"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Miles Davis 69 – Live at Salle Pleyel, Paris + Live at the Blue Coronet, New York


Miles e Betty em sua casa, Nova York, 1969
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“Me lembro quando fomos tocar na Europa, no fim do verão de 1969, depois de concluírmos Bitches Brew. Topei com Bill Cosby e sua mulher, Camille. Nós tocávamos em Antibes, acho, e Bill estava lá de férias. Ele veio ao espetáculo, e depois fomos todos a uma boate. Bill e Camille dançavam na pista. Betty (Davis, parceira de Miles na época) também dançava com um cara francês, muito doidona. Camille usava um lindo macacão de renda branca cheio de buracos, como uma rede de basquete. Enquanto dançavam, Betty, saltando desembestada pela pista, enfiou o salto dos sapatos nos buracos das pernas do macacão de Camille e rasgou-o feio. Nem tomou conhecimento. Quando descobriu, pediu desculpas e tudo, e eu disse a Bill que pagaria o prejuízo, mas os dois nem quiseram ouvir falar nisso, pois diziam que fora sem querer e sentiam pena de Betty. Mas eu sabia que Betty estava perdendo o controle demais, e aquela merda me causou um vexame do caralho.
Sabe, Betty era jovem e doida demais pro que eu esperava de uma mulher. Estava acostumado a mulheres calmas, avançadas, elegantes, como Francês ou Cicely, que sabiam se virar em qualquer tipo de situação. Mas Betty era um espírito livre – talentosa pra caralho – roqueira e malandra, acostumada a outro tipo de coisa. Era safada e tudo, toda sexo, mas eu não sabia disso quando a conheci- e acho que se soubesse não teria dado muita atenção. Mas fazia coisas desse tipo, e da outra coisa eu já começava a ficar simplesmente cheio.

Depois que deixamos Bill e Camille, fomos a Londres ver Sammy Davis Jr., que estava lá estreando Golden Boy. Também vi Paul Robeson; procurava visitá-lo sempre que ia a Londres, até que ele voltou pros Estados Unidos. Eu andava com pessoas de muita classe, mas Betty não se sentia à vontade com esse tipo de gente. Só gostava de roqueiros, o que é legal, mas eu sempre tive muitos amigos não músicos, e Betty não sabia como tratá-los, o que nos afastava um do outro.
Mais tarde, em Nova York, conheci uma linda espanhola que queria ir pra cama comigo. Fui à sua casa e ela me disse que Betty andava saindo com seu namorado. Quando lhe perguntei quem era ele, ela me respondeu:
- Jimi Hendrix.
Era uma loura linda, do caralho. Tirou as roupas, e tinha um corpo que não admitia demoras. Mas eu apenas disse:
- Se Betty quer trepar com Jimi Hendrix, isso é lá com ela, e eu não tenho nada a ver com isso, nem tem nada a ver comigo e você.
Ela disse que, se Betty fodia com seu homem, ela ia foder comigo.
- Eu não gosto disso – respondi. – Não trepo com ninguém por coisas desse tipo. Se vc trepar comigo, tem de fazer isso porque quer, não porque Betty está trepando com Jimi.

Ela vestiu as roupas e apenas conversamos. Cara, o que eu tinha dito a deixou baratinada. Era muito bonita e estava acostumada a ver os homens se atropelarem atrás dela. Mas eu não era desse tipo e nunca fui. O fato de uma mulher ser bonita não significa nada pra mim, e nunca significou; sempre tive belas mulheres. Para que eu as curta, precisam ter também alguma coisa na cabeça e pensar em outra coisa além da própria beleza.
Depois disso, minha relação com Betty foi ladeira abaixo. Depois de lhe dizer o que sabia sobre ela e Jimi Hendrix, pedi o divórcio – disse a ela que ia me divorciar. Ela disse:
- Nããão, não vai, não. Eu sou bonita, e você sabe que não vai querer perder este pedaço!
- Ah, ééé? Bem, sua puta, eu vou me divorciar, e já mandei preparar os documentos, portanto é melhor assinar, se sabe o que é bom pra você.
Ela assinou, e isso foi o fim.
Betty e eu nos separamos em 1969, mas como as coisas já vinham muito ruins entre nós, eu começara a sair com duas belas e grandes mulheres que tiveram ambas um grande impacto em minha vida: Marguerite Eskridge e Jackie Battle. As duas eram mulheres verdadeiramente espirituais, ligadas em comida natural e coisas assim. Ambas eram tranqüilas, mas mulheres muito fortes, com grande confiança em si mesmas. Além disso, pessoas muito legais, que não se ligavam em mim por eu ser um astro, mas porque gostavam mesmo de mim. Betty, bela fisicamente, não tinha confiança em si mesma como pessoa. Era uma groupie de alta classe, muito talentosa, mas sem fé no próprio talento. Jackie e Marguerite não tinham esse tipo de problema, e por isso eu me sentia relaxado com elas.

