela legalização de suas ligações amorosas e pelo direito de ocuparem as funções materna e paterna, com a adoção de filhos. Tais questões não poderiam estar mais distantes do universo de Mattoso, cujas características o aproximam das sexualidades "queer", foco de grande interesse da comunidade acadêmica norte-americana que tem como objeto de estudo as questões ligadas ao gênero sexual e na qual Judith Butler ocupa posição de destaque.
"Manual do Podólatra Amador" nos faz lembrar que a sexualidade humana, regida que é pelo mundo simbólico, afasta-se totalmente do mundo natural. Neste, a sexualidade visa unir os genitais dos diferentes sexos com fins reprodutivos, regidos pelos períodos de cio. No homem, a sexualidade pode ser mobilizada por fatores muito distantes e surpreendentes, como o faz a disodia no caso de Mattoso.
"Manual do Podólatra Amador" é um livro que pode ser lido sob vários enfoques. Sua linguagem, trabalhada com evidente esmero, afasta-o da mera pornografia, garantindo-lhe um lugar no campo da literatura. Sua conotação política se estabelece ao defender os direitos de um desejo que não se conforma aos padrões da maioria. Finalmente, ao relatar suas vivências com franqueza e lisura, Mattoso produz um valioso depoimento para estudiosos das questões de gênero.]
Ao ser lançado em 1986, o livro recebeu resenhas importantes, como as de Néstor Perlongher, Leo Gilson Ribeiro e David William Foster, e seu conteúdo transgressivo provocou um certo escândalo na mídia.
Em "Manual do Podólatra Amador", Glauco Mattoso traça o percurso de sua forma peculiar de atingir o gozo, da qual se apercebeu desde a infância - a fixação em pés masculinos e, mais especificamente, em seu odor fétido advindo do suor, da sujeira, das frieiras e micoses. É essa a mola mestra que aciona sua libido, mais forte do que o desejo propriamente homossexual. Paralelamente, como pano de fundo, descreve a evolução de um mal que o atingiu também desde os primórdios - o glaucoma congênito que terminou por deixá-lo cego na maturidade. Essa enfermidade de tal forma o marca, que o faz adotar o nome literário de Glauco Mattoso, um epigrama que o identifica imediatamente como um glaucomatoso, um portador daquela doença.
Se o glaucoma tem efeitos devastadores, como não é difícil de imaginar, por outro lado, acrescenta novos ingredientes ao gozo do narrador-personagem-autor, pois a cegueira lhe alimenta o masoquismo, possibilitando-lhe novas configurações fantasmáticas.
Diante de tantas dificuldades sofridas pelo autor, poder-se-ia esperar um texto de lamentações. Mas Glauco Mattoso não é um choramingas. Pelo contrário, o tom geral do livro é de uma ironia crua, uma comicidade que muitas vezes atinge o escracho debochado e escatológico, aproximando-se dos excessos de Bocage ou Rabelais.
Indiretamente, Mattoso defende o direito ao exercício de uma libido cuja conformação não foi por ele escolhida e que só lhe cabe vivê-la. A singularidade de seu fetiche - o amor pela disodia, nome castiço que esconde a vulgaridade desagradável do "chulé" - talvez o faça sentir com mais intensidade o peso da solidão e da segregação.
Apartado do comum dos homens em função de um desejo que o arrebata para os confins da experiência sexual, de lá, de suas bordas, de seus limites, destes territórios mais distantes e desconhecidos, Mattoso encontra seu caminho de volta através da escrita, enviando- qual diligente expedicionário - percucientes relatórios deste mundo remoto ignorado pela maioria.
Mattoso lembra Robert Stoller, psicanalista norte-americano morto precocemente num acidente automobilístico, ao acompanhar de perto os freqüentadores de clubes sado-masoquistas e os atores e técnicos das equipes produtoras de filmes pornográficos, resgatando naqueles sujeitos a humanidade e a dignidade, muitas vezes negadas pelos preconceitos e hipocrisias.
Como bem aponta David William Foster, o desejo que acomete Mattoso não é um mero desejo homossexual, o que - se fosse o caso - o deixaria ao abrigo das comunidades gays. Seu gozo é mais transgressivo, mais indomado, mais selvagem. Distancia-se por completo do empenho de normatização apresentado ultimamente por muitos homossexuais, que lutam, por exemplo, pela legalização de suas ligações amorosas e pelo direito de ocuparem as funções materna e paterna, com a adoção de filhos. Tais questões não poderiam estar mais distantes do universo de Mattoso, cujas características o aproximam das sexualidades "queer", foco de grande interesse da comunidade acadêmica norte-americana que tem como objeto de estudo as questões ligadas ao gênero sexual e na qual Judith Butler ocupa posição de destaque.
"Manual do Podólatra Amador" nos faz lembrar que a sexualidade humana, regida que é pelo mundo simbólico, afasta-se totalmente do mundo natural. Neste, a sexualidade visa unir os genitais dos diferentes sexos com fins reprodutivos, regidos pelos períodos de cio. No homem, a sexualidade pode ser mobilizada por fatores muito distantes e surpreendentes, como o faz a disodia no caso de Mattoso.
"Manual do Podólatra Amador" é um livro que pode ser lido sob vários enfoques. Sua linguagem, trabalhada com evidente esmero, afasta-o da mera pornografia, garantindo-lhe um lugar no campo da literatura. Sua conotação política se estabelece ao defender os direitos de um desejo que não se conforma aos padrões da maioria. Finalmente, ao relatar suas vivências com franqueza e lisura, Mattoso produz um valioso depoimento para estudiosos das questões de gênero.]
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Quem mais detidamente se debruçou sobre a novelesca autobiografia de GM foi o professor David William Foster, do Departamento de Línguas e Literaturas do College of Liberal Arts da Universidade do Arizona. No livro CULTURAL DIVERSITY IN LATIN AMERICAN LITERATURE, editado em 1994 pela Universidade do Novo México, ele inclui o ensaio "Some proposals for the study of Latin American gay culture", onde focaliza o trabalho de GM nestes termos:
Quem mais detidamente se debruçou sobre a novelesca autobiografia de GM foi o professor David William Foster, do Departamento de Línguas e Literaturas do College of Liberal Arts da Universidade do Arizona. No livro CULTURAL DIVERSITY IN LATIN AMERICAN LITERATURE, editado em 1994 pela Universidade do Novo México, ele inclui o ensaio "Some proposals for the study of Latin American gay culture", onde focaliza o trabalho de GM nestes termos:
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D.W.Foster
[...] If, then, there is to be in a sector of the world like Latin America an alternative technology of sexuality, other than cultural production in the narrow sense of the term, it must assume radically different dimensions than either those of science-as-usual or those of a confrontational repudiation of science. What I would like to explore here is one such effort, Glauco Mattoso's MANUAL DO PEDÓLATRA AMADOR; AVENTURAS & LEITURAS DE UM TARADO POR PÉS (MANUAL OF THE AMATEUR FOOTLOVER; ADVENTURES AND READINGS OF SOMEONE WILD ABOUT FEET; 1986), the first volume in a series entitled BOCA DO INFERNO and supplemented by a comic-book version, with illustrations by Marcatti, AS AVENTURAS DE GLAUCOMIX O PEDÓLATRA (THE ADVENTURES OF GLAUCOMIX THE FOOT LOVER; 1990). To begin with, one might well argue that Mattoso's "treatise" is
merely a notable example of marginal narrative, a postmodern novel passing as the author's first-person erotic biography passing, in turn, as a sex manual. Such a characterization of "manual" is a legitimate one, and, were libraries to own it (it seems only to exist in the United States in the Library of Congress), it might as well be classified under Brazilian fiction (PQ) as under sexual treatises (HQ), or perhaps even under facetiae (PN). But what I would like to do here is to examine the ideological implications of reading Mattoso's MANUAL as a valid, albeit especially outrageous, entry in a bibliography of alternate technologies of sex.
