"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

sábado, 12 de julho de 2008

Exterior


Por que a poesia tem que se confinar?
às paredes de dentro da vulva do poema?
Por que proibir à poesia
estourar os limites do grelo
da greta
da gruta
e se espraiar além da grade
do sol nascido quadrado?

Por que a poesia tem que se sustentar
de pé, cartesiana milícia enfileirada,
obediente filha da pauta?
Por que a poesia não pode ficar de quatro
e se agachar e se esgueirar
para gozar
– carpe diem! –
fora da zona da página?

Por que a poesia de rabo preso
sem poder se operar
e, operada,
polimórfica e perversa,
não pode travestir-se
com os clitóris e balangandãs da lira?

Waly Salomão
..
1943 (Jequié-Bahia) – † 2003 (Rio de Janeiro)

“Eu me sinto miscigenado – já que sou filho de uma sertaneja com sírio, mas sou também mixigenado nas técnicas de poesia. Para mim não é só um veio literário, tem outros registros em que estou antenado, que me dizem coisas sobre o mundo e compõem minha poesia. Por exemplo, cinema: Godard, Roberto Rosselini, Eisenstein, Glauber, Julio Bressane, Rogério Sganzerla, John Ford, Fritz Lang. Ou teatro de Brecht. São diferentes coisas que eu pego, jornal, por exemplo.
Eu tinha uma visão muito copiada, macaqueada de Baudelaire. Repetia muito uma frase dele: o jornal como tecido de horrores. O jornal pode ser inspirador. Tenho poemas novos, ainda não publicados, que foram a partir de jornal. Um, chamado “Saques,” foi a partir de uma matéria da “Folha de São Paulo”. Vou misturando coisas. Vi no cinema caras saindo de um supermercado, numa situação semelhante a do incêndio que teve há pouco tempo no Ceasa. Isso me mobilizou muito, as antenas ficaram acesas.
Penso que um poeta vivendo nos tempos de hoje tem que estar atento a essas coisas. Então, vi um homem puxando um carro de tração humana com um bocado de coisas que acabava de saquear – em vez de um burro, ou coisa assim, era ele que puxava. Eu me lembrei de um filme japonês chamado “O homem do riquixá”.””

“Eu sempre tenho medo de pomposidade. Acho que a função da poesia não pré-existe ao que você vai fazendo no mundo. O que não se pode aceitar é um mundo constituído e anti-poético e o poeta ficar em um nicho. Tem que abrir brechas, mixigenar. Mesmo que volte para casa como um animal abatido, “um animal ferido”, sem reciprocidade, sem retorno, sem nada. Você tem que continuar batendo nos diversos lugares."


"Tem que ser corajoso e estar sempre experimentando.”

Leia essa entrevista na íntegra no
Jornal Poesia Viva, nº 24

Nenhum comentário: