Quando Jack Johnson concluiu esse feito histórico, a América assistiu a diversos conflitos raciais com demonstrações de orgulho negro, assim como a raiva da maioria branca que se autodenominava superior, física e mentalmente falando. De acordo com Randy Roberts, autor de uma biografia a respeito de Johnson, "nunca antes um evento causou tantos tumultos. Até o assassinato de Martin Luther King Jr., nenhum outro evento traria reação similar".
A verdade é que Johnson gostava de chocar e era desafiador. Dirigia automóveis rápidos e caros, mantinha relação com mulheres brancas e também com prostitutas, dominava com fluência três idiomas, o inglês, o francês e o espanhol, e, além de tudo isso, tocava baixo. Ou seja, Jack Johnson saía, perigosamente, do caminho que um negro deveria seguir na sociedade americana racista da época.
Jeffrey Sammons, autor de Beyond the Ring - The Role of Boxing in American Society, comenta: "(...) A maioria dos brancos o via como uma ameaça à ordem social estabelecida para a civilização anglo-saxã, e eles estavam empenhados na sua destruição como um poderoso ícone negro. Tentativas de tirá-lo de circulação através de novas leis fracassaram em sua maioria, mas o governo dos Estados Unidos estava silenciosamente usando
as leis existentes para criar um caso que o removeria de seu curso e daria um exemplo a todos os negros que saíssem do caminho estabelecido".
E foi em meio a esse rebuliço que Miles Davis criou uma de suas mais memoráveis obras: The Jack Johnson Sessions
The Jack Johnson Sessions, álbum de 1970, dedicado ao primeiro negro a conquistar o título mundial de boxe na categoria pesos pesados, é uma homenagem à base de jazz, com muita influência r&b.Esse álbum surgiu um ano após Bitches Brew, um dos mais revolucionários e também mais vendidos álbuns de jazz de todos os tempos. Na época, Miles Davis estava, principalmente, sob influência da música de Jimi Hendrix, que fazia seu rock com levada soul, ao lado de Buddy Miles (bateria) e Billy Cox (baixo), formando a Band of Gypsys.
Foi então que Davis sentou-se com Jack DeJohnette (baterista) em sua Lamborghini e foram dar uma volta. Durante o percurso colocou no toca-fitas um tape de Buddy Miles, deixou rolando e ficou sem dizer nada, como contou DeJohnette: “Miles tinha a sua maneira de mostrar as coisas sem dizer uma única palavra”. Quando, então, DeJohnette perguntou: “Você quer que eu toque esse groove com a minha técnica, não é isso?” Miles abriu um grande sorriso e disse: “Yeah!”.
Como grande apreciador da arte do boxe, Miles costumava treinar com freqüência e acompanhava ao vivo todas as lutas que podia.
Era um dos que costumavam relacionar o jazz ao boxe. Uma vez lhe perguntaram se, quando tocava, pensava como um boxeur. Ele respondeu que o boxe é uma forma de arte. Quando Sugar Ray Robinson (famoso boxeador da época) dava um golpe seguido por uma combinação de socos, comprovava que sabia o que vinha depois, para poder se antecipar. Com a banda de Miles acontecia o mesmo. Toda nota que o trompetista tocava era uma preparação para a próxima.
O improviso, principal ingrediente do jazz, é o que o gênero tem de mais belo. E a ligação entre o modo de lutar e o de tocar tem suas semelhanças. Isso se expressa nas combinações, nos recuos, no tempo de reação, e principalmente, na improvisação.
Assim como os boxeadores, os músicos são treinados para serem rápidos, automáticos, para pensar, ouvir e reagir com destreza, e saber a nota que se encaixa melhor. Os notáveis fazem isso
de forma instintiva e extremamente sensível. Isso é o que os diferencia.
Quando se trata de Miles Davis, tudo se encaixa na última nota tocada, é como jab, jab, jab e depois o golpe principal.