Let us begin with an initial characterization of MANUAL as outrageous. Having proposed such a qualifier, I hasten to add that I mean it in no way to be taken as pejorative. Indeed, in the context of a postmodernist aesthetic, any deviation — sexual or rhetorical or the two combined — that may be judged to be outrageous can, in fact, constitute considerable praise. Rather than insinuate a dismissive attitude toward the text because of its failure to abide by the conventions of common-ground discourse — an adherence to a balanced objectivity having the goal of not alienating the timorous reader — the outrageous text establishes in an aggressive manner its credentials as a transgressive voice whose "authority" (the scare quotes serve here to remind us of the oxymoronic nature of a conjugation of the sort "transgressive authority") the reader is willing to accept for the moment. For the purposes of the argument, toward seeing where it might lead, reasonably or otherwise, the reader sees the authority not as inherent (as in the case of established authority) but as an apophantic.
Mattoso's text is outrageous along several axes. In the first place, it is frankly autobiographic, with nary an apology for its scandalous nature or the fact that the sexual deviations it describes are recounted without any trace of mediating rhetoric of moral exculpation ("this is gruesome stuff, but it is, regrettably, human nature as it really is").
Mattoso's account of a sexual education, autobiographical or otherwise, is not framed by the naturalistic conventions of pseudoscientific writing, which serves to posit a vivid dividing line between the moral superiority of the pact shared by reader and narrator (who has transcended the moral abyss of what is narrated) and a stoutly contemplated human corruption. Rather, the suspension of moral distancing accomplished by an unrepentant first-person narrator and the
unmediated (at least by implied or explicit authoritarian judgments) chronical of the sexual facts of life is what provides the basically outrageous coloration of Mattoso's joyful personal memoir.
That this memoir is that of a foot fetishist, and not an abstract fetishist, but one grounded, so to speak, in the grit and grime of the individual's fundamental physical contact with the dirt of the earth, is yet another dimension of the MANUAL's outrageous texture. Mattoso might well have in some metaphorical fashion poeticized his fetish. But by anchoring his discourse in the colloquial Brazilian word "chulé" (something like an omnibus word centered on the English trope "toe jam"), Mattoso means for his reader never to lose sight of the fact that he is dealing, literally, with the slime of history. Indeed, the repudiation of the civilized practice of foot-washing and supplementary fragrances, along with an underscoring of the foot as it comes enclosed in its most proletarian guises, maintains a materiality for the narrator's fetish that effectively blocks any desire of the reader to slip into allegory or any sort of metonymic process that will detour the discourse into means other than the primally literal: multiple attentions devoted to the unadorned foot as an erotic locus in its own right. It is one thing to subscribe to the cheerful notion that the entire body, in every single one of its folds and protuberances, is a unified erogenous zone, and it is quite something else to accord egalitarian attention to each one of those details in an unprejudiced sexual practice that frees one from hypostatized territories and attendant regulating hygienes.
Finally, Mattoso's conjugation of pediphilia and homosexuality is outrageous. To be sure, the regulating notion of homosexuality holds it as inherently outrageous, while hypostatizing such a corporeal intercourse in terms of a presumed dominant anality; such a territorial prejudice, of course, merely accommodates homosexuality within a preexisting, reductionary hypostasis of heterosexual acts as a commerce of the penetrating and the penetrated. By first inscribing his fetish within a homosexual matrix and then defying presumed anal-dominant conventions of homosexuality by relocating primary erogeny to the foot, Mattoso's narrator adds exponential increments to the outrageous quality of his text. Such strategies are accompanied by derivations of the decision to locate the text in the lexical realm of the "chulé" — that
is, by an unrelenting stylistic commitment to a colloquial register of Brazilian Portuguese that, if it only makes reading arduous for the nonnative speaker, renders the MANUAL quite offensive for all but the most indulgent of native speakers. Indeed, native speakers, because they appreciate the nuances of the language, have greater reason for separating themselves from the text than do nonnative speakers, who may simply find it at times incomprehensible.
Let us analyze for a moment Mattoso's first-person narrative. Certainly, the function of such an ostensibly "direct" voice cannot serve merely to legitimize the text, as the content of the adventures described therein are sufficiently deviant from the social norm as to render superfluous any appeal to narrator/reader identity. Yet in a converse and perverse way, the first-person narrator of the MANUAL does, in fact, encourage an identity between narrator and narratee in a dimension the latter may not have hitherto dared to contemplate: Mattoso speaks in his own voice — again, deftly juggling variations and dimensions of an outrageous discourse — in order to establish and confirm an allegiance between that voice and those individuals who may not previously have had at their disposal a sexual discourse suitable to their needs, suspected or otherwise.
This leads me to what I consider to be the most salient point to be made about Mattoso's textual practice, one that is confirmed in the alternation between first-person confessions, quotations from literary and paraliterary sources (approximately 160 pages of text are complemented by 98 footnotes), and sundry pseudorealia (letters from friends, responses to personal ads, and the transcript of a closing dialogue with Sylvia). The point is the way in which a discourse like that of the MANUAL, by contrast to (pseudo) scientific writing and literary fabulation, involves processes designed to provoke the liberalization or the carnivalization of sexual signifiers. That is to say, the MANUAL represents a radical break with a "sensible" analysis of sexuality (with all of the legislative meanings attached to this term) in order to range over various dimensions of the sexual experience toward, essentially, placing every form of behavior under analytical
scrutiny. If normative homosexuality is defied when the narrator experiences his only "heterosexual" act with a woman who latter turns out to be a lesbian, a woman with whom he subsequently establishes a stable interpersonal relationship, the very coming together of Mattoso and Sylvia, first as a "straight" couple and then as two individuals each with an assumed homosexual identity, does little to reconfirm the social primacy of heterosexual marriage. And if pediphilia has as its most eloquent endorsement the possibility of "continuar transando numa boa sem risco de AIDS" (back cover), it can only function as a powerful turn-on for the narrator in its most strident dimension of "sexo sujo" (dirty sex). By recontextualizing sexual experience in terms of an erogenous zone that defies all of the Western culturemes of cleanliness, the MANUAL jejunely defies its readers to exceed limits that they might not even have imagined to exist. All of these textual strategies are moves in a process of turning sexual signifiers into a free-floating process of meanings that have little to do with standard sex manuals, whether hetero- or homosexual (cf. 35-36, 68-69).
This sort of analytical assessment of options, founded on an appeal to concrete personal experience, with the latter being reinforced by a colloquial register complemented by circumstantial word plays, is what distances Mattoso's exposition from a First World sexual treatise, anchoring it the specific sociocultural context of the Rio de Janeiro and São Paulo sexual underworld of the 1970s and early 1980s (underworld not just because it is marginal sexuality, but because Brazil was still under dictatorship, a fact to which Mattoso makes reference when he speaks of the censorship of "immoral" gay publications with which he was associated). This appeal to a grounding in personal experience is especially evident when the narrator interfaces details of his desires and erotic undertakings with the written record, frequently drawn from
American sources (and quoted in the original English):
Como o leitor terá notado, tais contos nada mais eram que uma transposição de minhas experiências reais PARA UM PLANO LIGEIRAMENTE MAIS FANTÁSTICO. Coisa que agora até se afigura supérflua, em face deste livro onde estou relatando tudo em suas proporções exatas. (120; emphasis added) [As the reader will have noticed, stories like these
were nothing more than a transposition of my real experiences onto a slightly more fantastic plane. This is something that now might seem to be somewhat superfluous, in view of this book where I am describing everything in exact terms.]
It should be noted here that the above statement refers to one of Mattoso's own texts, which he quotes in the original Portuguese and then in the English translation in which it circulated internationally in theLeyland anthology.
On another occasion, the narrator complains of the annoying reticence of texts in the reporting of the actual facts of physical suffering, a suffering that for him constitutes a crucial erotic dimension:
De fato, o que há muito me irritava era a enxurrada de livros de "memórias" de vítimas da repressão, que pretendiam denunciar as violências sofridas, mas que, por pudores moralistas ou escrúpulos ideológicos, se auto-censuravam justamente no momento de descrever as cenas de tortura, sobretudo os lances sexuais implícitos ou explícitos,
os quais acabavam sistematicamente omitidos ou eufemizados. (123) [In fact, what most bothered me was the abundance of books containing "memoirs" of the victims of repression that sought to denounce the violence they suffered but that, out of moral shame or ideological scruples, practiced self-censorship precisely when it came time to describing the scenes of torture, particularly ones involving implicit or explicit sexual acts, which end up being systematically omitted or euphemized.]
Indeed, the dimension of Mattoso's personal record that underscores his interest in sadomasochism points to one of the most ideologically problematic aspects of his texts — that is, an instance in which it becomes most specifically outrageous in the context of objective sexual treatises. It is not just that Mattoso defends sadomasochism's legitimate appeal as an erotic impulse. This is a position that has produced serious rifts in gay writing, and one can compare the negative images provided, from a male point of view, in John Rechy's novel RUSHES with the positive ones, from a female point of view in Pat Califia's stories in MACHO SLUTS. Califia's collection contains an important essay in defense of lesbian sadomasochism: sadomasochism is frequently viewed as problematical because it, among other things, ritualizes the
homosexual's position as victim and outcast, with lesbian sadomasochism adding the dimension of women's generalized experience as the object of sexual violence (see Dworkin). Yet Mattoso makes it clear that he is defending sadomasochism, not from a "Nazi" perspective of the appropriate domination of the weak by the strong, but as a form of sexual theatrics where rituals of symbolic humiliation, not actual physical torment, are at issue (145; this is also the sense of the quote, "Sim, porque tortura de verdade, na própria pele, nem morta!" [36]). [Yes, because real torture, on my own hid — not on your life!]
Mattoso's distinction between actual torture and sadomasochism as a form of sexual theatrics (although he does recognize, as many commentators on official torture have, that the former inevitably involves a dimension of the latter, at least for the torturer; see Liliana Cavani's 1974 film THE NIGHT PORTER) does not, however, exhaust this one highly problematic
dimension of his outrageous defense of pediphilia. Mattoso proceeds to defend not so much the erotic resonances of actual political torture as the use of such accounts as ingredients in his own erotic psychodrama, in which the descriptions of the torments inflicted on others in the name of a political economy can properly be recorded to serve as stimuli in an arena of personal sexual pleasure. Rather than questioning the validity of such a transcoding and eschewing a consideration of how politically correct readers might find such an operation cynical, to the extent that it becomes complicitous with the legitimation of political torture, Mattoso's autobiographical narrator segues into a consideration of such texts as erotically inadequate because they stop short of providing the sort of explicit details about eroticized suffering his personal interests require. Rather than addressing the question as to why such silences and euphemisms are present in the texts of the memoirs of survival — a discursive analysis of such writing (which Mattoso has no obligation to engage in) might begin with what can and what cannot be spoken, given the inaugural abyss between the knowledge of the narrator and the "outsiderness" of the narratee — the narrator as writer contemplates the need, which is, after all, the starting point of the MANUAL, to create his own erotic discourse (124).
Just as Mattoso concerns himself with defending his pediphilic interpretation of literary texts that foreground the foot, he equally eschews theorizing his desire to read erotically the memoirs of the survivors of political torture, failing even to recognize the substantive, real-life differences between the two categories of discourse. The indiscriminate conjugation of the two constitutes one of the most outrageous, if not ideologically troublesome, aspects of the MANUAL. But the fact is that Mattoso dispenses with both forms of writing as inadequate to his own expressive needs, and it is in the space cleared by the furlough given both literature and prison memoirs that the MANUAL is able to emerge, grounded in a highlighted personal experience that validates itself, NOT by the confirmation of images in other sources but by its putative singularity. Indeed, Mattoso's principal autoconfirmation will come from the reader response he records to earlier versions of experiences, all sustained by varieties of the same topos.
The transgressive panerotics of sexual desire that Mattoso's narrative puts in motion on the basis of the multiple dimensions of outrageousness I have described, ranging from the narrator's basic erotic postulates to the ideologically problematic dimensions of his exposition, deviate significantly from the sexual hygienics on which scientific sexual treatises and erotic manuals emanating from the First World, and widely available in translation in Latin American bookstores, are grounded. One can venture to say that the difficulty the reader might experience in attempting to "normalize" Mattoso's discourse, in either its general erotic terms or as a declaration of personal experiences, within the context of socially respectable writing about sex is a function of the way in which the MANUAL engages in various strategies to subvert current standardized sexual practices, hetero- as well as homosexual. And by appealing to a principle of sexual health — Mattoso describes in his chronicles his experiences as a sexual podiatrist who offers his clients shiatsu — the MANUAL reinscribes a joyfully deviant "sexo sujo" into the dominant social code of healthy sex: sex as healthful and health as a component of institutionalized sexual behavior.
One of the fundamental points to be made about the MANUAL, a dimension of both its carnivalization of "legitimate" and "illegitimate" sex and its outrageous discursive practices, is a fundamental contradiction surrounding erotic specifics. Certainly, Mattoso's text bases its appeal to a large extent on the added outrageousness of the nonresolution of the contradictions perceived from the perspective of a "balanced" sociological treatise. From one point of view, the reader might feel compelled to go beyond the text's conjugation of pediphilia and homosexuality (as well as a number of other facets of the narrator's exercise of sex, such as its public announcement, its promiscuity, its transgressive blend of the erotic and the politically oppressive, and its transgressive blend of the erotic and the medical) and say that Mattoso's MANUAL is simply synecdochic as regards the need to promote alternative programs of sexuality, especially in the context of AIDS.
(For a scholarly defense of such a proposition, see Cohen's article on Foucault, an appropriate reference point, as it was Foucault who examined the concept of sexuality as a sociopolitical, institutionalized construct. In his postface to the MANUAL, however, Perlongher underscores how Mattoso subverts the medical discourse on AIDS [175-76].) From this perspective, Mattoso liberates a series of sexual signifiers as part of a program to challenge the reader to reconsider
sexual practices beyond the institutionalized, whether that institutionalization concerns the hegemonic heterosexual program or involves what he considers to be deleterious reifications of a dominant but limited range of practices within homosexuality (112-16). Such a reading, of course, will serve primarily to permit the reader to reinsert Mattoso's discourse about alternate sexuality within institutionalized practices because it sanctions the retuning of discordant elements within a generalized, and therefore nonconcretely material, concept of sexual liberation that allows one to ignore unseemly details.
Yet there is a point beyond which such an allegorical reading of the MANUAL breaks down and the novel's fundamentally outrageous nature reasserts itself in the fact that, radical dispersion of sexual signifiers aside, the narrator's discourse focuses over and over again on one form of sexual activity, the erotic pleasure to be derived from practices centered on the sucking of dirty feet (a fact that is graphically inescapable in the Glaucomix version of the text). In the process, the narrator provides a categorically accurate portrait of actual sexual desire: "Porra, como tem cara louco nesta cidade..." (154). ["Damn, this city sure has a lot of real crazies..."]