Vi Marguerite pela primeira vez na platéia de um de meus concertos e mandei alguém lhe dizer que gostaria de falar com ela, tomar uns drinques com ela. Era numa boate em Nova York, talvez a Village Gate ou a Village Vanguard. Início de 1969. Marguerite foi uma das mulheres mais lindas que já vi. Começamos a sair juntos. Mas ela me queria só pra si, queria uma relação exclusiva. Eu tinha de manter minha relação com Jackie na moita, pra ela não saber. Saímos irregularmente durante cerca de quatro anos. Durante algum tempo, ela teve um apartamento no meu prédio, na Rua 77 Oeste. Mas realmente não gostava da vida de músico, com todas aquelas boates, álcool e drogas. Eu era boêmio demais pra ela. Ela era realmente tranqüila, e vegetariana, e de Pittsburgh também, como Betty. Cara, Pittsburgh tem belas mulheres. E Marguerite tinha vinte e quatro anos quando nos conhecemos. Uma mulher verdadeiramente linda, você sabe, morena, alta, uma pele linda, lindos olhos e cabelos. Um corpo sensacional. Ficamos juntos cerca de quatro anos, ela é mãe de meu filho caçula, Erin.
Estava comigo no Brooklin, em outubro de 1969. Acabávamos de tocar no Blue Coronet Club, e eu levara Marguerite de carro pra casa, lá no Brooklin mesmo (ela ainda não se mudara pro apartamento em meu prédio). Estávamos diante da casa dela, conversando e se amassando – sabe como é, coisa de namorados – em meu carro, quando encosta um carro no meu com três caras pretos. A princípio eu não pensei em nada, achei que era apenas gente que vira o espetáculo e queria me cumprimentar.
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Live at the Blue Coronet, New York, 21- 29 June 1969
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1. This (10:46)
2. Agitation (16:53)
3. No Blues (15:49)
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"The Quintet was booked at the Coronet June 21-29, and again in October (probably October 6-12). The later engagement ended early when Davis was shot after the October 8 performance. According to one report, 'Miles Davis had appeared at the Blue Coronet Club October 8, finishing his last set on the morning of October 9. He drove back to New York with the lovely Marguerite Eskridge, 24, as a passenger. He pulled up in front of her house on 141 E. 13th St. at 4:30, when a cab drove up alongside the car and someone inside fired. One of the bullets grazed Davis' side. The young woman was not injured.' After being treated at the hospital, Davis was booked for possession of marijuana. As a result, the remaining shows at the Blue Coronet were cancelled. The Quintet was also booked at Boston's Jazz Workshop (October 13-16), but these shows may have been canceled as well.
Based on the titles performed and the playing, it is likely that these tunes are from the early summer 1969, a very busy time for the Davis Quintet." (
Review by…???)


Mas quando menos esperava, ouvi os tiros e senti a ferroada no flanco esquerdo. O cara deve ter disparado cinco tiros contra mim, mas eu usava um blusão de couro meio folgadão. Não fosse esse blusão de couro e o fato de terem atirado através de uma Ferrari reforçada, eu estaria morto. Fiquei tão espantado que nem tive tempo de ter medo. Nenhuma das balas pegou em Marguerite, e fiquei feliz por isso, mas a coisa quase a mata de medo.
Entramos, eu chamei a polícia e eles vieram – dois caras brancos – e revistaram MEU carro, embora fosse eu quem tinha levado os tiros. Depois disseram ter encontrado um pouco de maconha no carro e nos levaram pra delegacia. Mas nos soltaram sem fazer acusações, porque não tinham provas.
Ora, todo mundo que me conhece sabe que nunca curti maconha, jamais gostei de fumá-la. Eles simplesmente não gostaram de ver um cara negro num carro estrangeiro caríssimo, com uma mulher tão bonita. Não souberam o que pensar. Quando olharam minha ficha, acho que viram que eu era músico e tivera problemas com drogas no passado, por isso tentaram me empurrar alguma coisa só de farra. Talvez achassem que conseguiriam uma promoção dando um flagrante num negro famoso. Fora EU quem chamara a polícia; se estivesse com a droga em cima, teria me livrado dela antes deles chegarem. Não sou tão louco assim.
Ofereci uma recompensa de 5 mil dólares por qualquer informação sobre quem atirara em mim. Poucas semanas depois, estava sentado num bar do subúrbio, quando apareceu um cara e disse que o cara que atirara em mim fora morto por alguém que não gostara do que ele fizera comigo. Não sei o nome do cara que me contou isso, nem ele me disse o nome do pistoleiro que estaria morto agora. Só sei que o cara me contou, e jamais tornei a vê-lo depois disso.