Como grande apreciador da arte do boxe, Miles costumava treinar com freqüência e acompanhava ao vivo todas as lutas que podia.
Era um dos que costumavam relacionar o jazz ao boxe. Uma vez lhe perguntaram se, quando tocava, pensava como um boxeur. Ele respondeu que o boxe é uma forma de arte. Quando Sugar Ray Robinson (famoso boxeador da época) dava um golpe seguido por uma combinação de socos, comprovava que sabia o que vinha depois, para poder se antecipar. Com a banda de Miles acontecia o mesmo. Toda nota que o trompetista tocava era uma preparação para a próxima.
O improviso, principal ingrediente do jazz, é o que o gênero tem de mais belo. E a ligação entre o modo de lutar e o de tocar tem suas semelhanças. Isso se expressa nas combinações, nos recuos, no tempo de reação, e principalmente, na improvisação.
Assim como os boxeadores, os músicos são treinados para serem rápidos, automáticos, para pensar, ouvir e reagir com destreza, e saber a nota que se encaixa melhor. Os notáveis fazem isso
de forma instintiva e extremamente sensível. Isso é o que os diferencia.
Quando se trata de Miles Davis, tudo se encaixa na última nota tocada, é como jab, jab, jab e depois o golpe principal.
“Durante o resto de 1951 e a primeira parte de 1952, vivi num denso nevoeiro, o tempo todo doidão e explorando mulheres por dinheiro pra sustentar o vício. A certa altura, tinha todo um curral de putas nas ruas trabalhando pra mim. Vivia entrando e saindo de hotéis. Mas não era como as pessoas pensam que é; essas mulheres queriam alguém pra ficar com elas, e gostavam de ficar comigo. Eu as levava a jantar e essa coisa toda. A gente fazia sexo também, mas não muito, porque a heroína tira o desejo sexual. Eu simplesmente tratava uma prostitua como qualquer outra pessoa. Respeitava-as e elas em troca me davam dinheiro pra eu me drogar. As mulheres me achavam bonito, e pela primeira vez na minha vida comecei a achar o mesmo. Éramos mais como uma família que qualquer outra coisa. Mas mesmo o dinheiro que elas me davam não chegava. Eu ainda me via duro.
Em 1952, eu sabia que tinha de fazer alguma coisa pra me livrar das drogas. Sempre gostara de boxear, e achei que podia me meter nessa. Se treinasse todo dia, talvez pudesse tentar seriamente me livrar do vício. Já conhecera Bobby McQuillen, treinador no Gleason’s Gym, no centro de Manhattan. Quando eu ia lá, a gente conversava sobre boxe. Ele fora um grande lutador de peso meio-médio até matar um cara no ringue, quando largou a profissão e passou a treinar lutadores. Um dia – acho que foi no início de 1952 – eu lhe perguntei se queria me treinar. Ele prometeu pensar no caso.
Em 1952, eu sabia que tinha de fazer alguma coisa pra me livrar das drogas. Sempre gostara de boxear, e achei que podia me meter nessa. Se treinasse todo dia, talvez pudesse tentar seriamente me livrar do vício. Já conhecera Bobby McQuillen, treinador no Gleason’s Gym, no centro de Manhattan. Quando eu ia lá, a gente conversava sobre boxe. Ele fora um grande lutador de peso meio-médio até matar um cara no ringue, quando largou a profissão e passou a treinar lutadores. Um dia – acho que foi no início de 1952 – eu lhe perguntei se queria me treinar. Ele prometeu pensar no caso.
Gleason’s Gym, lugar onde treinavam
Fui a uma luta no Madison Square Garden, e depois voltei ao camarin de Bobby, pra saber se ele ia me treinar ou não. Bobby me olhou com um ar verdadeiramente enojado e me disse que não ia ser treinador de nenhum viciado. Aí eu lhe disse que não era viciado – eu ali ligadão pra caralho, quase cochilando de tão ligado. Ele disse que eu não o enganava, que devia voltar pra East St. Louis e tentar largar o vício. Aí me mandou sair do camarin e dar um jeito em minha vida.
Ninguém jamais me falara assim antes, ainda mais sobre meu vício. Cara, Bobby me fez sentir um merda. Eu vivia com músicos que usavam drogas ou não, mas não diziam nada sobre os que usavam. Por isso, ouvir uma merda dessa foi demais, cara.Quando eu era viciado em drogas, os donos de boate me tratavam como se eu fosse um lixo, e o mesmo faziam os críticos. Agora, em 1954, quando me sentia cada vez mais forte e limpo da heroína, achava que não tinha de tolerar mais merda nenhuma deles. Era uma sensação no fundo da mente, e não algo que eu soubesse que sentia ou pensava. Tinha em mim muita raiva, por coisas que me haviam acontecido nos últimos quatro anos; quase não confiava em mais ninguém, e acho que isso tinha algo a ver com minha atitude. Quando íamos tocar nos lugares, eu me mostrava frios com os filhos da puta; me pague que eu toco. Não estava pra puxar o saco de ninguém, nem dar aquela de sorrisinhos pra ninguém. Parei até de anunciar músicas nessa época, porque achava que não era o nome que importava, mas a música que tocávamos. Se conheciam a música, por que tínhamos de anunciá-la? Deixei de falar com a platéia porque eles não vinham me ouvir falar, mas ouvir a música que eu tocava.
Fui a uma luta no Madison Square Garden, e depois voltei ao camarin de Bobby, pra saber se ele ia me treinar ou não. Bobby me olhou com um ar verdadeiramente enojado e me disse que não ia ser treinador de nenhum viciado. Aí eu lhe disse que não era viciado – eu ali ligadão pra caralho, quase cochilando de tão ligado. Ele disse que eu não o enganava, que devia voltar pra East St. Louis e tentar largar o vício. Aí me mandou sair do camarin e dar um jeito em minha vida.
Ninguém jamais me falara assim antes, ainda mais sobre meu vício. Cara, Bobby me fez sentir um merda. Eu vivia com músicos que usavam drogas ou não, mas não diziam nada sobre os que usavam. Por isso, ouvir uma merda dessa foi demais, cara.Quando eu era viciado em drogas, os donos de boate me tratavam como se eu fosse um lixo, e o mesmo faziam os críticos. Agora, em 1954, quando me sentia cada vez mais forte e limpo da heroína, achava que não tinha de tolerar mais merda nenhuma deles. Era uma sensação no fundo da mente, e não algo que eu soubesse que sentia ou pensava. Tinha em mim muita raiva, por coisas que me haviam acontecido nos últimos quatro anos; quase não confiava em mais ninguém, e acho que isso tinha algo a ver com minha atitude. Quando íamos tocar nos lugares, eu me mostrava frios com os filhos da puta; me pague que eu toco. Não estava pra puxar o saco de ninguém, nem dar aquela de sorrisinhos pra ninguém. Parei até de anunciar músicas nessa época, porque achava que não era o nome que importava, mas a música que tocávamos. Se conheciam a música, por que tínhamos de anunciá-la? Deixei de falar com a platéia porque eles não vinham me ouvir falar, mas ouvir a música que eu tocava.
Muita gente me achava distante, e eu era. Mas acima de tudo não sabia em quem confiar. Era desconfiado, e essa era a parte de minha atitude que muita gente via; esse retraimento a me dar com as pessoas que eu não conhecia. E por causa de meu vício anterior, também tentava me proteger não entrando em contato muito estreito com muita gente. Mas o pessoal que me conhecia bem sabia que eu não era como os jornais me descreviam.
Eu convencera Bobby McQuillen de que estava suficientemente limpo pra que ele me aceitasse como aluno de boxe. Ia ao ginásio em toda oportunidade que tinha, e ele me ensinava. Me treinou duro. Nos tornamos amigos, mas ele era sobretudo meu treinador, porque eu queria aprender a boxear com ele.
Bobby e eu íamos juntos às lutas e treinávamos no Gleason’s Gym, no centro, ou no Silverman’s Gym, que ficava no Harlem, na Rua 116 com Oitava Avenida (que hoje se chama Frederick Douglass Boulevard, acima da Rua 110), no quarto ou quinto andar de um prédio de esquina. Sugar Ray costumava treinar lá, e quando aparecia todo mundo parava o que estivesse fazendo pra vê-lo.Bobby conhecia bem o giro, que é como chamo o girar dos quadris e das pernas quando se golpeia o adversário. Quando a gente faz isso ao golpear, tem mais poder no soco. Bobby era como o treinador de Joe Louis, Blackburn, que ensinou Joe a dar o giro quando batia. Joe podia derrubar o adversário com um único soco. Por isso acho que Bobby devia ter aprendido com Joe, porque os dois se conheciam e eram ambos de Detroit.
Eu sabia o que Keith tocava antes dele se juntar a mim, e também sabia até onde ele podia ir. Antes de vir, ele odiava instrumentos elétricos, mas mudou de idéia em meu conjunto. Além disso, aprendeu a se expandir e a tocar em
estilos diferentes. Entrou no estúdio com o conjunto em maio, e depois caímos na estrada.
Eu agora tentava tocar a música com quem fora criado, aquela coisa de hospedaria, honky tonky, funky, que as pessoas dançam nas noites de sexta e sábado. Mas aqueles eram músicos acostumados a tocar um estilo de jazz, pros quais aquilo era uma novidade. As coisas demoram, você sabe, não se aprende simplesmente algo novo da noite pro dia. A coisa tem que entrar no corpo, no sangue, pra que possa fazê-la corretamente. Mas eles estavam chegando lá, e por isso não me preocupava.”
(De sua Autobiografia, pp 124, 125, 154 a 156, 276, 277)
The Complete Jack Johnson Sessions (1970)
Eu convencera Bobby McQuillen de que estava suficientemente limpo pra que ele me aceitasse como aluno de boxe. Ia ao ginásio em toda oportunidade que tinha, e ele me ensinava. Me treinou duro. Nos tornamos amigos, mas ele era sobretudo meu treinador, porque eu queria aprender a boxear com ele.
Bobby e eu íamos juntos às lutas e treinávamos no Gleason’s Gym, no centro, ou no Silverman’s Gym, que ficava no Harlem, na Rua 116 com Oitava Avenida (que hoje se chama Frederick Douglass Boulevard, acima da Rua 110), no quarto ou quinto andar de um prédio de esquina. Sugar Ray costumava treinar lá, e quando aparecia todo mundo parava o que estivesse fazendo pra vê-lo.Bobby conhecia bem o giro, que é como chamo o girar dos quadris e das pernas quando se golpeia o adversário. Quando a gente faz isso ao golpear, tem mais poder no soco. Bobby era como o treinador de Joe Louis, Blackburn, que ensinou Joe a dar o giro quando batia. Joe podia derrubar o adversário com um único soco. Por isso acho que Bobby devia ter aprendido com Joe, porque os dois se conheciam e eram ambos de Detroit.
Johnny Bratton também fazia isso. Sugar Ray também sabia do giro. Era um desses movimentos que os grandes boxeadores usavam quando lutavam.
É um movimento que a gente tem de praticar repetidas vezes, até pegar bem, até que se torna quase um ato reflexo, instintivo. É como praticar num instrumento musical; a gente tem de continuar praticando, sempre e sempre e sempre. Muita gente me diz que eu tenho mente de boxeador, que penso como um boxeador, e provavelmente é mesmo. Acho que sou uma pessoa agressiva no que é importante pra mim, como quando se trata de tocar ou fazer o que eu quero fazer. Eu brigo, fisicamente, por dá cá aquela palha, se acho que alguém me prejudicou. Sempre fui assim.
O boxe é um ciência, e eu adoro ver lutas entre dois caras que sabem o que fazem. Como quando a gente vê um lutador disparar um jab na cara do adversário. Se o cara se esquiva, se movendo pra
direita ou a esquerda, a gente precisa saber pra que lado ele vai se mover, e lançar o golpe no momento em que ele desvia a cabeça, pra que ela entre na linha do golpe já disparado. Isso é ciência e precisão, e não uma merda de uma agressão corporal, como as pessoas dizem.
Assim, Bobby me ensinava o estilo de Johnny Bratton, porque esse era o estilo que eu queria saber.
O boxe tem estilo, como a música. Joe Louis tinha um estilo, Ezzard Charles tinha um estilo, Henry Armstrong tinha um estilo, Johnny Bratton tinha um estilo, e Sugar Ray Robinson também – como também Muhammed Ali, Sugar Ray Leonard, Marvelous Marvin Hagler, Michael Spinks, e mais tarde Mike Tyson. O estilo tapa-olho de Archie Moore era um barato.Mas é preciso ter estilo no que quer que se faça – literatura, música, pintura, moda, boxe, tudo. Alguns estilos são elegantes, criativos, imaginativos e inovadores, e outros não.
É um movimento que a gente tem de praticar repetidas vezes, até pegar bem, até que se torna quase um ato reflexo, instintivo. É como praticar num instrumento musical; a gente tem de continuar praticando, sempre e sempre e sempre. Muita gente me diz que eu tenho mente de boxeador, que penso como um boxeador, e provavelmente é mesmo. Acho que sou uma pessoa agressiva no que é importante pra mim, como quando se trata de tocar ou fazer o que eu quero fazer. Eu brigo, fisicamente, por dá cá aquela palha, se acho que alguém me prejudicou. Sempre fui assim.
O boxe é um ciência, e eu adoro ver lutas entre dois caras que sabem o que fazem. Como quando a gente vê um lutador disparar um jab na cara do adversário. Se o cara se esquiva, se movendo pra
direita ou a esquerda, a gente precisa saber pra que lado ele vai se mover, e lançar o golpe no momento em que ele desvia a cabeça, pra que ela entre na linha do golpe já disparado. Isso é ciência e precisão, e não uma merda de uma agressão corporal, como as pessoas dizem.
Assim, Bobby me ensinava o estilo de Johnny Bratton, porque esse era o estilo que eu queria saber.
O boxe tem estilo, como a música. Joe Louis tinha um estilo, Ezzard Charles tinha um estilo, Henry Armstrong tinha um estilo, Johnny Bratton tinha um estilo, e Sugar Ray Robinson também – como também Muhammed Ali, Sugar Ray Leonard, Marvelous Marvin Hagler, Michael Spinks, e mais tarde Mike Tyson. O estilo tapa-olho de Archie Moore era um barato.Mas é preciso ter estilo no que quer que se faça – literatura, música, pintura, moda, boxe, tudo. Alguns estilos são elegantes, criativos, imaginativos e inovadores, e outros não.
O estilo de Sugar Ray Robinson era tudo isso, e ele foi o lutador mais preciso que já vi. Bobby McQuillen me contou que Sugar Ray Robinson armava quatro ou cinco armadilhas pro adversário em cada round, nos primeiros dois ou três rounds, só pra ver como ele reagia. Tentava alcançá-lo, e ficava fora de alcance, pra medir o outro e nocauteá-lo, e o cara nem sabia o que estava acontecendo até que, PAM!, se via contando estrelas. Depois, com outro, ele batia forte no flanco – PAM! – depois de fazê-lo errar uns dois jabs. Podia fazer isso no primeiro round. E aí fustigava o otário no alto da cabeça, depois de atingi-lo duro oito ou nove vezes de lado. Podia golpeá-lo duro quatro ou cinco vezes no alto da cabeça. Depois passava a bater duro nas costelas e voltava à cabeça. Assim, no quarto ou quinto round, o otário não sabia o que ele faria em seguida. Além disso, a essa altura já estava com a cabeça e as costelas doendo mesmo.
Não se aprende esse tipo de coisa naturalmente. É algo que alguém nos ensina, como quando se ensina alguém a tocar corretamente um instrumento musical. Depois que a gente aprende a tocar o instrumento de modo correto, pode deixar isso pra lá e tocar do jeito que quiser, do jeito como ouve a música e o som e quer tocá-los. Mas primeiro é preciso aprender a ter calma e deixar o que quer que aconteça – tanto na música como no boxe – acontecer. Dizzy e Bird me ensinaram isso na música; e também Monk, Ahmad Jamal e Bud Powell.
Não se aprende esse tipo de coisa naturalmente. É algo que alguém nos ensina, como quando se ensina alguém a tocar corretamente um instrumento musical. Depois que a gente aprende a tocar o instrumento de modo correto, pode deixar isso pra lá e tocar do jeito que quiser, do jeito como ouve a música e o som e quer tocá-los. Mas primeiro é preciso aprender a ter calma e deixar o que quer que aconteça – tanto na música como no boxe – acontecer. Dizzy e Bird me ensinaram isso na música; e também Monk, Ahmad Jamal e Bud Powell.
Na primavera de 1970, gravei o disco Jack Johnson, trilha musical do filme sobre a vida desse
boxeador. A música se destinava originalmente ao baterista Buddy Miles, mas ele não apareceu pra pegá-la. Quando compus essas músicas, freqüentava o Gleason’s Gym pra treinar com Bobby McQuillen, que agora se chamava Robert Allah (se tornar muçulmano). Seja como for, eu tinha os movimentos desse boxeador em mente, aquele jogo de pés dos boxeadores. São quase passos de dança, ou como o som de um trem. Na verdade, eu me lembrava de uma viagem de trem a cento e vinte quilômetros por hora, a gente ouvindo sempre o mesmo ritmo, com a velocidade das rodas tocando nos trilhos, o plop-plop, plop-plop das rodas passando pelas juntas. Tinha essa imagem de trem na cabeça quando pensava num grande boxeador como Joe Louis ou Jack Johnson. Quando se pensa num grande peso pesado vindo pra cima da gente, é como um trem.A questão seguinte em minha mente era: Bem, a música é suficientemente negra, tem um ritmo negro, pode-se fazer do ritmo de um trem uma coisa negra, Jack Johnson dançaria com isso?
boxeador. A música se destinava originalmente ao baterista Buddy Miles, mas ele não apareceu pra pegá-la. Quando compus essas músicas, freqüentava o Gleason’s Gym pra treinar com Bobby McQuillen, que agora se chamava Robert Allah (se tornar muçulmano). Seja como for, eu tinha os movimentos desse boxeador em mente, aquele jogo de pés dos boxeadores. São quase passos de dança, ou como o som de um trem. Na verdade, eu me lembrava de uma viagem de trem a cento e vinte quilômetros por hora, a gente ouvindo sempre o mesmo ritmo, com a velocidade das rodas tocando nos trilhos, o plop-plop, plop-plop das rodas passando pelas juntas. Tinha essa imagem de trem na cabeça quando pensava num grande boxeador como Joe Louis ou Jack Johnson. Quando se pensa num grande peso pesado vindo pra cima da gente, é como um trem.A questão seguinte em minha mente era: Bem, a música é suficientemente negra, tem um ritmo negro, pode-se fazer do ritmo de um trem uma coisa negra, Jack Johnson dançaria com isso?
Porque Jack Johnson gostava de festas, de se divertir e de dançar. Uma das músicas, intitulada “Yesternow”, foi batizada por James Finney, meu cabeleireiro – e de Jimi Hendrix também. Seja como for, a música se encaixa perfeitamente no filme. Mas quando saiu, o disco foi enterrado. Nenhuma promoção. Um dos motivos, creio, é que era música dançante. Tinha muita coisa que os roqueiros faziam, e acho que não queriam um músico negro de jazz fazendo aquele tipo de música. Além disso, os críticos não sabiam o que dizer. Por isso a Columbia não o promoveu. Muitos artistas do rock ouviram o disco e não se pronunciaram em público, mas me procuraram pra dizer que tinham adorado. No início de 1970, gravei “Duran”, e achei que tinha faturado um sucesso, mas a Columbia só o lançou bem mais tarde, em 1981. “Duran” recebeu este nome em homenagem a Roberto Duran, o grande campeão panamenho de boxe.No início do verão, eu tinha Chick Corea e Keith Jarrett no piano elétrico em meu conjunto fixo, e o que eles tocavam era realmente do caralho. Estavam juntos no grupo há três ou quatro meses. Keith tinha seu próprio grupo quando tocava comigo, mas isso não interferia, porque mantínhamos nossas agendas separadas pra podermos tocar em ambas. Acho que a idéia dos dois pianos não caiu bem com Chick, embora ele nunca me falasse nada pessoalmente.
Eu sabia o que Keith tocava antes dele se juntar a mim, e também sabia até onde ele podia ir. Antes de vir, ele odiava instrumentos elétricos, mas mudou de idéia em meu conjunto. Além disso, aprendeu a se expandir e a tocar em
estilos diferentes. Entrou no estúdio com o conjunto em maio, e depois caímos na estrada.
Eu agora tentava tocar a música com quem fora criado, aquela coisa de hospedaria, honky tonky, funky, que as pessoas dançam nas noites de sexta e sábado. Mas aqueles eram músicos acostumados a tocar um estilo de jazz, pros quais aquilo era uma novidade. As coisas demoram, você sabe, não se aprende simplesmente algo novo da noite pro dia. A coisa tem que entrar no corpo, no sangue, pra que possa fazê-la corretamente. Mas eles estavam chegando lá, e por isso não me preocupava.”
(De sua Autobiografia, pp 124, 125, 154 a 156, 276, 277)
The Complete Jack Johnson Sessions (1970)
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Disc 1
1 Willie Nelson (Take 2)(#) (6:42)
2 Willie Nelson (Take 3)(#) (10:22)
3 Willie Nelson (Insert 1)(#) (6:33)
4 Willie Nelson (Insert 2)(#) (5:24)
5 Willie Nelson (Remake Take 1)(#) (10:45)
6 Willie Nelson (Remake Take 2) (10:18)
7 Johnny Bratton (Take 4)(#) (8:18)
8 Johnny Bratton (Insert 1)(#) (6:39)
9 Johnny Bratton (Insert 2)(#) (5:20)
10 Archie Moore (#) (4:44)
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1 Willie Nelson (Take 2)(#) (6:42)
2 Willie Nelson (Take 3)(#) (10:22)
3 Willie Nelson (Insert 1)(#) (6:33)
4 Willie Nelson (Insert 2)(#) (5:24)
5 Willie Nelson (Remake Take 1)(#) (10:45)
6 Willie Nelson (Remake Take 2) (10:18)
7 Johnny Bratton (Take 4)(#) (8:18)
8 Johnny Bratton (Insert 1)(#) (6:39)
9 Johnny Bratton (Insert 2)(#) (5:20)
10 Archie Moore (#) (4:44)