[...] If, then, there is to be in a sector of the world like Latin America an alternative technology of sexuality, other than cultural production in the narrow sense of the term, it must assume radically different dimensions than either those of science-as-usual or those of a confrontational repudiation of science. What I would like to explore here is one such effort, Glauco Mattoso's MANUAL DO PEDÓLATRA AMADOR; AVENTURAS & LEITURAS DE UM TARADO POR PÉS (MANUAL OF THE AMATEUR FOOTLOVER; ADVENTURES AND READINGS OF SOMEONE WILD ABOUT FEET; 1986), the first volume in a series entitled BOCA DO INFERNO and supplemented by a comic-book version, with illustrations by Marcatti, AS AVENTURAS DE GLAUCOMIX O PEDÓLATRA (THE ADVENTURES OF GLAUCOMIX THE FOOT LOVER; 1990). To begin with, one might well argue that Mattoso's "treatise" is
merely a notable example of marginal narrative, a postmodern novel passing as the author's first-person erotic biography passing, in turn, as a sex manual. Such a characterization of "manual" is a legitimate one, and, were libraries to own it (it seems only to exist in the United States in the Library of Congress), it might as well be classified under Brazilian fiction (PQ) as under sexual treatises (HQ), or perhaps even under facetiae (PN). But what I would like to do here is to examine the ideological implications of reading Mattoso's MANUAL as a valid, albeit especially outrageous, entry in a bibliography of alternate technologies of sex.
Let us begin with an initial characterization of MANUAL as outrageous. Having proposed such a qualifier, I hasten to add that I mean it in no way to be taken as pejorative. Indeed, in the context of a postmodernist aesthetic, any deviation — sexual or rhetorical or the two combined — that may be judged to be outrageous can, in fact, constitute considerable praise. Rather than insinuate a dismissive attitude toward the text because of its failure to abide by the conventions of common-ground discourse — an adherence to a balanced objectivity having the goal of not alienating the timorous reader — the outrageous text establishes in an aggressive manner its credentials as a transgressive voice whose "authority" (the scare quotes serve here to remind us of the oxymoronic nature of a conjugation of the sort "transgressive authority") the reader is willing to accept for the moment. For the purposes of the argument, toward seeing where it might lead, reasonably or otherwise, the reader sees the authority not as inherent (as in the case of established authority) but as an apophantic.
Mattoso's text is outrageous along several axes. In the first place, it is frankly autobiographic, with nary an apology for its scandalous nature or the fact that the sexual deviations it describes are recounted without any trace of mediating rhetoric of moral exculpation ("this is gruesome stuff, but it is, regrettably, human nature as it really is").
Mattoso's account of a sexual education, autobiographical or otherwise, is not framed by the naturalistic conventions of pseudoscientific writing, which serves to posit a vivid dividing line between the moral superiority of the pact shared by reader and narrator (who has transcended the moral abyss of what is narrated) and a stoutly contemplated human corruption. Rather, the suspension of moral distancing accomplished by an unrepentant first-person narrator and the
unmediated (at least by implied or explicit authoritarian judgments) chronical of the sexual facts of life is what provides the basically outrageous coloration of Mattoso's joyful personal memoir.
That this memoir is that of a foot fetishist, and not an abstract fetishist, but one grounded, so to speak, in the grit and grime of the individual's fundamental physical contact with the dirt of the earth, is yet another dimension of the MANUAL's outrageous texture. Mattoso might well have in some metaphorical fashion poeticized his fetish. But by anchoring his discourse in the colloquial Brazilian word "chulé" (something like an omnibus word centered on the English trope "toe jam"), Mattoso means for his reader never to lose sight of the fact that he is dealing, literally, with the slime of history. Indeed, the repudiation of the civilized practice of foot-washing and supplementary fragrances, along with an underscoring of the foot as it comes enclosed in its most proletarian guises, maintains a materiality for the narrator's fetish that effectively blocks any desire of the reader to slip into allegory or any sort of metonymic process that will detour the discourse into means other than the primally literal: multiple attentions devoted to the unadorned foot as an erotic locus in its own right. It is one thing to subscribe to the cheerful notion that the entire body, in every single one of its folds and protuberances, is a unified erogenous zone, and it is quite something else to accord egalitarian attention to each one of those details in an unprejudiced sexual practice that frees one from hypostatized territories and attendant regulating hygienes.
Finally, Mattoso's conjugation of pediphilia and homosexuality is outrageous. To be sure, the regulating notion of homosexuality holds it as inherently outrageous, while hypostatizing such a corporeal intercourse in terms of a presumed dominant anality; such a territorial prejudice, of course, merely accommodates homosexuality within a preexisting, reductionary hypostasis of heterosexual acts as a commerce of the penetrating and the penetrated. By first inscribing his fetish within a homosexual matrix and then defying presumed anal-dominant conventions of homosexuality by relocating primary erogeny to the foot, Mattoso's narrator adds exponential increments to the outrageous quality of his text. Such strategies are accompanied by derivations of the decision to locate the text in the lexical realm of the "chulé" — that
is, by an unrelenting stylistic commitment to a colloquial register of Brazilian Portuguese that, if it only makes reading arduous for the nonnative speaker, renders the MANUAL quite offensive for all but the most indulgent of native speakers. Indeed, native speakers, because they appreciate the nuances of the language, have greater reason for separating themselves from the text than do nonnative speakers, who may simply find it at times incomprehensible.
Let us analyze for a moment Mattoso's first-person narrative. Certainly, the function of such an ostensibly "direct" voice cannot serve merely to legitimize the text, as the content of the adventures described therein are sufficiently deviant from the social norm as to render superfluous any appeal to narrator/reader identity. Yet in a converse and perverse way, the first-person narrator of the MANUAL does, in fact, encourage an identity between narrator and narratee in a dimension the latter may not have hitherto dared to contemplate: Mattoso speaks in his own voice — again, deftly juggling variations and dimensions of an outrageous discourse — in order to establish and confirm an allegiance between that voice and those individuals who may not previously have had at their disposal a sexual discourse suitable to their needs, suspected or otherwise.
This leads me to what I consider to be the most salient point to be made about Mattoso's textual practice, one that is confirmed in the alternation between first-person confessions, quotations from literary and paraliterary sources (approximately 160 pages of text are complemented by 98 footnotes), and sundry pseudorealia (letters from friends, responses to personal ads, and the transcript of a closing dialogue with Sylvia). The point is the way in which a discourse like that of the MANUAL, by contrast to (pseudo) scientific writing and literary fabulation, involves processes designed to provoke the liberalization or the carnivalization of sexual signifiers. That is to say, the MANUAL represents a radical break with a "sensible" analysis of sexuality (with all of the legislative meanings attached to this term) in order to range over various dimensions of the sexual experience toward, essentially, placing every form of behavior under analytical
scrutiny. If normative homosexuality is defied when the narrator experiences his only "heterosexual" act with a woman who latter turns out to be a lesbian, a woman with whom he subsequently establishes a stable interpersonal relationship, the very coming together of Mattoso and Sylvia, first as a "straight" couple and then as two individuals each with an assumed homosexual identity, does little to reconfirm the social primacy of heterosexual marriage. And if pediphilia has as its most eloquent endorsement the possibility of "continuar transando numa boa sem risco de AIDS" (back cover), it can only function as a powerful turn-on for the narrator in its most strident dimension of "sexo sujo" (dirty sex). By recontextualizing sexual experience in terms of an erogenous zone that defies all of the Western culturemes of cleanliness, the MANUAL jejunely defies its readers to exceed limits that they might not even have imagined to exist. All of these textual strategies are moves in a process of turning sexual signifiers into a free-floating process of meanings that have little to do with standard sex manuals, whether hetero- or homosexual (cf. 35-36, 68-69).
