"O inimigo mais perigoso que você poderá encontrar será sempre você mesmo." ( Friedrich Nietzsche )

domingo, 16 de setembro de 2007

Cartola – Documento Eldorado

.Meus agradecimentos ao Marcelo, que contribuiu com o álbum.

01. Que Sejam Benvindos 03:54
02. Autonomia 03:02
03. Acontece 03:39
04. Senões 03:55
05. O Inverno do Meu Tempo 04:43
06. Que Sejas Bem Feliz 02:33
07. De-me Graças, Senhora 04:52
08. Quem Me Vê Sorrindo 03:44
.

“Esse lp contém um depoimento de Cartola e mais oito obras-primas que ele mesmo canta, acompanhando-se ao violão.
É a reprodução de um programa com o fundador da Mangueira na Rádio Eldorado de São Paulo, pouco antes de sua morte.
Foi a última vez que Cartola entrou num estúdio de gravação. Ele estava feliz com um novo disco, mas já era visível o abatimento provocado pela doença que o mataria meses depois.
Quis poupá-lo de uma conversa demasiadamente inquiridora e cansativa. Pedi que ele próprio escolhesse as músicas e as comentasse rapidamente, durante a gravação. Tudo transcorreu como um encontro de boteco. Conversa, violão e conhaque. Mas Cartola falou mais do que a encomenda e, graças a isso, podemos agora apresentar este documento inédito. O que Angenor de Oliveira diz nessa conversa musicada já é mais ou menos sabido pelos estudiosos da nossa canção popular, porém acho importante que também seja conhecido pelo ouvido comum. Até brinquei com ele no papo: “Vou te fazer uma pergunta originalíssima, de onde vem esse apelido de Cartola?”
É que todo repórter jovem, ao entrevistá-lo , começava desse jeito. Essa e outras respostas entretanto, perderam-se em publicações efêmeras de jornal. Agora, registradas por ele mesmo em disco, soam como um registro importante, levam ao grande público alguns traços básicos de biografia. São informações prestadas pela fonte mais confiável, o próprio biografado. Só quando fala na idade de suas músicas, Cartola não é muito exato. O samba “Quem me vê sorrindo” nasceu antes de 1940 e neste depoimento, prestado em fins de 1979, ele calculou ‘vinte ou trina anos’.
Este disco é um auto-retrato falado, onde aparecem, dissimuladas, rugas que marcam sua vida. Cartola não era uma pessoa queixosa, ressentida, como tantas que habitam o território da arte.
Aqui fala sem amargura das vicissitudes que o obrigaram a vender direitos a intérpretes famosos (Chico Alves, por exemplo).
Do tardio aparecimento em disco próprio. Da paciência com que enfrentou a obscuridade até quase o final da existência.
E, entre outras revelações, afirma sua curiosa preferência pelo samba canção. Participei do lançamento do lp de estréia do Cartola, na ‘Discos Marcus Pereira’. Eu era diretor artístico da gravadora e o produtor João Carlos Bozelli (Pelão) procurou-me num bar, certa noite de 1974, para sugerir o trabalho. Fiquei empolgado. Bozelli, com o seu exagero peninsular, implorou dramaticamente a produção imediata do disco. Respondi, lembrando a renúncia de Jânio Quadros, que estávamos bebendo e não era aquele um momento adequado para uma decisão histórica. Adiei a resposta para o dia seguinte, quando falei com Marcus e, juntos, decidimos lançar aquele famoso primeiro lp.
Agora, estou escrevendo esta nota de apresentação para o último lp, um disco sem divisão de faixas, arranjos orquestrais, convenções. Um disco original, simples e bom como o velho Cartola.” (Do encarte)

2 comentários:

Sr do Vale disse...

De repente, Neide em sua ansia de arte e magia, tira da cartola, Cartola.
Um cara que penou, lavando carros, e vivendo de sub empregos, pra poder ter o que comer, um homem com a cara igual a de muitos brasileiros, que vivem a vida, com todo peso de uma sociedade com padrões econômicos, mal distribuidos, mas vivem cantando, e por ser artista, não autointitulado, mas um simples artista, que pode ver a alvorada, entre fiascos das paredes de barracos.
Cartola ainda teve sua chance, mas e os outros, muitos outros, que nem sequer chegaram a ser conhecidos, a não ser por algum amigo, que mal pode elogiar suas criações.
São cantadores, pintores, escultores, visionários, cientistas, curandeiros, músicos, poetas, escritores, filósofos, andarilhos.
São todos aqueles, que como Cartola, vivem a ouvir as rosas...
Mas as rosas não falam.

Neide disse...

Obrigada pelo belo comentário. Tenho o prazer de ter vários destes andarilhos como amigos, sendo que pretendo mostrar alguns por aqui ainda, no campo de desenho e pintura...hoje mesmo encontrei com um deles à tarde, e estou combinando para scanear suas telas e mostrar aqui...

Beijos, do Vale, você é sempre bem-vindo!