Mais tarde descobri o motivo: alguns empresários negros do Brooklyn não estavam gostando que os empresários brancos pegassem tantos contratos. Quando eu toquei no Blue Coronet naquela noite, eles acharam que eu estava sendo um babaca por não entregar a programação aos empresários negros.
Ora, eu simpatizo com os negros discriminados. Mas ninguém me dissera nada, e lá estava um cara tentando me matar por alguma coisa da qual eu não sabia. Cara, a vida é uma merda às vezes. Durante algum tempo depois disso, eu levava um soco inglês a toda parte, até ser preso cerca de um ano depois em Manhattan por não ter o adesivo de registro no carro, e o soco inglês caiu de minha bolsa quando a polícia me revistou. Eu admito que não tinha adesivo no carro, e que o carro nem estava registrado. Mas os tiras no carro-patrulha não podiam ver isso do outro lado da rua, quando deram a volta e se aproximaram.
Também aqui, o motivo de pararem e voltarem era que eu estava em minha Ferrari vermelha, usando um turbante, calças de pele de cobra e casaco de pele de carneiro, com uma mulher realmente linda – creio que era Marguerite de novo – diante do Plaza Hotel. Os dois caras brancos que viram isso provavelmente me acharam com cara de traficante, e por isso voltaram. Desnecessário dizer que, fosse eu uma pessoa branca sentada naquela Ferrari, eles teriam ido cuidar de sua vida.”


“Miles Davis – a Autobiografia”, por Miles e Quincy Troup
pp 222 a 269


Salle Pleyel, Paris – November, 03/11/1969

First Set
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Músicos:
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Miles Davis - trumpet
Wayne Shorter - soprano/tenor saxophone
Chick Corea - electric piano
Dave Holland - bass, electric bass
Jack DeJohnette – drums

Músicas:
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1. Directions (8:00) [Joseph Zawinul]
2. Bitches Brew (14:14) [Miles Davis]
3. Paraphernalia (13:22) [Wayne Shorter]
4. Riot (2:23) [Herbie Hancock]
5. I Fall in Love Too Easily / Sanctuary (2:06/4:06) [S.Cahn, J. Styne / Wayne Shorter, Miles Davis]
6. Miles Runs the Voodoo Down (19:26) [Miles Davis]
7. The Theme (:42) [Miles Davis]

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“ Neste álbum há performances arrebatadoras de Jack Dejohnette com uma bateria quase-sempre "barulhenta", enquanto Chick Corea aplica "nuances" com acordes bem dissonantes ou improvisos quase como um free jazz ao piano elétrico. Além disso tem aqueles improvisos "loucos" do Shorter que também parece evocar, por alguns minutos, o free. Este disco se caracteriza também pela presença de Dave Holland as vezes improvisando arranjos vanguardistas com o arco ou num pizzicato agitado e contrapontístico. Enfim, a "pegada" aqui já é fusion, mas há improvisos bem interessantes que por ora parecem evocar as dissonâncias e a livre improvisação do free jazz. “ (Resenha e álbum by Jazzman)

. Second Set
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1. Introduction
2. Bitches Brew (M. Davis)
3. Agitation (M. Davis)
4. I Fall in Love Too Easily
5. Sanctuary (W. Shorter-M. Davis)
6. Masqualero (W. Shorter)
7. It's About That Time (M. Davis)

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Um comentário:

woody disse...

O q vc me pede chorando eu faço sorrindo, aliás é so pedir, não precisa nem chorar pra um pedido seu ganhar o meu sorriso!
Olha aí em cima o post q vc pediu!

Bjs,
Woody