This sort of analytical assessment of options, founded on an appeal to concrete personal experience, with the latter being reinforced by a colloquial register complemented by circumstantial word plays, is what distances Mattoso's exposition from a First World sexual treatise, anchoring it the specific sociocultural context of the Rio de Janeiro and São Paulo sexual underworld of the 1970s and early 1980s (underworld not just because it is marginal sexuality, but because Brazil was still under dictatorship, a fact to which Mattoso makes reference when he speaks of the censorship of "immoral" gay publications with which he was associated). This appeal to a grounding in personal experience is especially evident when the narrator interfaces details of his desires and erotic undertakings with the written record, frequently drawn from
American sources (and quoted in the original English):
Como o leitor terá notado, tais contos nada mais eram que uma transposição de minhas experiências reais PARA UM PLANO LIGEIRAMENTE MAIS FANTÁSTICO. Coisa que agora até se afigura supérflua, em face deste livro onde estou relatando tudo em suas proporções exatas. (120; emphasis added) [As the reader will have noticed, stories like these
were nothing more than a transposition of my real experiences onto a slightly more fantastic plane. This is something that now might seem to be somewhat superfluous, in view of this book where I am describing everything in exact terms.]
It should be noted here that the above statement refers to one of Mattoso's own texts, which he quotes in the original Portuguese and then in the English translation in which it circulated internationally in theLeyland anthology.
On another occasion, the narrator complains of the annoying reticence of texts in the reporting of the actual facts of physical suffering, a suffering that for him constitutes a crucial erotic dimension:
De fato, o que há muito me irritava era a enxurrada de livros de "memórias" de vítimas da repressão, que pretendiam denunciar as violências sofridas, mas que, por pudores moralistas ou escrúpulos ideológicos, se auto-censuravam justamente no momento de descrever as cenas de tortura, sobretudo os lances sexuais implícitos ou explícitos,
os quais acabavam sistematicamente omitidos ou eufemizados. (123) [In fact, what most bothered me was the abundance of books containing "memoirs" of the victims of repression that sought to denounce the violence they suffered but that, out of moral shame or ideological scruples, practiced self-censorship precisely when it came time to describing the scenes of torture, particularly ones involving implicit or explicit sexual acts, which end up being systematically omitted or euphemized.]
Indeed, the dimension of Mattoso's personal record that underscores his interest in sadomasochism points to one of the most ideologically problematic aspects of his texts — that is, an instance in which it becomes most specifically outrageous in the context of objective sexual treatises. It is not just that Mattoso defends sadomasochism's legitimate appeal as an erotic impulse. This is a position that has produced serious rifts in gay writing, and one can compare the negative images provided, from a male point of view, in John Rechy's novel RUSHES with the positive ones, from a female point of view in Pat Califia's stories in MACHO SLUTS. Califia's collection contains an important essay in defense of lesbian sadomasochism: sadomasochism is frequently viewed as problematical because it, among other things, ritualizes the
homosexual's position as victim and outcast, with lesbian sadomasochism adding the dimension of women's generalized experience as the object of sexual violence (see Dworkin). Yet Mattoso makes it clear that he is defending sadomasochism, not from a "Nazi" perspective of the appropriate domination of the weak by the strong, but as a form of sexual theatrics where rituals of symbolic humiliation, not actual physical torment, are at issue (145; this is also the sense of the quote, "Sim, porque tortura de verdade, na própria pele, nem morta!" [36]). [Yes, because real torture, on my own hid — not on your life!]
Mattoso's distinction between actual torture and sadomasochism as a form of sexual theatrics (although he does recognize, as many commentators on official torture have, that the former inevitably involves a dimension of the latter, at least for the torturer; see Liliana Cavani's 1974 film THE NIGHT PORTER) does not, however, exhaust this one highly problematic
dimension of his outrageous defense of pediphilia. Mattoso proceeds to defend not so much the erotic resonances of actual political torture as the use of such accounts as ingredients in his own erotic psychodrama, in which the descriptions of the torments inflicted on others in the name of a political economy can properly be recorded to serve as stimuli in an arena of personal sexual pleasure. Rather than questioning the validity of such a transcoding and eschewing a consideration of how politically correct readers might find such an operation cynical, to the extent that it becomes complicitous with the legitimation of political torture, Mattoso's autobiographical narrator segues into a consideration of such texts as erotically inadequate because they stop short of providing the sort of explicit details about eroticized suffering his personal interests require. Rather than addressing the question as to why such silences and euphemisms are present in the texts of the memoirs of survival — a discursive analysis of such writing (which Mattoso has no obligation to engage in) might begin with what can and what cannot be spoken, given the inaugural abyss between the knowledge of the narrator and the "outsiderness" of the narratee — the narrator as writer contemplates the need, which is, after all, the starting point of the MANUAL, to create his own erotic discourse (124).
Just as Mattoso concerns himself with defending his pediphilic interpretation of literary texts that foreground the foot, he equally eschews theorizing his desire to read erotically the memoirs of the survivors of political torture, failing even to recognize the substantive, real-life differences between the two categories of discourse. The indiscriminate conjugation of the two constitutes one of the most outrageous, if not ideologically troublesome, aspects of the MANUAL. But the fact is that Mattoso dispenses with both forms of writing as inadequate to his own expressive needs, and it is in the space cleared by the furlough given both literature and prison memoirs that the MANUAL is able to emerge, grounded in a highlighted personal experience that validates itself, NOT by the confirmation of images in other sources but by its putative singularity. Indeed, Mattoso's principal autoconfirmation will come from the reader response he records to earlier versions of experiences, all sustained by varieties of the same topos.
The transgressive panerotics of sexual desire that Mattoso's narrative puts in motion on the basis of the multiple dimensions of outrageousness I have described, ranging from the narrator's basic erotic postulates to the ideologically problematic dimensions of his exposition, deviate significantly from the sexual hygienics on which scientific sexual treatises and erotic manuals emanating from the First World, and widely available in translation in Latin American bookstores, are grounded. One can venture to say that the difficulty the reader might experience in attempting to "normalize" Mattoso's discourse, in either its general erotic terms or as a declaration of personal experiences, within the context of socially respectable writing about sex is a function of the way in which the MANUAL engages in various strategies to subvert current standardized sexual practices, hetero- as well as homosexual. And by appealing to a principle of sexual health — Mattoso describes in his chronicles his experiences as a sexual podiatrist who offers his clients shiatsu — the MANUAL reinscribes a joyfully deviant "sexo sujo" into the dominant social code of healthy sex: sex as healthful and health as a component of institutionalized sexual behavior.
One of the fundamental points to be made about the MANUAL, a dimension of both its carnivalization of "legitimate" and "illegitimate" sex and its outrageous discursive practices, is a fundamental contradiction surrounding erotic specifics. Certainly, Mattoso's text bases its appeal to a large extent on the added outrageousness of the nonresolution of the contradictions perceived from the perspective of a "balanced" sociological treatise. From one point of view, the reader might feel compelled to go beyond the text's conjugation of pediphilia and homosexuality (as well as a number of other facets of the narrator's exercise of sex, such as its public announcement, its promiscuity, its transgressive blend of the erotic and the politically oppressive, and its transgressive blend of the erotic and the medical) and say that Mattoso's MANUAL is simply synecdochic as regards the need to promote alternative programs of sexuality, especially in the context of AIDS.
(For a scholarly defense of such a proposition, see Cohen's article on Foucault, an appropriate reference point, as it was Foucault who examined the concept of sexuality as a sociopolitical, institutionalized construct. In his postface to the MANUAL, however, Perlongher underscores how Mattoso subverts the medical discourse on AIDS [175-76].) From this perspective, Mattoso liberates a series of sexual signifiers as part of a program to challenge the reader to reconsider
sexual practices beyond the institutionalized, whether that institutionalization concerns the hegemonic heterosexual program or involves what he considers to be deleterious reifications of a dominant but limited range of practices within homosexuality (112-16). Such a reading, of course, will serve primarily to permit the reader to reinsert Mattoso's discourse about alternate sexuality within institutionalized practices because it sanctions the retuning of discordant elements within a generalized, and therefore nonconcretely material, concept of sexual liberation that allows one to ignore unseemly details.