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Disc 2
1 Go Ahead John, Pt. 1 (#) (13:08)
2 Go Ahead John, Pt. 2A (#) (7:01)
3 Go Ahead John, Pt. 2B (#) (10:06)
4 Go Ahead John, Pt. 2C (#) (3:39)
5 Go Ahead John, Pt. 1 (Remake)(#) (11:06)
6 Duran (Take 4)(#) (5:38)
7 Duran (Take 6) (11:21)
8 Sugar Ray (#) (6:16)
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1 Go Ahead John, Pt. 1 (#) (13:08)
2 Go Ahead John, Pt. 2A (#) (7:01)
3 Go Ahead John, Pt. 2B (#) (10:06)
4 Go Ahead John, Pt. 2C (#) (3:39)
5 Go Ahead John, Pt. 1 (Remake)(#) (11:06)
6 Duran (Take 4)(#) (5:38)
7 Duran (Take 6) (11:21)
8 Sugar Ray (#) (6:16)
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Disc 3
1 Right Off (Take 10) (11:10)
2 Right Off (Take 10A)(#) (4:34)
3 Right Off (Take 11)(#) (5:59)
4 Right Off (Take 12)(#) (8:50)
5 Yesternow (Take 16)(#) (9:51)
6 Yesternow (New Take 4)(#) (16:04)
7 Honky Tonk (Take 2)(#) (10:06)
8 Honky Tonk (Take 5)(#) (11:29)
1 Right Off (Take 10) (11:10)
2 Right Off (Take 10A)(#) (4:34)
3 Right Off (Take 11)(#) (5:59)
4 Right Off (Take 12)(#) (8:50)
5 Yesternow (Take 16)(#) (9:51)
6 Yesternow (New Take 4)(#) (16:04)
7 Honky Tonk (Take 2)(#) (10:06)
8 Honky Tonk (Take 5)(#) (11:29)
Disc 4
1 Ali (Take 3)(#) (6:50)
2 Ali (Take 4)(#) (10:16)
3 Konda (#) (16:32)
4 Nem Um Talvez (Take 17)(#) (2:51)
5 Nem Um Talvez (Take 19)(#) (2:50)
6 Little High People (Take 7)(#) (6:53)
7 Little High People (Take 8)(#) (9:29)
8 Nem Um Talvez (Take 3)(#) (4:38)
9 Nem Um Talvez (Take 4A) (2:05)
10 Selim (Take 4b) (2:17)
11 Little Church (Take 7)(#) (3:18)
12 Little Church (Take 10) (3:15)
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1 Ali (Take 3)(#) (6:50)
2 Ali (Take 4)(#) (10:16)
3 Konda (#) (16:32)
4 Nem Um Talvez (Take 17)(#) (2:51)
5 Nem Um Talvez (Take 19)(#) (2:50)
6 Little High People (Take 7)(#) (6:53)
7 Little High People (Take 8)(#) (9:29)
8 Nem Um Talvez (Take 3)(#) (4:38)
9 Nem Um Talvez (Take 4A) (2:05)
10 Selim (Take 4b) (2:17)
11 Little Church (Take 7)(#) (3:18)
12 Little Church (Take 10) (3:15)
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Disc 5
1 Mask, Pt. 1 (#) (7:48)
2 Mask, Pt. 2 (#) (15:47)
3 Right Off (26:53)
4 Yesternow (25:34)
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1 Mask, Pt. 1 (#) (7:48)
2 Mask, Pt. 2 (#) (15:47)
3 Right Off (26:53)
4 Yesternow (25:34)
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peso-pesado Jack Johnson e James Jeffries em 04/07/1910,
quando Johnson manteve o título em uma luta de 15 rounds.
Observação: Vocês não tem idéia do enorme prazer que foi montar este post e compartilhar estas lindas pérolas que amo tanto!!!
2 comentários:
Sou grande fã de Miles Davis.
E adoro o "Kind of Blue". Provavelmente o CD que mais ouvi nesta vida.
Obrigado pela oportunidade de ampliar um pouco mais o horizonte sobre este grande músico.
abraços!
:)
Como disse no seu blog, até terça pretendo postar outro box cheio de extras dele.
Obrigada por sua presença, também sou apaixonada pela música de Miles.
Abraços, paz e felicidades!
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