Yet there is a point beyond which such an allegorical reading of the MANUAL breaks down and the novel's fundamentally outrageous nature reasserts itself in the fact that, radical dispersion of sexual signifiers aside, the narrator's discourse focuses over and over again on one form of sexual activity, the erotic pleasure to be derived from practices centered on the sucking of dirty feet (a fact that is graphically inescapable in the Glaucomix version of the text). In the process, the narrator provides a categorically accurate portrait of actual sexual desire: "Porra, como tem cara louco nesta cidade..." (154). ["Damn, this city sure has a lot of real crazies..."]
This chapter has examined three narrative texts under the rubric of gay culture. It would be inappropriate for me to assert that they have a unitary stance toward this rather general concept, particularly as I have characterized Reinaldo Arenas's novel [EL PALACIO DE LAS BLANQUÍSIMAS MOFETAS] as marked less by a homosexual thematics than by agay sensibility, Sara Levi Calderón's novel [DOS MUJERES] as a specifically lesbian liberationist consciousness, and Mattoso's autobiography as a commitment to something like a pansexuality in which gender-based identities and acts seem trivial in the wake of strong assertions regarding transgressive sexual experimentation. Perhaps the best way of seeing this texts as contributions toward a Latin American discourse of sexuality is in terms of their variegated challenges tocompulsory heterosexuality. The challenge to the latter is not so much a defense of a specific form of male or female homosexuality (pace the grim psychomedical connotations of that phrase) as it is a defiance of, to use Peter Fry's marvelous evocation of a colloquial Brazilian trope, sex PRA INGLÊS VER — the face of sex presented to the (missionary) Englishman, which means, to be sure, not only heterosexuality, but heterosexuality within the confines of passionless, functional creation.
The image of the bourgeoisie in both Arenas's and Levi Calderón's novels — society in the throes of decay from within in the case of the former; society as all-too-effeciently and frighteningly functioning in the case of the latter — afford the authors with carefully articulated backdrops against which to project individuals whose personal imperatives, onlysynechdocally sexual, are radically deviant: the result, because a queer sensibility, is fundamentally socially deconstructive. It is for this reason that Mattoso's sexual handbook, although clearly promoting modalities of male homoeroticism, goes beyond the specifically gay, to the extent that the fetish it promotes is almost allegorically non-gender specific.
Where treatises on the joys of lesbian or gay sex highlight erogenous zones and erotic activities that privilege what is
either characteristically feminine or characteristically masculine, foot fetishism in Mattoso's MANUAL, aside from the possibility of associating it with a form of enslavement in the paradigmatic case of Chinese foot binding, reaches toward a gay sensibility precisely in its degendering of erotic pleasure, in its rejection of sex as masculine or feminine role playing. Much remains to be explored in these realms of Latin American cultural production, and I have chosen to content myself here with something like the act of criticism as itself metonymic or synechdocal: less the representation of particularly eloquent examples (although I think that they are) than a proposition regarding the types of material that must be looked at if we are to go beyond the merely thematic, the merely (auto)biographical in characterizing how a truly comprehensive range of erotic experiences are encoded in Latin American writing.
Glauco publica em 1990, pelo selo fantasia Quadrinhos Abriu/Fechou, o álbum de HQ intitulado AS AVENTURAS DE GLAUCOMIX, O PODÓLATRA, desenhado por Marcatti e roteirizado pelo autor do livro MANUAL DO PODÓLATRA AMADOR. Tal como no livro, a palavra "podólatra" estava grafada "pedólatra", forma usada na época pela imprensa erótica, embora híbrida. O nome e o logotipo da "editora" eram uma paródia das grandes casas publicadoras de quadrinhos no formato álbum, considerado mais "nobre" e voltado, em tese, para adultos, segundo o conceito europeu (embora lá até Astérix e Tintin saiam nesse formato).
either characteristically feminine or characteristically masculine, foot fetishism in Mattoso's MANUAL, aside from the possibility of associating it with a form of enslavement in the paradigmatic case of Chinese foot binding, reaches toward a gay sensibility precisely in its degendering of erotic pleasure, in its rejection of sex as masculine or feminine role playing. Much remains to be explored in these realms of Latin American cultural production, and I have chosen to content myself here with something like the act of criticism as itself metonymic or synechdocal: less the representation of particularly eloquent examples (although I think that they are) than a proposition regarding the types of material that must be looked at if we are to go beyond the merely thematic, the merely (auto)biographical in characterizing how a truly comprehensive range of erotic experiences are encoded in Latin American writing.
Glauco publica em 1990, pelo selo fantasia Quadrinhos Abriu/Fechou, o álbum de HQ intitulado AS AVENTURAS DE GLAUCOMIX, O PODÓLATRA, desenhado por Marcatti e roteirizado pelo autor do livro MANUAL DO PODÓLATRA AMADOR. Tal como no livro, a palavra "podólatra" estava grafada "pedólatra", forma usada na época pela imprensa erótica, embora híbrida. O nome e o logotipo da "editora" eram uma paródia das grandes casas publicadoras de quadrinhos no formato álbum, considerado mais "nobre" e voltado, em tese, para adultos, segundo o conceito europeu (embora lá até Astérix e Tintin saiam nesse formato).
Recapitulemos o processo de criação de GLAUCOMIX:
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Em 1987, Glauco Mattoso começa a colaborar no gibi criado pelo cartunista Angeli, CHICLETE COM BANANA. Sua participação é essencialmente textual, mas em 1988 o gibi publica um dos capítulos daquela que seria a versão "quadrinizada" do MANUAL DO PODÓLATRA AMADOR,
a HQ "Treta no trote", desenhada por Marcatti, já famoso no underground por seus gibis caseiros, cujos personagens, caricaturados no estilo de Crumb e Shelton, chafurdavam na escrotidão de toda espécie.
a HQ "Treta no trote", desenhada por Marcatti, já famoso no underground por seus gibis caseiros, cujos personagens, caricaturados no estilo de Crumb e Shelton, chafurdavam na escrotidão de toda espécie.
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Outros capítulos, desenhados posteriormente, apareceram no gibi porto-alegrense MEGA QUADRINHO: as HQs "Foi um Rio que pisou na minha língua" e "O meio é a massagem", em 1989. A HQ "Foi um rio que pisou na minha língua" apareceria também no fanzine TRENDIE, encartado no jornal curitibano CORREIO DE NOTÍCIAS, e a HQ "O meio é a massagem" apareceria num dos gibis do próprio Marcatti, LODO. Um outro capítulo, "O dia da caça", apareceu no gibi TRALHA, também editado (1989) por Marcatti em colaboração com Lourenço Mutarelli e com o próprio Mattoso, e que não passou do segundo número, embora tivesse distribuição em bancas.
Após criar mais dois capítulos inéditos ("Inimiguinhos de infância" e "Anticorpo ou anticabeça?"), GM publica um álbum no formato Astérix contendo a série completa: AS AVENTURAS DE GLAUCOMIX, O PODÓLATRA, em edição independente. O álbum, lançado na Bienal do Livro em 1990, provocou polêmica e dividiu opiniões. Atraiu, como se previra, simpatias e antipatias. Entre as antipatias, algumas de dentro do próprio meio quadrinhístico, que ficaram patentes quando da premiação do troféu HQ Mix referente a 1990, cujos organizadores cancelaram a categoria "álbum
independente" apenas para que não fosse reconhecido um trabalho de cunho homossexual. No entanto, mantiveram a categoria "independente" para outras conveniências e oportunidades. Entre as manifestações simpáticas está a avaliação do também quadrinhista, fanzineiro e crítico da área
Henrique Magalhães, cujo artigo saiu em 1991 em seu próprio zine NHÔ-QUIM após ter saído no jornal paraibano O NORTE, conforme segue:
independente" apenas para que não fosse reconhecido um trabalho de cunho homossexual. No entanto, mantiveram a categoria "independente" para outras conveniências e oportunidades. Entre as manifestações simpáticas está a avaliação do também quadrinhista, fanzineiro e crítico da área
Henrique Magalhães, cujo artigo saiu em 1991 em seu próprio zine NHÔ-QUIM após ter saído no jornal paraibano O NORTE, conforme segue:
"O REQUINTE 'UNDERGROUND' DOS QUADRINHOS", por Henrique Magalhães
H. Magalhães
Os quadrinhos marginais, ou independentes, ou "underground" têm se caracterizado no Brasil pela sua pouca consistência temática e pela eventualidade de sua publicação. Algumas experiências foram tentadas ainda na década de 70, quando a revista GRILO introduziu no país os trabalhos de um dos maiores artistas deste gênero nos Estados Unidos: Robert Crumb, com seus personagens contestadores ao sistema capitalista e levantando a polêmica sobre assuntos malditos à época, como drogas e sexo livre. "Mr Natural" e "Fritz, the cat" influenciaram decisivamente autores nacionais como Angeli, autoconfesso fanático pelo trabalho de Crumb.
As publicações alternativas brasileiras enveredaram por outro caminho, na urgência de se contrapor ao regime ditatorial imposto pelos militares. Os quadrinhos e cartuns aproximavam-se mais da charge, levantando questões políticas que mais tocavam nossa sociedade. Os quadrinhos de costumes eram praticamente inexistentes até o final dos anos 70, quando houve uma virada de perspectiva com a abertura política e novos horizontes passaram a ser almejados por nosso humor gráfico.
Os quadrinhos acompanharam essa mudança de rumo fomentando trabalhos como CHICLETE COM BANANA, de Angeli, "O Condomínio" e "Piratas do Tietê", de Laerte, entre inúmeros novos quadrinhistas que semearam seu espaço na grande imprensa e nas publicações alternativas.
Vem da imprensa alternativa a experiência mais marcante quanto à temática "underground" nos quadrinhos. Com um traço personalíssimo, abusando do preto, com figuras grotescas e abordando toda a escatologia abominada pela sociedade, Marcatti começou a editar suas próprias revistas no início dos 80, a distribuí-las e vendê-las de mão em mão, à moda dos poetas marginais da "geração mimeógrafo". Dono de sua própria gráfica — uma pequena máquina offset — Marcatti usou de toda liberdade
para editar títulos pouco convencionais como LODO, MIJO, PÂNTANO, e fazer histórias escabrosas onde sexo se misturava com toda espécie de sujeira, mas sem cair no "moralismo edificante". O despudor e falta de preconceito de Marcatti era o que mais chocava em suas revistas que, aos mais incautos, se tornavam um libelo repugnante.
Num outro prisma a cultura escatológica vinha sendo explorada por Glauco Mattoso, poeta "marginal", ensaísta e editor dos memoráveis folhetos JORNAL DOBRABIL e REVISTA DEDO MINGO. Glauco, como Marcatti, vinha na contracorrente da imprensa alternativa, que cada vez mais foi-se tornando digerível pela sociedade. Temáticas que se pode chamar extravagantes, ou mesmo pouco convencionais, como tortura, trote estudantil, poesia marginal, fazem parte do universo dos trabalhos de Glauco, que chegam ao refinamento quando partem para assuntos mais indigestos como a associação de sexo com perversão. Foi a partir de sua própria experiência que ele editou, em 1986, um livro que tornou-se polêmico pela ousadia de sua proposta. O MANUAL DO PEDÓLATRA AMADOR: AVENTURAS & LEITURAS DE UM TARADO POR PÉS conta as investidas do autor no que ele chamou de "massagem linguopedal". Através de panfletos distribuídos em pontos estratégicos de São Paulo, Glauco oferecia-se para desafogar as frustrações de diversos segmentos da sociedade, como policiais, halterofilistas, skatistas e toda sorte de pessoas com recalques, através de sua massagem. A proposta consistia em lamber os pés de homens, desde que estivessem bem sujos e fedorentos, numa síntese de humilhação e prazer para o massageador, de prepotência e prazer para o massageado. Este tipo de perversão, por mais escabrosa que possa parecer, seduziu centenas de pessoas, de adolescentes a pais de família, numa demonstração de que as fantasias humanas são mais surpreendentes do que se possa imaginar.
AS AVENTURAS DE GLAUCOMIX, O PEDÓLATRA é a tradução para os quadrinhos deste livro de Glauco Mattoso, numa associação perfeita entre o roteirista Glauco e o quadrinhista Marcatti. O traço de Marcatti caiu adequadamente ao clima "underground" das histórias de Glauco, seu desenho cada vez mais preciso chega ao ponto de quem tem seu trabalho amadurecido, onde destacam-se o próprio Glauco como caricatura e personagem e a pesquisa de campo para a composição dos cenários de suas aventuras.
AS AVENTURAS DE GLAUCOMIX, O PEDÓLATRA é um álbum primoroso que, mesmo tendo edição independente às grandes editoras, atinge um nível gráfico da melhor qualidade, sendo, ao mesmo tempo, um marco dos quadrinhos "underground" no Brasil.
[fonte: nº 5 do zine NHÔ-QUIM]
Os quadrinhos marginais, ou independentes, ou "underground" têm se caracterizado no Brasil pela sua pouca consistência temática e pela eventualidade de sua publicação. Algumas experiências foram tentadas ainda na década de 70, quando a revista GRILO introduziu no país os trabalhos de um dos maiores artistas deste gênero nos Estados Unidos: Robert Crumb, com seus personagens contestadores ao sistema capitalista e levantando a polêmica sobre assuntos malditos à época, como drogas e sexo livre. "Mr Natural" e "Fritz, the cat" influenciaram decisivamente autores nacionais como Angeli, autoconfesso fanático pelo trabalho de Crumb.
As publicações alternativas brasileiras enveredaram por outro caminho, na urgência de se contrapor ao regime ditatorial imposto pelos militares. Os quadrinhos e cartuns aproximavam-se mais da charge, levantando questões políticas que mais tocavam nossa sociedade. Os quadrinhos de costumes eram praticamente inexistentes até o final dos anos 70, quando houve uma virada de perspectiva com a abertura política e novos horizontes passaram a ser almejados por nosso humor gráfico.
Os quadrinhos acompanharam essa mudança de rumo fomentando trabalhos como CHICLETE COM BANANA, de Angeli, "O Condomínio" e "Piratas do Tietê", de Laerte, entre inúmeros novos quadrinhistas que semearam seu espaço na grande imprensa e nas publicações alternativas.
Vem da imprensa alternativa a experiência mais marcante quanto à temática "underground" nos quadrinhos. Com um traço personalíssimo, abusando do preto, com figuras grotescas e abordando toda a escatologia abominada pela sociedade, Marcatti começou a editar suas próprias revistas no início dos 80, a distribuí-las e vendê-las de mão em mão, à moda dos poetas marginais da "geração mimeógrafo". Dono de sua própria gráfica — uma pequena máquina offset — Marcatti usou de toda liberdade
para editar títulos pouco convencionais como LODO, MIJO, PÂNTANO, e fazer histórias escabrosas onde sexo se misturava com toda espécie de sujeira, mas sem cair no "moralismo edificante". O despudor e falta de preconceito de Marcatti era o que mais chocava em suas revistas que, aos mais incautos, se tornavam um libelo repugnante.
Num outro prisma a cultura escatológica vinha sendo explorada por Glauco Mattoso, poeta "marginal", ensaísta e editor dos memoráveis folhetos JORNAL DOBRABIL e REVISTA DEDO MINGO. Glauco, como Marcatti, vinha na contracorrente da imprensa alternativa, que cada vez mais foi-se tornando digerível pela sociedade. Temáticas que se pode chamar extravagantes, ou mesmo pouco convencionais, como tortura, trote estudantil, poesia marginal, fazem parte do universo dos trabalhos de Glauco, que chegam ao refinamento quando partem para assuntos mais indigestos como a associação de sexo com perversão. Foi a partir de sua própria experiência que ele editou, em 1986, um livro que tornou-se polêmico pela ousadia de sua proposta. O MANUAL DO PEDÓLATRA AMADOR: AVENTURAS & LEITURAS DE UM TARADO POR PÉS conta as investidas do autor no que ele chamou de "massagem linguopedal". Através de panfletos distribuídos em pontos estratégicos de São Paulo, Glauco oferecia-se para desafogar as frustrações de diversos segmentos da sociedade, como policiais, halterofilistas, skatistas e toda sorte de pessoas com recalques, através de sua massagem. A proposta consistia em lamber os pés de homens, desde que estivessem bem sujos e fedorentos, numa síntese de humilhação e prazer para o massageador, de prepotência e prazer para o massageado. Este tipo de perversão, por mais escabrosa que possa parecer, seduziu centenas de pessoas, de adolescentes a pais de família, numa demonstração de que as fantasias humanas são mais surpreendentes do que se possa imaginar.
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De resto, a importância de GLAUCOMIX não passaria despercebida no exterior, embora desdenhada por panelinhas locais devido ao preconceito homófobo. Em 1998 o magazine italiano BLUE solicitou os direitos de publicação da série, que sairia em capítulos a partir do número 98, de junho de 1999, sob o título geral IL PEDOLATRA, em versão do também cartunista Roberto Battestini. O heterônimo de GM Pedro, o Podre, à italiana, passou a ser Pedro, il Pùtrido, e a primeira HQ, "inimiguinhos de infância", recebeu o título "Nemichetti d'infanzia".
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Eis o texto introdutório assinado por Battestini:
Se qualcuno conosce la canzone "Língua" inserita da Caetano Veloso nell'album VELÔ alzi la mano (o il piede) ... Quella canzone l'há scritta il grande cantante di Baia in onore dello spirito satirico di Mattoso, l'autore dei testi di questo fumetto podofilo e scatologico finora inedito in Italia. Mattoso non scrive solo per i fumetti, è uno dei maggiori autori satirici paulisti, scrittore, poeta e giornalista.
Sia ben chiaro: Mattoso ha più personalità, ne è cosciente, le ama e le chiama per nome: Pedro (il nome del Mattoso scrittore, quello serio) e Pudro (che in portoghese significa "putrido, schifoso"). Pudro è lo pseudonimo usato dall'autore quando parla il Mattoso più intimo, quello che ci svela le sue pedestri perversioni mettendole alla luce del sole (o delle suole). E dal 1990 ce le fa anche vedere, grazie alla sporca 'pudra' penna di Marcatti, altro brasiliano dal tratto fortemente underground, ricco di rimandi a Crumb e Shelton... largo allora alle confes/perver/sioni di questo autore, alla sua vitalità e alla sua voglia di affrontare a pie' fermo la ruvidezza della vita (e della lingua). Un'ultima nota da traduttore prima di lasciarvi alla lettura di questo assaggio: in brasiliano "bunda" significa culo, sedere, Bunda... sembra latino... immaginate una frase in latinorum alla Renzo Tramaglino: "bunda abundat in ore maialorum"... non è bello? Che ricchezza di senso assume questa parola in brasiliano... vuoi mettere con "culo", una parola così incompleta... "cu" è un secco sparo, anale e asfittico; "lo" svacca un po', ma rende tardivamente giustizia a una parte anatomica che meriterebbe più attenzione da parte dei linguisti, forse addirittura un neologismo. La prima storia che vi proponiamo è un inedito del gennaio 1990: "Nemichetti d'infanzia". Questa storia (come le altre del volume GLAUCOMIX O PEDÓLATRA) è un adattamento del libro MANUAL DO PEDÓLATRA AMADOR, pubblicato da Mattoso nel 1986. Tra le lettere indignate giunte alla redazione della FOLHA DA TARDE —
un'importante quotidiano brasiliano — dopo la pubblicazione di un ampio servizio all'uscita del libro di Mattoso citiamo quella di un paulista doc che ha un solo rammarico: il grande Mattoso ha dimenticato il piede di Pelé! Non temete, altre storie fatte con i piedi "abundano"!
Sia ben chiaro: Mattoso ha più personalità, ne è cosciente, le ama e le chiama per nome: Pedro (il nome del Mattoso scrittore, quello serio) e Pudro (che in portoghese significa "putrido, schifoso"). Pudro è lo pseudonimo usato dall'autore quando parla il Mattoso più intimo, quello che ci svela le sue pedestri perversioni mettendole alla luce del sole (o delle suole). E dal 1990 ce le fa anche vedere, grazie alla sporca 'pudra' penna di Marcatti, altro brasiliano dal tratto fortemente underground, ricco di rimandi a Crumb e Shelton... largo allora alle confes/perver/sioni di questo autore, alla sua vitalità e alla sua voglia di affrontare a pie' fermo la ruvidezza della vita (e della lingua). Un'ultima nota da traduttore prima di lasciarvi alla lettura di questo assaggio: in brasiliano "bunda" significa culo, sedere, Bunda... sembra latino... immaginate una frase in latinorum alla Renzo Tramaglino: "bunda abundat in ore maialorum"... non è bello? Che ricchezza di senso assume questa parola in brasiliano... vuoi mettere con "culo", una parola così incompleta... "cu" è un secco sparo, anale e asfittico; "lo" svacca un po', ma rende tardivamente giustizia a una parte anatomica che meriterebbe più attenzione da parte dei linguisti, forse addirittura un neologismo. La prima storia che vi proponiamo è un inedito del gennaio 1990: "Nemichetti d'infanzia". Questa storia (come le altre del volume GLAUCOMIX O PEDÓLATRA) è un adattamento del libro MANUAL DO PEDÓLATRA AMADOR, pubblicato da Mattoso nel 1986. Tra le lettere indignate giunte alla redazione della FOLHA DA TARDE —
un'importante quotidiano brasiliano — dopo la pubblicazione di un ampio servizio all'uscita del libro di Mattoso citiamo quella di un paulista doc che ha un solo rammarico: il grande Mattoso ha dimenticato il piede di Pelé! Non temete, altre storie fatte con i piedi "abundano"!
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CLICK IN L'IMMAGINE PER ALLARGARE
A fonte dos textos foi o site oficial do Glauco Mattoso, muito bem organizado, por sinal. Como facilitou a montagem do post! Geralmente, estou acostumada a costurar enormes colchas de retalhos por dificuldades na pesquisa de informação a respeito de determinados autores, neste caso foi uma delícia de fazer...
OBRIGADA GLAUCO, POR ESSE TRABALHO DE IMENSA QUALIDADE!
Bem, eu tenho aqui na minha coleção As aventuras do Glaucomix...só peço um pouco de paciência, pois estou planejando scannear. É claro, se alguém quiser colaborar e deixar um link pra esse trabalho nos comentários, será muito bem-vindo!
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11 comentários:
Queria parabenizar a matéria sobre Glauco Mattoso. Realmente ficou um resumo interssante do trabalho desse grande artista, numa perspectiva mais visual do que nunca. Gostei muito, muito mesmo! Já havia lido todo o site do GM e essa abordagem aqui ficou excelente, principalmente a quem quer conhecê-lo. Gostaria muito que postassem a Glaucomix. Sou pesquisadora e estou tentando reunir todas as obras do Mattoso.
Parabéns pelo trabalho!
Ana Paula
ela tá postada, favor acessar esse link
http://enochhaym.blogspot.com/2008/09/glauco-mattoso-ii-as-aventuras-de.html
grata, volte sempre
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